Capítulo Dez

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Héktor Maldonado Arantes

É estranho voltar ao colégio após todo o episódio na boate e saber que Hugo presenciou tudo. Arthur havia se encarregado de dar uma explicação a ele e eu permaneci de atestado médico por mais dois dias, o que me fez voltar ao trabalho somente hoje, segunda-feira, uma nova semana. Ainda me sinto um idiota por tudo, mas estou me sentindo melhor, ainda mais tendo o apoio da minha família. Somente minha relação com Alessa que ainda está abalada, me magoou muito o que eu ouvi dela. E como não houve um pedido de desculpas, eu também não procurei por ela. Pode até ser que ela não tenha dito por mal, mas me doeu e muito.

Solto um suspiro profundo e após esfregar minhas mãos em meu rosto, saio do carro, levando minha bolsa com materiais junto. Ando em passos lentos até a sala do diretor e vejo alguns colegas de trabalho, cumprimentando com um aceno breve. Assim que chego ao prédio da administração, peço a secretária para falar com o diretor e espero minha vez. Isso demora cerca de cinco minutos.

Eu me sinto um pouco nervoso enquanto sigo até a sala de Hugo, mas respiro fundo e sigo em frente. Deixo duas batidas na porta antes de entrar e então fico de frente a ele.

- Héktor, que bom ver você bem. - Ele diz sincero e abro um sorriso pequeno, terminando de entrar na sala.

- Obrigado, Hugo. Devo te pedir desculpas por aquele dia, passei dos limites com a bebida. - Peço, me sentindo envergonhado.

Já é ruim o suficiente ter uma overdose, pior ainda é ter telespectadores.

- Tudo bem, a culpa não é sua... pode acontecer com qualquer um. Mas você está mesmo bem para voltar? Seu irmão me explicou a situação. - Ele diz e aponta a cadeira em sua frente para que eu sente e eu faço, pois sinto minhas pernas um pouco fracas.

- Estou sim, os dias em casa me fizeram bem e eu preciso dos meus pequenos para estar melhor. - Falo sincero e vejo ele sorrir.

- Bom, pois tenho um novo aluno para você. - Hugo diz e fico curioso, pois o semestre já está em andamento há semanas.

- Mas ele ficará atrasado, não? Ele foi transferido? - Pergunto.

- Quase isso. É uma menina de seis anos que possui autismo, ela mora em um orfanato na verdade. Perdeu o pai recentemente e ninguém quis assumir a responsabilidade de cuidar dela. Por isso ela estará um pouco atrasada em relação às outras crianças, mas é inteligente, creio que você pode ajudá-la, não? - Ele explica e sinto meu peito se apertar.

- Claro que sim, darei meu melhor. Mas, Hugo?

- Sim?

- Não quiseram cuidar dela por ser autista? - Pergunto e fico com receio de ouvir a resposta, mesmo já sabendo.

- Infelizmente muitos tem uma mente pequena e o coração frio demais. - Hugo responde e assinto, ainda impressionado e triste.

- Realmente! Ela já está aí? - Pergunto e me levanto.

- Sim, já estão todos na sala te esperando. - Ele diz e sorrio sincero.

- Então vou indo, meus pequenos não podem esperar. E obrigado mais uma vez por compreender. - Falo e ele nega com um aceno.

- Saúde em primeiro lugar, Héktor, e se não estiver bem pode me contar. Somos amigos também, não? - Ele diz e eu aceno, saindo de sua sala em seguida.

Enquanto ando em passos lentos até minha sala de aula, sinto meu coração ir ganhando paz aos poucos. Se há algo que me acalma e me faz esquecer do mundo é estar em sala de aula, meus pequenos são muito importantes para mim e não me fazem desistir. São literalmente minha força. E saber que há mais uma em nosso time, me deixa feliz.

InCompatíveis | Livro 02 - Série Amores Indomáveis Onde histórias criam vida. Descubra agora