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Respirar fundo costuma ser das coisas que faço com mais regularidade para me acalmar. Contudo, hoje é daqueles dias que nada alivia esta ansiedade dentro de mim. Saber que o telemóvel pode tocar a qualquer momento para saber o resultado dos exames... está a dar comigo em doida.

Se, em frente do Giulio e da minha irmã quis parecer calma e tranquila, ao estar aqui sozinha no meu quarto percebo o quanto tudo isto me está a afetar. Claro que tive de contar à Amara... assim que me viu quando regressei ao escritório, percebeu logo que algo se passava. O Giulio teve de ir fazer alguma coisa relacionada com o trabalho, ao qual não tomei a atenção devida para perceber do que se tratava.

Ia a olhar para as horas no meu telemóvel, quando a chamada do Lorenzo apareceu no ecrã.

- Estou? – disse, logo depois de atender.

- Não me digas que estavas agarrada ao telemóvel à espera do meu telefonema...

- Não... - ele riu-se – tens novidades para mim, portanto.

- Tenho – mudou logo o tom de voz – confirma-se o que eu te tinha dito, não estás grávida – se não é uma surpresa para mim, porque é que, de repente, estou a sentir uma certa desilusão? – mas a biopsia à massa que tens no útero revela que é um mioma, Vera – claro que é... - dado o tamanho que tem, é de estranhar que não tenhas tido queixas ultimamente. Não tiveste perdas de sangue, nem dores?

- Não... caso contrário não achava que estava grávida, não achas?

- Não comeces a atacar o mensageiro – sim, eu estava a fazer exatamente isso.

- Desculpa.

- Só desculpo porque sei que é muita coisa a assimilar – ninguém diria – mas ainda tenho mais informações para partilhar contigo.

- Uau, vamos lá. Diz logo tudo de uma vez.

- De exames estamos falados, só precisamos de ver o que é que queres fazer... - os médicos agem todos da mesma forma: largam a bomba e enchem-nos, no segundo seguinte, com todo o tipo de informação médica possível e imaginária – os miomas assintomáticos como o teu, o mais provável que aconteça é que, daqui por uns meses, desapareça. Mas isso pode atrasar qualquer possível gravidez que queiras ter...

- Lorenzo, tu sabes, melhor que ninguém, que eu não quero ser mãe...

- Pelos teus olhos no dia da consulta, não diria a mesma coisa.

- Avança, Lorenzo.

- Claro. Bem, uma vez que não queres engravidar... recomendo que repitamos os exames daqui a uns meses.

- Só isso?

- Sim... posso mudar-te o teu anticoncecional para ver se aceleramos o processo, mas é só isso.

- Não há nada que se possa fazer para o retirar logo?

- Sim, mas no teu caso não é necessário. Seria uma cirurgia em vão...

- Ok.

- Vou marcar-te nova consulta para daqui a um mês para avaliarmos a evolução do mioma – percebi que ele escrevia no computador – mas se, entretanto, começares a desenvolver sintomas como perdas de sangue, dores fortes ou se passares a ir mais à casa de banho, temos de reavaliar a situação antes dessa consulta.

- Sim senhor.

Desliguei a chamada com o Lorenzo, ficando a olhar para o teto do meu quarto. Ser confrontada com estas questões a duas semanas de fazer 33 anos, só pode ser um sinal. Um sinal de muito mau gosto, porque me faz equacionar todas as hipóteses que ainda tenho. Se quero engravidar? Não sei passou a ser a resposta, em vez de um pronto não. Porquê? Porque este tumor pode acabar com qualquer hipótese de isso acontecer.

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