A INVEJA

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INVEJA

Numa sexta-feira qualquer de setembro, militares norteamericanos simularam um acidente e dispararam um míssil perigosíssimo em direção ao centro da cidade de São Paulo. Yuri e Thalia, que financiaram um espião no covil norte-americano, foram avisados a tempo. Yuri precisou usar seus poderes de invisibilidade para se infiltrar na base americana e desviar o míssil de volta - ou quase isso, pois apontou sem querer o míssil para o centro de Nova Iorque, onde morreram mais de vinte mil pessoas.  

O estrago foi grande, enquanto a imprensa daquele país ventilava informações de que o míssil seria brasileiro. Tentaram, mas não conseguiram substituir em tempo o logotipo de cinquenta estrelas estampado no míssil, por um logotipo brasileiro: não é fácil trabalhar com silk-screen a dez mil metros de altitude e a 900 por hora, ainda que por ordem expressa do presidente. Cálculos refeitos, o míssil americano estava programado para cair no centro de São Paulo às sete e meia da manhã: rasgaria o centro da cidade ao meio, através do túnel do metrô por uma extensão de cinco quilômetros, demolindo todos os prédios da Avenida Paulista que estivessem no caminho. Algo em torno de no mínimo 500 mil pessoas partiriam dessa vida, segundo estimativas locais.  

Enlouquecidos por um pretexto qualquer para invadir o Brasil, os militares divulgaram depois inúmeros documentários na imprensa afirmando que o Brasil estaria ateando fogo na Amazônia inteira e que, num mês, não iria sobrar um único espinho de rosa em toda a América do Sul. Tudo foi feito para colocar a opinião pública mundial contra os brasileiros - embora os intelectuais americanos não se convencessem disso, inclusive artistas famosos alertavam quanto aos perigos da manobra política. Yuri, uma espécie de Conselheiro da Nação - sem poderes, porém com recordes de audiência em todos os seus pronunciamentos - pediu à nação que não desanimasse, recitando Ghandi: 

"Primeiro nos ridicularizam, depois nos ignoram, depois passam a nos combater e somente no final reconhecem a derrota."  

Tecnologia 

Thalia, enquanto isso, incentivava a nação virtual a importar o máximo possível de uma lista enorme de componentes de minérios e metais quase ausentes em nosso subsolo. Trouxeram para dentro do território centenas de milhões de toneladas de minérios estranhos. Disse que no momento certo, explicaria seu projeto para todos. Enquanto isso, trabalhou secretamente com alguns milhares de colaboradores numa base secreta no alto da Chapada dos Guimarães, em locais praticamente inacessíveis aos curiosos. Yuri, que tinha conhecimentos científicos e medicinais acumulados por um milhão de anos, trabalhou na construção de uma incrível frota de espaçonaves, os "ovnis" brasileiros, em colaboração com alienígenas, antigos amigos seus, e com a inusitada colaboração das forças armadas. Os "ufos" compunham uma frota de quinhentos "Objetos Voadores Não Identificados" com o selo de nossas forças armadas - e uma nave mãe com quase um quilômetro de comprimento: um objeto magnífico, luminoso, cromado, assustador e poderoso, com uma tecnologia 400 anos à frente dos americanos. Três anos de trabalho. 

Um belo dia, numa espécie de advertência e com muito exibicionismo, os norteamericanos resolveram fazer um vôo rasante sobre o território brasileiro, para intimidar nossas forças armadas e se deram mal: sob o céu ainda estrelado do Mato Grosso passaram a maior humilhação de sua história, quando foram recebidos pelos "ufos" brasileiros. Os discos voadores, incrivelmente velozes, literalmente furaram os tanques de combustível de todos os aviões de guerra invasores, obrigando-os a pouso forçado no meio do pantanal, entre lama e jacarés correndo atrás dos seus "Top Guns" com a bunda de fora, procurando um modo de voltar para seus jatinhos, alguns enrolados por sucuris pré-históricas. Os militares brasileiros deixaram de propósito apenas um avião acessível e com combustível para fugirem de volta para casa, pixado em verde: "Made in Brazil".  

O vexame foi divulgado amplamente na internet e na imprensa mundial, com claros objetivos: exibir o poderio militar brasileiro e revelar como foi a invasão de nosso espaço aéreo. Os Estados Unidos então romperam temporariamente as relações comerciais e diplomáticas com o Brasil, além de ter que suportar a vergonha de receber e assistir seus soldados esfarrapados descendo de um "ufo" de novecentos e cinquenta metros de diâmetro, com quase duzentos metros de altura, em pista aberta de um aeroporto da Flórida, sob flashes da imprensa toda: quase igualzinho ao final do filme Avatar! O incidente desmoralizou totalmente o Tio Sam, além de converter a opinião pública mundial, ao revelar: 

- O míssil que caiu sobre New York era de procedência americana, basta enxergar os logotipos da bandeira americana. Nós apenas o desviamos de volta para casa. Vejam isso aqui! Se quiséssemos fazer algo contra o país deles, com certeza faríamos um estrago muito maior! 

Empolgado, Yuri apontou para um enorme paredão rochoso da Chapada e disparou um raio. O raio atravessou a montanha do outro lado, como se fosse um pudim gigante - depois, o buraco virou atração turística.  

O feitiço virou-se contra os feiticeiros, pois a aparição daquela "coisa" nas câmeras do mundo todo provocou furor e profunda admiração, inveja e respeito em todos os exércitos do planeta: quem mais se atreveria? Depois disso, os cidadãos americanos passaram a não acreditar muito no que a imprensa resmungava em seus aparelhos de TV e rádio, e prestar mais atenção na internet, onde Yuri fazia discursos devastadores. Convidou a população americana para "sermos amigos e levarmos a paz para o mundo, livres dos vermes políticos e da imprensa: O bebê da paz ainda está engatinhando e com fraldas."

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