Héktor Maldonado Arantes
É estranho voltar ao colégio após todo o episódio na boate e saber que Hugo presenciou tudo. Arthur havia se encarregado de dar uma explicação a ele e eu permaneci de atestado médico por mais dois dias, o que me fez voltar ao trabalho somente hoje, segunda-feira, uma nova semana. Ainda me sinto um idiota por tudo, mas estou me sentindo melhor, ainda mais tendo o apoio da minha família. Somente minha relação com Alessa que ainda está abalada, me magoou muito o que eu ouvi dela. E como não houve um pedido de desculpas, eu também não procurei por ela. Pode até ser que ela não tenha dito por mal, mas me doeu e muito.
Solto um suspiro profundo e após esfregar minhas mãos em meu rosto, saio do carro, levando minha bolsa com materiais junto. Ando em passos lentos até a sala do diretor e vejo alguns colegas de trabalho, cumprimentando com um aceno breve. Assim que chego ao prédio da administração, peço a secretária para falar com o diretor e espero minha vez. Isso demora cerca de cinco minutos.
Eu me sinto um pouco nervoso enquanto sigo até a sala de Hugo, mas respiro fundo e sigo em frente. Deixo duas batidas na porta antes de entrar e então fico de frente a ele.
- Héktor, que bom ver você bem. - Ele diz sincero e abro um sorriso pequeno, terminando de entrar na sala.
- Obrigado, Hugo. Devo te pedir desculpas por aquele dia, passei dos limites com a bebida. - Peço, me sentindo envergonhado.
Já é ruim o suficiente ter uma overdose, pior ainda é ter telespectadores.
- Tudo bem, a culpa não é sua... pode acontecer com qualquer um. Mas você está mesmo bem para voltar? Seu irmão me explicou a situação. - Ele diz e aponta a cadeira em sua frente para que eu sente e eu faço, pois sinto minhas pernas um pouco fracas.
- Estou sim, os dias em casa me fizeram bem e eu preciso dos meus pequenos para estar melhor. - Falo sincero e vejo ele sorrir.
- Bom, pois tenho um novo aluno para você. - Hugo diz e fico curioso, pois o semestre já está em andamento há semanas.
- Mas ele ficará atrasado, não? Ele foi transferido? - Pergunto.
- Quase isso. É uma menina de seis anos que possui autismo, ela mora em um orfanato na verdade. Perdeu o pai recentemente e ninguém quis assumir a responsabilidade de cuidar dela. Por isso ela estará um pouco atrasada em relação às outras crianças, mas é inteligente, creio que você pode ajudá-la, não? - Ele explica e sinto meu peito se apertar.
- Claro que sim, darei meu melhor. Mas, Hugo?
- Sim?
- Não quiseram cuidar dela por ser autista? - Pergunto e fico com receio de ouvir a resposta, mesmo já sabendo.
- Infelizmente muitos tem uma mente pequena e o coração frio demais. - Hugo responde e assinto, ainda impressionado e triste.
- Realmente! Ela já está aí? - Pergunto e me levanto.
- Sim, já estão todos na sala te esperando. - Ele diz e sorrio sincero.
- Então vou indo, meus pequenos não podem esperar. E obrigado mais uma vez por compreender. - Falo e ele nega com um aceno.
- Saúde em primeiro lugar, Héktor, e se não estiver bem pode me contar. Somos amigos também, não? - Ele diz e eu aceno, saindo de sua sala em seguida.
Enquanto ando em passos lentos até minha sala de aula, sinto meu coração ir ganhando paz aos poucos. Se há algo que me acalma e me faz esquecer do mundo é estar em sala de aula, meus pequenos são muito importantes para mim e não me fazem desistir. São literalmente minha força. E saber que há mais uma em nosso time, me deixa feliz.
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InCompatíveis | Livro 02 - Série Amores Indomáveis
RomansaIncompatível, segundo o dicionário, algo que não pode existir juntamente com outro. E, se pessoas podem ser incompatíveis, automaticamente um amor entre ambos se torna impossível, certo? Errado! Quando se há amor, até pessoas ditas incompatíveis...