Arthur Maldonado Arantes
Eu me sento na beirada da cama hospitalar e pego nas mãos um pouco frias de Héktor, as apertando junto as minhas. Sua face está mais pálida que o normal e seus lábios sem cor alguma. Me inclino sobre seu corpo e encosto minha testa na sua, sentindo meu coração se apertar ainda mais. Sinto novas lágrimas surgindo em meus olhos, mas me impeço de chorar. Héktor está vivo e somente isso importa para mim no momento. A noite foi intensa demais para nós dois e me fez perceber coisas que eu não estava preparado. Então, no momento, eu só quero sentir que ele está bem e nada mais.
Fecho meus olhos, respirando fundo algumas vezes para não perder a calma. Não faço ideia de quanto tempo se passa, mas em algum momento eu me sento na poltrona disponível no quarto e acabo cochilando, me sentindo esgotado. Sou acordado pelo toque insistente do meu celular e abro os olhos com o susto, sendo rápido em atender a ligação.
- Alô? - Falo, tendo a voz um pouco rouca pelo sono.
- Arthur! Pelo amor de Deus! Você sabe onde Héktor se meteu? - Ouço a voz preocupada de Alessa e isso me desperta ainda mais.
- Ahn... Ele está no hospital. Por favor, não faça escândalo, nossos pais não precisam de saber disso agora. - Falo, mantendo a voz calma.
- O quê houve? E por que nossos pais não po... Droga! Ele fez de novo, não fez? - Ela pergunta e ouço sua voz falhar.
- Sim, ele fez. Mas agora está tudo bem, chegamos ao hospital em tempo e vou levar ele para o meu apartamento quando tiver alta. Pode inventar algo aos nossos pais? Eu sei que eles precisam saber, mas não agora. Papai ia se culpar por algo que não é culpa dele.
- Sim, você está certo. Eu vou dizer que ele vai ficar na casa de Gustavo e mais tarde passo em seu apartamento. Cuida dele, Art. Amo vocês!
- Também amamos você. - Falo e encerro a ligação em seguida.
Guardo meu celular novamente e passo as mãos em meu rosto, querendo afastar o sono que persiste em mim. Dou uma olhada rápida em meu relógio de pulso e percebo que já são quase cinco da manhã. Meus olhos vão até Héktor e vejo que ele ainda dorme profundamente. Me levanto e aproximo da cama, tocando seu rosto com as pontas dos meus dedos.
Mais uma vez sinto a confusão de sentimentos dentro de mim e tento afastar tudo isso agora, mas é difícil. É ainda mais difícil me dar conta de que eu amo meu irmão como homem e isso é errado. Não sei quanto tempo passo ao lado da cama de Héktor, o observando em silêncio, tentando entender tudo o que se passa dentro de mim, mas sou trazido de volta quando vejo os olhos dele se abrindo.
Ele pisca algumas vezes e após alguns segundos seus olhos azuis se encontram com os meus. Vejo confusão em seu olhar, mas aos poucos eu acho que ele vai lembrando de tudo, pois uma expressão de vergonha toma seu rosto.
- Merda! Eu sou um desastre. - Héktor diz em um suspiro baixo e leva uma das mãos até a testa, balançando a cabeça em negação.
Não falo nada imediatamente, prefiro me sentar ao seu lado na cama e pegar sua mão livre, a qual tem o soro ligado ao seu braço.
- Como você se sente? - Pergunto, após incontáveis segundos em silêncio.
Héktor tira a mão dos olhos e me fita, ele procura alguma repreensão em mim, mas não há. Eu em sinto frustrado com tudo, mas não tenho o direito de dizer nada quando tudo isso foi por minha culpa, pela minha recusa a ele.
- Parece que fui atropelado por um caminhão. - Resmunga e fecha os olhos suspirando. - Vai, pode começar o sermão.
- Por que acha que vou te dar um sermão? - Pergunto, analisando sua expressão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
InCompatíveis | Livro 02 - Série Amores Indomáveis
RomanceIncompatível, segundo o dicionário, algo que não pode existir juntamente com outro. E, se pessoas podem ser incompatíveis, automaticamente um amor entre ambos se torna impossível, certo? Errado! Quando se há amor, até pessoas ditas incompatíveis...