Capítulo Dois

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Héktor Maldonado Arantes

Sinto pequenas mãos molhadas em meu rosto e abro minha boca, arregalando meus olhos com a ousadia desses anões. Ouço o som de risos e meus olhos se fixam na pessoa responsável por me manchar de tinta guache.

- Você não fez isso, Maria Alice. - Falo, fingindo estar horrorizado, e a garotinha em minha frente ri ainda mais.

- Tio Hék 'tá verde e amarelo. - Ela diz, levando as mãozinhas ao rosto e acaba se sujando.

- Oh, é mesmo? - Falo e me levanto, vendo cada par de olhinhos me olhando com atenção e curiosidade. - Guerra de tinta! - Grito e sujo minhas mãos nas tintas, passando em cada aluno meu.

Os pequenos gritam e começam a correr, rindo sem parar. E então realmente acontece uma guerra. É tinta voando para todos os lados e minha sala de aula parece uma pintura muito moderna, cheia de respingos coloridos nas paredes brancas, antes imaculadas.

- Mas que algazarra é essa aqui? Há pessoas querendo dar aula de verdade. - Ouço a voz nojenta de Lídia e reviro meus olhos.

Aos poucos nós paramos de correr e me viro, vendo a moça parada na porta da minha sala de aula. Ela é uma daquelas educadoras que querem ser o exemplo, mas acabam sendo os carrascos. E por algum motivo ela não gosta de mim, deve ser porque não é feliz realmente.

- Estou sim dando minha aula, Lídia, mas meu método de ensino é diferente e eficaz. - Respondo com seriedade.

- Ah, é? E o que você acha que o diretor vai pensar de tudo isso? Olha o estado dessa sala. - Ela diz, indignada, e minha vontade é revirar meus olhos.

- Bem, depende do que ele estava ensinando aos alunos. - A voz um pouco mais grave diz e noto o diretor bem atrás de Lídia.

Ele é um homem na faixa dos quarenta anos e que arranca muitos suspiros do corpo docente. Lídia é uma dessas pessoas, mas ele finge nem dar bola para seus flertes.

- Oh, senhor Rodrigues. - Ela diz, surpresa, e minha vontade é rir.

- Algum problema por aqui, senhorita Martins? - O diretor pergunta e seus olhos fixam a moça, esperando uma resposta.

- Ah, bem... Eu estou tentando dar minha aula, mas o barulho vindo da sala de Héktor não me permite. E o senhor pode ver a situação do lugar. - Lídia diz e aponta a sala, me fazendo revirar os olhos.

- Me desculpe pelo transtorno, senhorita Martins, mas meu método de ensino é um pouco mais barulhento e menos monótono. Sou professor de crianças de seis anos e não de um mini exército robo que vai viver a base do copie e decore. - Falo a ela, não perdendo minha chance de alfinetar.

Eu já recebi muitas críticas de alguns professores aqui do colégio. Eu tenho um estilo mais livre, gosto de brincar enquanto ensino, ainda mais por serem crianças. Eles perdem o foco, então eu devo chamar a atenção, mas há pessoas que não entendem isso. Então sou visto como o professor idiota e imaturo.

- Não acho que jogar tinta um no outro vá servir de alguma coisa no futuro a essas crianças. - Ela retruca, tendo uma expressão nada agradável em seu rosto.

- Talvez eles sejam artistas no futuro. - Hugo, o diretor, responde e isso me faz prender o riso. - Acho que já pode voltar aos seus afazeres, senhorita Martins. Eu posso conversar com o senhor Maldonado a partir de agora. - Ele diz, por fim, e sorri educado para ela.

- Tudo bem. - Ela diz, a contragosto, e deixa a porta da sala em seguida, pisando duro em seus saltos.

Meus pequenos alunos observam tudo em silêncio e possuem os olhinhos arregalados, já que também possuem medo do diretor do colégio, como todos. Não que Hugo seja um homem ruim, ele não é, mas mantém sua pose séria e imponente.

InCompatíveis | Livro 02 - Série Amores Indomáveis Onde histórias criam vida. Descubra agora