O conselho supremo

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As relações comerciais e diplomáticas entre Brasil e EUA retornaram ao normal com a ascensão de Peter Lones na Presidência. A partir daí o romance entre as duas nações se fortaleceu, quando era chegada a hora de colocarem em prática o plano final: implantar o governo virtual nos EUA, tal como no Brasil. A população aceitou com humildade e unanimidade, após a realização de inúmeros e gigantescos eventos. Com as Américas sob controle, restava convencer os outros continentes, mas o mundo islâmico, certamente demoraria a aceitar misturar-se com os ocidentais.  

Após breve viagem por aqueles países, Yuri viu-se em maus lençóis com aquele povo. Manter o Ocidente e nações orientais sob a mesma orientação religiosa e cultural seria praticamente impossível. Tão impossível tirar a burca das mulheres afegãs, quanto cobrir de pano as cariocas de Copacabana e da Flórida, apenas com os olhos de fora - isso apenas para citar um exemplo. Até mesmo Deus ficou confuso com a situação. Então o criador reuniu-se com todos os anjos, de todas as hierarquias, e anunciou uma decisão:  

Quebraria pela primeira vez em milênios, o sigilo da figura divina.

Um mundo, um povo

Alguns dias se passaram desde que Yuri retornou, desolado, do Paquistão. Precisaria de muita astúcia para realizar aquela difícil missão, para a qual sentia que não estava preparado. Numa segunda-feira qualquer, sem qualquer aviso, eis que os aparelhos de televisão, rádios, telefones celulares e fixos, telões de rua e até mesmo megafones enferrujados pendurados em tocos na África anunciaram, com uma estranha e suave voz de criança, em todos os idiomas: 

- É chegada a hora da grande conciliação mundial! Eis que as nações encontram a oportunidade de se refazer das consequências dos grandes erros. Pelo fim da miséria, pelo fim da opressão, pelo fim da ignorância, pelo fim da prepotência! Escutai as novas vozes do mundo, calai os poderosos enquanto é tempo. Fazei da justiça e da paz vossos maiores triunfos... pois sou o Deus criador de todas as coisas e ordeno à humanidade que se una pela paz! 

Assim discursou aquela voz por todos os meios possíveis, por horas a fio, deixando mudas as crianças, os velhos, até os pombos pararam de voar: metade do planeta em silêncio absoluto, olhando para o céu, aguardando algum sinal. Nas colinas da Índia, nos vales secos do Afeganistão, no portal dos mais magníficos templos tibetanos reuniram-se milhares de pessoas, depois milhões, depois literalmente bilhões de olhos olhando para cima. Entardecia, era quase noite quando passou a cair grandes meteoritos do céu, com alvos precisos: bases militares, grandes templos, cassinos, prostíbulos, esconderijos, sedes de governo, todas as sedes do poder oficial ou paralelo foram desabando, sob um temporal avassalador, em todas as partes do planeta. Acabou a energia elétrica, fez-se a maior das sombras escuras naquela noite de castigos e escuridão total no planeta. Sem avisos, sem protocolos, surgiram naves imensas sobre todas as regiões da Terra. Para ser mais específico, pairaram sobre os templos, catedrais, sinagogas, igrejinhas de estrada, salões evangélicos, enfim, todas as sedes do poder religioso na Terra. Dessas naves colossais e poderosas surgiram homens translúcidos e gigantes, muito fortes. Foram avançando por entre paredes e muros, levando tiros por todos os lados, sem dar a mínima. Cada um deles tratou de sua missão: abduzir o líder de uma religião, rumo ao Planeta Celestial. Assim que partiram, o mundo voltou a iluminar-se, exatamente no rastro da última nave que partia, numa encenação coreográfica quilométrica. Algo bonito de se ver.

O último concílio da Terra

Todos os líderes religiosos do mundo seriam enfim recebidos pelo próprio Deus, com o mesmo nível de cerimônia, sem luxo ou sorriso mais largo para quem quer que fosse. Próximo das comitivas chegarem, Deus perguntou para um assistente:  

- Nicodemus, quantos são? 

- Mais de cem, senhor Deus.  

- Como assim, mais de cem? Quantos de mim estás vendo aqui neste local? Punha-os a entrar, todos ao mesmo tempo, para não ouvirmos queixas e lamúrios sobre privilégios. 

AS SETE PRAGASOnde histórias criam vida. Descubra agora