5. CONVERSA DE BRUXOS

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— ESSE FILHO da...

Claudia se interrompeu ao perceber que estava livre. Teodoro os tinha seguido e, em forma de rato, terminara de roer suas amarras. Ela olhou para a giganta, distraída, sovando e abrindo uma massa, provavelmente de torta, ao qual ela e Jonas seriam o recheio, em algum lugar do outro lado da mesa colossal.

Ela tirou o canivete de dentro da mochila molhada e se arrastou em direção com o rato Teodoro a seguindo.

— Não sei se todos os gigantes são com essa, — ela sussurrou abrindo a lâmina do canivete em um movimento ágil, antes de cortar as cordas dos pés de Jonas enquanto Teodoro roeu as cordas dos pulsos dele.— mas eu achei essa daí bem burrinha.

Descer da mesa com Claudia usando o elemento do ar foi a parte fácil. Quando chegaram lá embaixo, Jonas começou a encarar a coisa toda com outros olhos. Para eles alcançarem o peitoral da janela e fugirem teriam que andar quilômetros de distancia. Ou podiam arriscar Claudia usar seu poder para voarem e serem vistos pela giganta. Não gostou de nenhuma das opções. Em qualquer uma delas, a giganta não demoraria a notar o desaparecimento deles.

Jonas pegou seus óculos dentro do bolso do blazer; as lentes estavam rachadas. Claudia apanhou os óculos dele, sussurrou um feitiço e os devolveu, como se fossem novo.

— Vamos.— ela murmurou.

Seguiram pelo piso coberto de migalhas de comida, poeira e outras sujeiras. Os cabelos suados de Jonas estavam grudados na testa, e, o suor aflorava por toda sua pele. O calor vindo da imensa lareira era sufocante, a ponto de obriga-lo a se livrar de seu blazer do uniforme, abrir os primeiros botões da camisa suja de terra e fumaça e dobrar suas mangas até o cotovelo.

Encontravam-se ali havia menos de um dia e a aparência dele já estava desleixada como nunca estivera antes.

— Agora eu sei qual foi a sensação que o João sentiu depois que subiu no pé de feijão.— murmurou Claudia prendendo os cabelos num coque displicente e passando o antebraço pela testa para limpar o suor. A aparência dela não estava melhor que a dele.— Sabe, eu queria entender pra que Daniel pediu os frascos com o pó de chifre de...

Ela reprimiu um gemido ao trombar com Jonas quando ele parou de repente.

~~~

Regina pendia de cabeça para baixo, o rosto vermelho. Uma corrente conectada ao teto envolvia um de seus tornozelos.

De pé ao lado dela, Arthur olhava para ela e sorria. Ele tinha a mesma aparência de sempre: o cabelo loiro, o corpo gordo, os grandes olhos azuis, porém seu olhar agora transmitia algo duro e sinistro.

— Como você tá se sentindo?— perguntou ele com um sorriso sádico, dando um empurrão nela, que balançou para frente e para trás.

Esquecendo a fome que flagelava seu estomago Regina sentiu a raiva percorrer suas veias como endorfina, mas ela precisava continuar respirando lenta e vagarosamente. Quem sabe por quanto tempo estava ali. Seu corpo, entretanto, a estava traindo. Regina estava ficando enjoada e tonta. Sua visão turvava-se e sentia sua pressão caindo. Naquele ritmo ela perderia a consciência a qualquer momento. Mal tinha consciência do aposento ao seu redor agora. A iluminação fraca, o chão de concreto.

Em meio a tudo aquilo, o rosto dela contraiu-se.

— É melhor me matar.— arquejou.— Porque, se não me matar, eu juro que mato você, Arthur.

Ela foi baixada e mergulhou em um contêiner repleto de agua turva. Arthur voltou a erguê-la alguns metros acima.

— Por que eu mataria você, Regina, quando tenho tantas outras opções? — ele continuava sorrindo, a voz debochada.— Não vai levar muito tempo até você implorando pela oferta do Zacarias.

As Crônicas Darwich - Sombra de Loki (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora