1. COMEÇO

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ELES TIVERAM a impressão que chegaram ao Parque Estadual do Jaraguá num segundo- por outro lado, de helicóptero o destino ficava a menos de meia hora.

— Chegamos. — de dentro do helicóptero de lataria escura, o emblema da Academia na lateral, a voz de mestre Silva era praticamente abafada pelas hélices.

Enquanto Sabrina descia da aeronave, observando o Pico do Jaraguá e as áreas verdes que se estendiam para a direita e a esquerda até onde os olhos podiam ver, ela ouvia os outros helicópteros pousando.

— Cadê os exércitos do Daniel? — perguntou um dos rapazes ao lado dela, seu nome era Diego Rodrigues, um primeiranista da sala de Jéssica. — Eles deveriam estar aqui, não?

Depositando a xicara de café no balcão, Helena Amorim saiu da padaria. A tarde estava clara e leve. Ela não teria o que reclamar da vida se seu enteado, Daniel, não estivesse sumido.

Helena parou no ponto de ônibus, cheio de gente. Ela olhou as ruas repletas de carros, as avenidas, os estudantes nas calçadas, imaginando onde Daniel poderia estar. Os poucos dias que havia se passado desde a fuga dele deixara ela e o marido humano, Lucas - principalmente ele- abatidos.

Quando seu coletivo chegou, muitos embarcaram. Helena subiu, passou pela roleta e ficou em pé, segurando-se ao ferro. Os lugares estavam todos ocupados e os que não estavam sentados, seguravam-se como podiam, uns nos bancos, outros de braços para cima. A musica no volumem máximo em seus fones de ouvido não era bastante para ocupar sua mente inquieta ou tornar a viagem mais curta.

E foi quando uma freada brusca do motorista a derrubou de joelhos no chão. Sobressaltada, Helena ergueu-se rapidamente notando que não foi a única a cair. Muitas outras pessoas levantavam-se aturdidas. Não houve tempo para xingamentos ou reclamações: o som de gritos, seguido a sons de uivos de lobos, chamou a atenção geral.

Pelos vidros das janelas, as pessoas viram o caos nas ruas. Homens e mulheres corriam aos berros, chamando por socorro enquanto eram perseguidas por lobos gigantes –maiores e mais altos que caminhões. Lobos Warg. Ao longe, alguns prédios estavam em chamas com fumaça negra subindo em direção ao céu. Havia veículos batidos e outros abandonados com as portas abertas.

Que diabos era aquilo?, ela pensou, sentindo o coração mais acelerado do que o normal.

Era impossível entender o que estava acontecendo, mas os passageiros já encontravam-se, aos tropeços, em um bolo de pernas e corpos, recuando para as portas e socando-as em desespero. Alguém puxou a trava de segurança de uma janela e a removeu, jogando-a para fora aos trancos, tentando escapar.

As portas foram abertas e a enxurrada de gente saiu, empurrando e sendo empurrada. Helena mergulhou na confusão, correndo, no mesmo momento em quem um dos enormes lobos empurrou o ônibus com toda a força o fazendo entrar com tudo numa loja de chocolates e doces artesanais da esquina. A condução explodiu e o incêndio fora imediato.

Pouco Helena e outros haviam corrido quando uma senhora tropeçou. A pobre mulher teve seu grito cortado ao ser alcançada e alguns de seus membros espalhados pelo asfalto com o ataque de um dos animais monstruosos.

Não houve tempo de Helena lançar nenhum feitiço. Os lobos eram rápidos demais.

O tempo pareceu desacelerar quando, em meio a gritos próximos e bolsas caídas pelo chão, um dos imensos lobos avançou na direção de Helena num repente. Institivamente, ela ergueu a mão formando um escudo circular de ar diante dela. Helena formou um domo ao seu redor e o animal e ela ficaram frente a frente, o escudo-bolha entre eles.

Ela lutou para não desfazer o escudo quando uma luz intensa, vindo da esquerda, derrubou o lobo inconsciente sobre um carro. Helena interrompeu o escudo.

— Cassandra... — ela disse ao reconhecer a mulher que se aproximava. Ela estava com um vestido lápis azul-marinho. Na mão, segura uma arma de forma estranha.

— Ele vai dormir por algumas horas... — disse a mãe de Daniel.

— Sabe o que está acontecendo? — Helena perguntou.

— Sim, e é apenas o começo. Mas precisamos sair daqui. Meu carro está logo ali. Vem.

Correram em direção ao Audi parado no meio da rua, ligado e com a chave no contato. Tão rápido quanto puderam, entraram no veiculo, e, no momento seguinte estavam partindo a toda, passando por cima de corpos sem vida que enfeitavam a rua enquanto lobos disparavam em seu encalço.

— Pra recarregar basta drenar nossas energias magicas nela. — Cassandra passou a arma de formato estranho para Helena olhando pelo retrovisor uma grande parcela da alcateia perseguindo o Audi. — Magia excedente pode chegar a matar uma dessas criaturas, mas ficamos...

— Exauridos.

~~~

Tiago Viana não se encontrava no núcleo. A agente Laura Silva falava ao telefone com o Gabinete Militar da presidência enquanto Douglas contornava a mesa com a terceira xicara de café do dia. Ao ver o noticiário informando sobre os inexplicáveis ataques aumentou o volume da TV.

... está um caos! Não se sabe como esses ataques começaram ou por que continuam. — disse o repórter, tensa, caminhando em passos apressados e seguido pelo cinegrafista — Orienta-se que aos cidadãos permaneçam em suas casas e não saiam até que recebam ordens em contrario.

Pelo vídeo tremulo, Douglas viu lobos gigantes perseguindo pessoas. Gritavam. No mesmo momento, em uma passarela sobre a rua, pessoas se dependuravam para fora da grade a fim de escapar. Algumas caíram, enquanto outras simplesmente se jogaram.

— ... Aparentemente, a situação tomou proporções mundiais. Vários países estão sofrendo os mesmo ataques.

Diversas tomadas em vários pontos do mundo mostravam alcateias de lobos gigantes atacando sem controle, cercando automóveis em movimentos.

Cortando para o estúdio, o teipe mostrou Tiago.

Como pretendem dar conta disso, delegado Viana? — questionou a ancora, dando vez para Tiago falar.

Temos o apoio do exercito brasileiro, assim como a policia humana. — o delegado falava, olhando para a câmera com determinação. — Defenderemos a nação a todo custo.

— Mas há alguma previsão sobre ajuda do Caipora? Ou mesmo de outro ser místico de nossa nação?

— Não. Tentamos contato, mas não conseguimos nada ainda. Acreditamos que eles se empenharam para encontrar uma solução do problema a maneira deles.

Soubemos que você mandou alguns agentes para a fronteira sul da cidade antes mesmo dos ataques começarem. Qual explicação para isso, delegado?

— Daniel Darwich Amorim.

A foto do rapaz apareceu na TV. No rodapé da tela, uma faixa preta exibia: Daniel Amorim ou Loki?

— Daniel Darwich Amorim nos informou sobre um ataque que aconteceria naquela região. Acreditamos que ele poderia estar mentindo, assim mesmo, como precaução, mandei alguns de meus agentes para lá. Deduzimos que por ele pensar que acharíamos que poderia ser um blefe, era capaz de haver mesmo um ataque. Pedimos que os cidadãos colaborem e façam sua parte da melhor maneira possível.



As Crônicas Darwich - Sombra de Loki (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora