Capítulo Vinte e Um

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Arthur Maldonado Arantes

Afundo meu corpo na piscina olímpica, indo até o fundo e me sento no piso frio. Fecho meus olhos e busco deixar minha mente clara, organizando meus pensamentos. A sensação da água ao meu redor me dá paz, mas sei que é por pouco tempo, principalmente quando o ar se faz necessário em meus pulmões. Abro meus olhos e me impulsiona para cima. Inspiro o ar quando chego a superfície e sinto minha respiração um pouco ofegante. Tiro o excesso de água do meu rosto e olho para frente, vendo meu pai sentado na borda da piscina, me olhando com curiosidade.

Solto um suspiro e nado até ele, me sentando ao seu lado segundos depois. Não falamos nada por um tempo, até que ele passa seu braço ao meu redor, me puxando para um abraço de lado. E é nesse momento que eu deixo as barreiras ceder. Eu me sinto a mesma criança de vinte e três anos atrás, quando buscou nele ajuda.

- O que está acontecendo, filho? - Ele pergunta, mantendo o tom calmo de sempre em sua voz.

- Ele voltou, pai. Estava me esperando na porta de casa ontem - respondo com amargura e desespero na voz.

- Certeza que era ele?

- Sim, jamais esqueceria o rosto daquele homem - respondo e solto um suspiro, me afastando dele.

Passo as mãos por meu rosto e puxo minhas pernas da água, abraçando meu corpo em busca de calor.

- Eu só não sei o que fazer, foi como reviver um pesadelo. Na verdade, ele é meu pesadelo. O pior de tudo foi ele me tratando como se realmente fosse seu filho. Eu não sou nada daquele homem! Ele deveria estar preso, não é? - falo e olho para meu pai, que me analisa com compreensão.

- Deveria, mas já deve ter cumprido a pena. De qualquer forma vou pedir para um advogado investigar e pedir uma medida protetiva para você. Não vai ser agora que esse homem vai atrapalhar sua vida. - Ele diz e fico aliviado em ouvir suas palavras.

- Obrigado, pai! Eu realmente não sei mais o que fazer ou que pensar... fiquei totalmente paralisado ao vê-lo ontem. Se não fosse por Héktor, eu nem sei - falo, sincero.

Foi meu namorado que me deu apoio desde ontem e sou totalmente grato a ele por isso. Ao seu lado eu me senti protegido e em nenhum momento ele me forçou a dizer algo que eu não quisesse, ele apenas esteve ao meu lado, segurando minha mão e me dando todo o amor do mundo.

- Sabe, eu sei como é a sensação... e o mais bizarro é que nossos monstros têm o mesmo nome - meu pai diz e sua expressão se torna distante.

- Vicente foi meu carrasco desde que eu nasci, ele tomou tantas coisas de mim... uma delas foi um filho. Eu nunca contei isso a vocês, pois é algo traumatizante, mas eu assisti seu pai sendo atropelado na minha frente, sem poder fazer absolutamente nada. E foi naquele momento que eu descobri que ele estava esperando um bebê nosso, mas já era tarde. E não sendo um trauma só meu, Lucio também viveu essa dor. E tudo isso aconteceu porque eu queria fazer a coisa certa e ajudar pessoas com quem me importava. Depois disso eu meio que parei de acreditar no bem e mal, só vivia coisas ruins de qualquer forma.

Ouço ele contar e vejo o brilho das lágrimas em seus olhos.

- Foi por causa dele que eu perdi a convivência com meus pais, foi por causa dele que eu perdi o homem que amava, o filho que eu nem sabia existir... perdi até o movimento das minhas pernas por causa de um homem sem escrúpulos. Teve um momento em que a vida não fazia mais o menor sentido para mim, era inútil continuar vivendo em meio a dor e sofrimento. Mas seu pai me mostrou que ainda havia esperança.

Ele diz e se vira para mim, pegando sua mão na minha.

- O que eu quero dizer é para você não parar sua vida por causa desse homem, principalmente agora. Você e Héktor estão começando uma vida juntos e há dois seres de luz para alegrar sua vida a partir de agora. Então, filho, levanta a cabeça e lute. Ele não pode estragar tudo o que você construiu. E por favor, tire da sua cabeça que você é igual a ele.

InCompatíveis | Livro 02 - Série Amores Indomáveis Onde histórias criam vida. Descubra agora