4. A CHEGADA

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OLHANDO POR cima do ombro, Claudia avistou a abertura se fechando atrás deles. Engoliu em seco, mas logo seus olhos se concentraram no céu de tom acinzentado acima deles que, embora não houvesse nenhum sol, lançava um brilho opaco sobre tudo dando uma aparência subterrânea ao ambiente.

Seu olhar se desviou para o lago do tamanho de um oceano que se estendia diante dela e de Jonas. Patos faziam vibrar suas plumas para sacudir as gotas de água que molhavam suas asas. As aguas eram densas e negras, quase oleosas. Não havia árvores próximas da margem e além do lago, um grande contorno de montanha envolta de uma nevoa lançava sua enorme sombra sobre tudo. O ar estava frio, contudo, suportável.

— Nossa!— exclamou Claudia.— Nunca vi um lugar assim. E agora, Jonas?— ela perguntou, hipnotizada por tudo à volta.

Ele ficou ainda mais imóvel. Os olhos dele encontraram com os de Claudia através dos óculos. Não havia medo no olhar dela, e o rapaz se perguntou por que.

— Por que acha que eu saberia onde estamos ou pra onde devemos ir?— ele suspirou, frustrado com o rumo dos acontecimentos, em seguida recomeçou em um tom mais controlado e racional:— Daniel me disse pra aguardar que iriamos nos encontrar.— ele falou devagar e com clareza. Tarde demais para se conter.— Claudia, portais sendo abertos no meu quarto não era o combinado. Por isso é uma surpresa pra mim, tanto quanto pode ser pra você, ter sido puxado pra cá. Muito legal, por sinal.— estava sendo irônico, que droga. Seus pais valorizavam o controle acima de tudo e Jonas foi ensinado a sufocar suas reações. E no momento estava sendo uma desgraça naquilo.

Isso não podia, não iria, acontecer. Jonas parou, fechou os olhos esfregando a testa e tentando retomar o controle de suas emoções.

— Que seja. Temos que encontrar ajuda.— as palavras de Claudia despertou Jonas de seus pensamentos e ele abriu os olhos. Ela tinha pegado seu celular de um dos bolsos da mochila e pressionou varias teclas antes de franzir a testa.— Meu celular está sem serviço.

— O que mais você tem aí dentro dessa mochila?— Jonas perguntou.

Antes que ela desse uma resposta, contudo, perceberam que o nível da agua estava aumentando rapidamente, engolindo seus pés. Jonas olhou ao redor.

— O que está acontecendo?— perguntou ele.

— Uma giganta fazendo xixi.— respondeu Claudia.

— Uma o quê?— perguntou Jonas.

— Lá.— ela apontou para a montanha.

Apertando os olhos por trás dos óculos Jonas observou além da nevoa da montanha. Na verdade, percebeu com mais atenção, o contorno da suposta montanha era o corpo maciço e pétreo da giganta. Ela era tão alta quanto o King Kong, seu rosto estava além da visão deles, talvez em algum lugar da atmosfera. A saia estava levantada até as coxas, aparentemente estava mesmo urinando.

— É nojento.— murmurou Claudia jogando o celular dentro da mochila.

Jonas não soube dizer o que mais o surpreendeu: saber que poderiam se afogar no xixi de uma giganta no caminho deles ou perceber que Claudia não mostrou asco ou horror pela cena. Reagiu ao mais importante: procurar uma forma de saírem dali.

Impossível, concluiu, a giganta era tão grande que até darem a volta nela já estariam submersos no xixi e o lago era do tamanho de um oceano.

— Teodoro pode se transformar em algum pássaro grande? — Jonas tirou os óculos e guardou-os no bolso interno do blazer do uniforme olhando a agua agora na altura do seu peito.

— Em nenhum animal grande.— respondeu ela agarrando o gato.— Mas posso nos levantar pelos ares.

— Quê?

As Crônicas Darwich - Sombra de Loki (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora