10. NÃO SE LUTA CONTRA ZUMBIS

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—ESSA É mesmo a melhor maneira de chegarmos em Utgard?

Thialfi ignorou Claudia e entrou no navio atracado no píer apodrecido. Jonas o seguiu, puxando Grani pelo passadiço, mas ela permaneceu no píer, com as mãos na cintura e uma expressão de frustração e asco diante da aparência desleixada e deteriorada da nau. O navio era uma antiga embarcação com jeito de séculos de idade com casco surrado, convés cheio de furos e pintura descascada. Eles iriam afundar no meio do mar.

— Vai entrar ou não?— perguntou Jonas, virando-se para olhar para ela.

Ela permaneceu parada, no mesmo lugar, Teodoro aos seus pés em forma de gato.

—Claudia! Entra na merda do barco!— gritou Thialfi, sem paciência.— ANDA!

Ela bufou, ajeitou a mochila no ombro e subiu no passadiço, aceitando a mão estendida de Jonas resmungando sobre homens em geral.

Não demorou e eles zarparam.

A embarcação não proporcionava nenhum conforto, pouca privacidade e nada de camas. As cabines tinham redes presas à parede, cada uma com cobertores ásperos que iriam compartilhar com a tripulação. As lâmpadas e as redes balançavam com força com o movimento do navio, para os lados.

Claudia viu uma rede num canto que parecia não ter dono e jogou a mochila nela. Ela espiou através da portinhola suja. Do lado de fora, o céu opaco mal se distinguia das águas cinzentas. O mar não estava congelado, mas o ar estava frio e alguns flocos de neve caiam. Mais além a cadeia de montanhas cobertas de neves. Era lá que ficava Utgard e quanto mais perto da cidade, mas frio ficaria. Apesar daquelas montanhas parecerem próximas, Thialfi garantiu que era uma jornada longa e Grani, mesmo podendo voar, se cansaria da viagem.

Ele aceitou ser o guia dos dois em troca da manopla Járngreipr ganhada na disputa com os gigantes.

Claudia retocou a maquiagem e arrumou os cabelos crespos. Eles estavam sempre escovados e bem cuidados, mas não desde que chegaram a jotunheim. Então os arrumou em um coque e fez o caminho até Jonas e Thialfi torcendo para ela ou Teodoro não passar mal com o balanço do navio.

Como não avistou seu familiar por perto, ela supôs que ele estivesse metido em algum canto caçando ratos- o que, certamente, pelo estado e condições do navio, deveria ter aos montes.

— Ainda estou cheio de fome...— foi o que ela ouviu de Thialfi logo que se aproximou dos dois.

— Precisamos conversar, Thialfi.— disse Claudia o vendo colocar a mão na sua bolsa e tirar metade de uma maçã e uma fatia de queijo que pegara do banquete dos gigantes.— Começar pelo principio.

— Você quer saber como Grani e eu fomos parar naquela janela?— ele levou à maçã a boca.

— Exato!— ela confirmou no momento em que o navio balançou com força a fazendo cambalear para frente e Jonas a segurou. Por alguns segundos, seus olhos e os deles se cruzaram, mas ele foi o primeiro a desviar:

— Se segura, Claudia.

Thialfi pigarreou. Ela e Jonas afastaram-se de modo mais digno possível.

— Eu trouxe um livro sobre mitologia nórdica e estava lendo que um dos servos de Thor se chamava Thialfi.— começou ela.— Por acaso... Você não seria ele, seria? Quero dizer, ele era mortal e já estaria morto há muito tempo...

Thialfi mordicou a maçã com seus dentes não muito retos.

— Elixir da longa vida. Thor me deu um pouco, certa vez. Pra mim acompanha-lo sempre em suas aventuras.

As Crônicas Darwich - Sombra de Loki (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora