Começo a achar que convidar a mãe do Giulio para ser uma das modelos a desfilar foi, mais uma vez, uma ideia muito impulsiva da minha parte. Ou então só estou nervosa porque ela é mãe do Giulio... e do Luca.
- Vera Ferruci – olhei à minha volta quando ouvi que me chamaram e o Giulio acabou por me indicar que tinha sido uma rapariga a fazê-lo.
- Sim? – caminhei um pouco na sua direção, já que ela vinha na minha e não queria, de todo, que se aproximasse do Giulio.
Por vezes esqueço-me que isto pode acontecer. Ser abordada na rua é algo a que já me habituei, mas que, graças a Deus, não acontece diariamente. Espero que não seja uma jornalista...
- Eu admiro imenso o seu trabalho... - parou junto a mim – e estou muito curiosa pela nova coleção.
- Muito obrigada... significa muito para mim – a rapariga na minha frente deve ser bem mais nova do que a Amara, mas está muito bem arranjada fazendo-a parecer mais velha.
- Eu estou a estudar moda – claro que está. Não querendo ser preconceituosa, tem todo o estilo de quem tem algo a ver com moda – adoro todas as suas coleções e a linha que tenta sempre curvar em com os modelos que cria – fico sempre sem jeito quando alguém me elogia. Quando as críticas são em papel, ou em comentários nas redes sociais, eu quase não lhes dou importância..., mas quando alguém se dirige a mim assim? Fico completamente sem jeito.
- Muito obrigada, de verdade. Está a estudar em que área? – contou-me que quer ser stylist e que tem grandes inspirações com os meus sapatos. Estava tão concentrada na conversa com ela, que só me lembrei do almoço quando o Giulio apareceu atrás dela a caminhar e dizer-me adeus – peço desculpa... qual o seu nome?
- Lola.
- Lola, eu estava completamente focada no que me estava a contar, que me esqueci que tenho um almoço marcado – acabei por me rir, abrindo a mala e retirando um dos convites que tinha para oferecer caso se desse essa situação – venha ao meu desfile – entreguei-lhe o envelope – assim conhece a coleção em primeira mão.
- A sério...?
- Claro – agarrou o envelope, sorrindo.
- Muito obrigada, Vera.
- De nada. Vemo-nos lá – ela seguiu o seu caminho e eu aproximei-me do Giulio – desculpa... eu perdi totalmente a noção do que estava a fazer – começámos a caminhar na direção do restaurante.
- Não tens de pedir desculpa. Foi um momento muito querido.
- Acho que me fazes mal – disse-lhe, olhando-o ao meu lado. Não gosto nada de estar mais pequena do que ele – fico demasiado querida para todas as pessoas...
- E a culpa é minha, porquê?
- Não sei... mas alguma coisa me andas a fazer – acho que não preciso de ser muito mais direta para lhe dar a entender algumas coisas.
Felizmente, ou não, chegámos ao restaurante e a conversa não teve qualquer hipótese de continuar. Mas outra iria começar... para a qual eu não estava nada preparada.
- Ela está ali – apontou para o fundo da sala, recebendo um aceno por parte da mãe. Inconscientemente, ou não, agarrei a mão dele quando começámos a ir na direção da mãe – mamma – assim que ela se levantou, soltei-o para que a pudesse abraçar – tudo bem? – perguntou, olhando-a – como correu a viagem?
- Correu muito bem, já tinha saudades de Florença – tinha-me predisposto a ir ter com ela a Roma, onde vive, mas o Giulio diz que ela insistiu em vir a Florença para passear um pouco. Olhou-me por largos segundos, voltando depois a olhar para o Giulio.
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SOLO PER LA NOTTE
RomanceVera, uma das mais conceituadas designers de calçado em Itália, é uma mulher independente, cheia de garra e determinação. Aos 32 anos vive um dos melhores momentos da sua vida, focada no seu trabalho. Vera não aspira ser mãe, casar ou constituir fam...