1. VISITA INESPERADA

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JONAS PENSOU que o sono chegaria imediatamente. Havia passado da meia-noite e não conseguia dormir.

Ele tinha começado o dia em casa, já que os alunos eram liberados da Academia Vórtice nos finais de semana, como de costume. Agora estava em seu quarto, no enorme casarão. Ele tinha nascido na riqueza, era filho de Edmundo Kato, um dos Conselheiros e membro mais importante do governo magico, e enteado de Elizabeth Kato- a quem ele chamava de mãe por ter sido criado por ela desde pequeno-, que ocupava o posto de Feiticeira Real, mágica do Gabinete Militar da presidência da republica brasileira. Por sempre chegar atrasado na sua antiga escola, dormir durante as aulas e tirar notas baixas, como castigo, seus pais o colocaram na Vórtice, onde formavam feiticeiros para a FBF - Federação Brasileira de Feiticeiros- encarregados de combater feiticeiros que ameaçavam e aterrorizam o mundo.

Jonas saiu da cama, apanhou os óculos, colocou-os no rosto e deixou seu quarto caminhando em direção à cozinha. Era um recinto enorme, com piso de ônix, fogão de oito bocas, um forno de pizza de pedra apagado, uma grande ilha de granito preto. Havia uma câmara de refrigeração, um freezer, uma grossa mesa de pinho.

Ele encheu um copo de agua e foi até a copa com janelas do chão ao teto com vista para o jardim dos fundos. Jonas andou até a mesa e de repente e sem aviso, Daniel surgiu, transparente, na frente dele.

— Alô, Jonas.— ele sorria, despreocupado.

Ele caiu para trás, na cadeira derrubando seu copo no chão, onde se espatifou.

Em jeans preto, coturnos, camiseta onde se lia em grandes letras "Sith sim, Jedi não", jaqueta preta amarrada a cintura, um gorro preto cobrindo os cabelos e argolas de prata no polegar da mão esquerda, no dedo do meio e outra no polegar direito, Daniel agora tinha uma cobra e labaredas em tinta preta e vermelha tatuada no antebraço esquerdo até o pulso. Uma corrente de prata com uma aliança pendia até seu peito.

Jonas ficou olhando para a figura transparente do rapaz com vontade de perguntar se Daniel tinha morrido e se tornado um fantasma.

— Está tudo na boa, cara.— ele respondeu, antes de Jonas perguntar, a expressão divertida no rosto negro.— Eu não morri. Isto é o que chamam de Projeção Astral, ou Viagem Astral, como preferir.

Projeção Astral seria assunto para o ano seguinte na Academia, porém Jonas sabia que aquele era um feitiço que projetava o corpo físico do feiticeiro, em um corpo astral.

— Quanto tempo minha fuga já dura aí? — Daniel perguntou.

— Três horas. — respondeu Jonas se recostando na cadeira e erguendo a mão para ajeita os óculos no nariz, enquanto recuperava a compostura e a mascara de indiferença no rosto.

—Três horas, é?— Daniel coçou a sobrancelha direita, perfurada agora por um piercing, com o dedão.— Só isso?— Ele sentou-se na cadeira a frente de Jonas e descansou os cotovelos na mesa levando os dedos à frente dos lábios, perdido nos próprios pensamentos.— Que peninha... Três horas só deixa meu pai e minha madrasta preocupados, não desesperados. Onde eu estou já se passaram três meses.

— E agora você está exatamente em...?— Jonas lançou a pergunta no ar, tentando soar indiferente. Daniel estava estudando na Academia, na mesma sala dele, antes de ser tornar um criminoso fugitivo da FBF. Os dois nunca tinham sido próximos e intrigava o fato do rapaz ter feito seu corpo astral flutuar até ali.

Um sorriso surgiu no canto da boca de Daniel.

— Essa é a pergunta de um milhão, não é? O que me lembra...— ele se levantou e se espreguiçou com um grunhido exagerado.— Preciso ir.

As Crônicas Darwich - Sombra de Loki (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora