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- Sim, mãe… eu peço-lhe imensa desculpa. São coisas que acontecem, não estava mesmo a contar com este imprevisto – está, do outro lado da linha, há quase cinco minutos a criticar e protestar por só a estar a avisar agora.

Tenho 32 anos, há sete que sou independente e, mesmo assim, não me livro dos seus julgamentos e de ter horários a cumprir quando se tem de estar em família.

- A menina sabe, perfeitamente, que o seu pai gosta de jantar a horas. Nós estávamos à sua espera, Vera.

- Desculpe, eu não tive como a avisar antes – ter tinha… entre fazer uma mala, trocar de roupa para um fato de treino confortável e colocar umas sapatilhas, eu podia ter-lhe ligado. Também já lhe podia ter ligado durante estas quase quatro horas de viagem que passaram, mas foi bastante mais agradável estar à conversa com o Giulio.

- Espero que lhe corra bem a reunião, então – claro que não lhe podia dizer que estava quase a chegar a Roma para passar um fim de semana com um homem.

- Obrigada e, mais uma vez, peço imensa desculpa – desliguei a chamada, atirando o telemóvel para dentro da mala – há dias que eu não consigo ter paciência para a minha mãe e já tenho 32 anos – ele riu-se e eu acabei por colocar o banco do carro na sua posição habitual, já que há alguns quilómetros que o tinha rebaixado.

- Ela já tem quantos anos?

- Faz 65 para o mês que vem – ele olhou-me por uns instantes.

- Foi mãe com a tua idade?

- Tinha 33 quando nasci, antes de casar. Um pecado total.

- Filhos antes do casamento são pecado?

- Para a minha avó? Completamente, ainda diz várias vezes isso aos meus pais. A Amara já nasceu com eles casados, o anjinho não tem o diabo no corpo – ele riu-se à gargalhada, fazendo-me rir também.

- Estamos quase a chegar – olhei para o ecrã do GPS do seu carro, constatando que estávamos mesmo quase a chegar.

Conseguia perceber que tinha como destino final o Palazzo Manfredi, um hotel de cinco estrelas com vista direta para o Coliseu.

- É bom que não me venhas pedir para pagar metade do Manfredi, porque eu venho como convidada – acabei por me rir.

- Tinha de te trazer a um hotel decente…

- Não era preciso uma coisa tão cara, Giulio.

- No próximo pagas tu – sorri, não conseguindo dar-lhe uma resposta. Se bem que lhe devia dizer algo… caso contrário, ficará a pensar que poderão existir mais fins de semana como este.

Contudo, calei-me, observando a auto-estrada transformar-se nas pequenas ruas de Roma. Não demorou muito para que chegássemos ao hotel e, depois de retirarmos as malas da bagagem, fizemos o check-in na receção.

- Desculpe, seria possível que nos fosse entregue uma pizza pepperoni familiar no quarto a esta hora? – perguntei à senhora que nos atendia.

- Já passou a hora das refeições, mas posso pedir que seja entregue, sim – abri a minha carteira, entregando-lhe o meu cartão de crédito.

- Faça o débito neste cartão, por favor. De todos os pedidos extra aos que já estão incluídos.

- Não, não – o Giulio intrometeu-se, tentando que eu não fizesse isto.

- Por favor – insisti com a senhora que fez o que lhe pedi. Assim que nos despachámos, fomos até ao elevador subindo até ao segundo andar.

- Não tinhas de fazer isto…

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