undici

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O meu dia começou tarde por minha vontade, mas acabou a más horas também. Comecei a fazer o caminho desde o escritório até minha casa a pé, já que o tinha feito da mesma forma de manhã.

Gosto de andar pelas ruas calmas de Florença, tanto pela manhã, como de noite. Gosto imenso de andar pelas ruas das mais variadas cidades italianas, sinto-me sempre segura e há sempre qualquer coisa que me faz ter ideias novas e vontade de criar. Uma vez que a coleção de Outono/Inverno está prestes a ser lançada, tenho de começar a pensar na coleção de Primavera/Verão e é sempre difícil mudar o pensamento e ser original.

Passei pela Galleria degli Uffizi – Galeria dos Escritórios – notando numa enorme agitação que por lá se passava. Existem imensas luzes brancas, muitas pessoas a movimentar-se de um lado para o outro quase que a denunciar que estariam a gravar alguma coisa por ali. Será o Giulio? A verdade é que tinha falado com ele, pela última vez, há dois dias quando chegou a Florença e pouco sabia da sua permanência na cidade.

Caminhei pelas galerias, tentando aproximar-me o mais que consegui do local. Estava interdita a passagem uns bons metros antes do local onde estavam as pessoas, dando espaço a inúmeras carrinhas ali estacionadas.

- Vera – senti todo o meu corpo arrepiar-se ao ouvir a voz dele. Sentia-o muito perto de mim e, assim que me virei para ele, comprovei isso mesmo. Sorriu-me, mostrando-se surpreendido – como é que sabias que estava aqui?

- O mundo não gira… - detive-me no que ia para dizer. Não tenho de ser assim para ele, não tenho de lhe responder torto só para marcar a minha posição – desculpa.

Apenas se riu, olhando à sua volta. A roupa que ele traz vestida não combina, em nada, com o tempo que se faz sentir nesta noite. Está vestido com um fato muito elegante, uma camisa e uma gravata, tudo em preto. Trazendo, ainda, um casaco sobretudo por cima do braço… devo calcular que o filme se passará no inverno.

- Que andas a fazer por aqui?

- Eu estava a ir para casa…

- A mulher que trabalha até não aguentar mais – cruzou os braços, ficando com a cabeça ligeiramente inclinada a olhar-me – espero que vás descansar, agora.

- Sim… fui parva porque vim a pé de manhã e, agora, tenho de ir a pé outra vez – ele riu-se – vais ficar a trabalhar?

- Sim, tenho gravações o resto da noite – olhou por cima do meu ombro, voltando logo depois a olhar-me – e vou ter de ir – colocou a sua mão esquerda na minha nuca, dando-me um beijo na testa – bom descanso – passou por mim, fazendo o seu caminho ao passar as grades e caminhar até junto de outras pessoas.

O que acabou de acontecer foi muito estranho e dei por mim a caminhar na direção de minha casa a pensar nisto. Não senti, da parte dele, o mesmo entusiasmo que eu tinha por o ver; não deu para sentir qualquer sentimento bom vindo do Giulio, apenas uma certa apatia.

Deitei-me na minha cama, ficando a olhar para o teto e a lembrar-me dos seus olhos. Que mesmo que tivessem ficado presos aos meus, não me olhavam da mesma forma. E agora, como é que lhe dizes que deste o nome dele a um sapato da tua coleção? São poucas as coisas que me tiram o sono, sendo o trabalho a principal e, tudo o que está a acontecer hoje, uma das menos importantes.

Dei voltas e voltas, olhei o relógio em cima da mesa de cabeceira e liguei, vezes sem conta, o ecrã do meu telemóvel para constatar que as horas eram exatamente as mesmas que o relógio marcava. Ao estar a olhar para o teto, depois de mais uma volta, a luz do meu telemóvel acendeu. Depois de lhe pegar, reparei que era uma mensagem do Giulio.
 
Se quiseres, podemos tomar o pequeno-almoço aqui perto.
Acabo de gravar por volta das oito… posso esperar até que acordes.
 
Senti as mãos gelarem-me assim que li a mensagem, sem saber o que/se devia responder. Escondi o telemóvel no meu peito, virando-me para o lado esquerdo. São quase quatro da manhã… acho que é uma boa hora para dormir, mas deixar-lhe, também, uma mensagem.
 
Só aceito o pequeno-almoço se envolver panquecas. Bom trabalho.
 
Estou que nem aquele emoji da senhora com os braços no ar… completamente sem compreender o que raio se passou com ele há umas horas atrás e o que se está a passar neste momento. Voltei a colocar o telemóvel em cima da mesa de cabeceira, para ver se finalmente conseguia adormecer.
 
                                   ~~~~~
 
Olhei-me ao espelho, percebendo que tinha escolhido uma roupa demasiado provocadora. De forma totalmente inconsciente, mas que só o faço quando me sinto bem comigo e quero fazer com que as pessoas à minha volta percebam isso mesmo.

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