Héktor Maldonado
O barulho irritante do despertador continua e parece perfurar meu cérebro nesse processo. Tento cutucar Arthur para que ele desligue o aparelho, mas não sinto seu corpo próximo de mim, o que me faz franzir o cenho. Minha vontade de abrir os olhos é mínima nesse momento e eu só quero voltar a dormir.
- Amor, desliga o despertador... vou jogar seu celular na parede. - Resmungo, ainda grogue de sono, mas não há resposta.
Forço a abrir meus olhos, praticamente pregados de tanto sono.
- Arthur? - Chamo mais uma vez e vejo sua imagem embaçada ao meu lado. Ele está sentado na cama, mas não diz nada. É como uma estátua.
Ver isso me deixa confuso e pisco algumas vezes, tentando acordar realmente. Começo a me levantar também, me colocando sentado na cama, mas meus movimentos travam quando vejo uma pessoa parada na porta. E não é qualquer pessoa... é meu pai Apolo ali, que nos olha paralisado, assim como Arthur e eu estamos nesse exato momento.
E é como se eu pudesse literalmente sentir meu coração pulsando em minha garganta, prestes a sair por minha boca. Todo o sono vai embora e sinto meu corpo inteiro enfraquecer, uma lenta e agonizante tortura começa enquanto mantemos nossos olhares fixos um no outro, sem pronunciar uma única palavra. Se antes Arthur sentia medo desse momento, agora vejo o quanto me sinto apavorado com toda a situação. Eu nunca imaginei realmente isso acontecendo, não dessa forma. Não comigo e meu namorado nus, na frente do nosso pai. Diante de seus olhos somos irmãos que transaram noite passada e não fizeram questão nenhuma de esconder. Claro que não, nossos corpos mostram as marcas bem evidentes dos momentos vividos por nós dois. E isso me traz a vontade imensa de vomitar. Não por sentir vergonha de mim e Arthur, mas pela situação. Não foi assim que planejei... não foi!
- Coloquem uma roupa, estarei na sala. - Nosso pai diz, com uma expressão indecifrável em seu rosto, me fazendo agonizar ainda mais na ansiedade e medo.
O vejo dando as costas para nós dois, em sua cadeira de rodas, e então a porta se fecha, deixando apenas Arthur e eu para trás, sozinhos e totalmente perturbados. Finalmente o barulho do despertador cessa, me deixando um pouco aliviado, pois o barulho e toda a tensão iniciou uma dor de cabeça fina. Fecho meus olhos e o ar escapa por minha boca, e eu nem sabia que estava prendendo a respiração.
E então elas vem... às lágrimas de desespero. Olho para Arthur e vejo que ele também está preocupado, mas não como eu. E pensar que de nós dois, ele é o que mais tinha medo de algo assim acontecer.
- Ele vai nos odiar... ele vai me odiar. - Falo em desespero e as lágrimas descem com mais intensidade ainda por meu rosto. Meu coração está tão acelerado em meu peito, que é até difícil puxar o fôlego e conseguir respirar... eu me sinto sufocado.
- Ei, calma. - Arthur diz com paciência e no segundo seguinte está me puxando para seus braços, me prendendo em um abraço confortável. - Ele não está te odiando, a nenhum de nós dois... só é confuso. Vamos apenas nos acalmar, tomar um banho e explicar a ele toda a situação. Eu estou com você, bebê, você não está sozinho, então não sinta medo.
Arthur diz as palavras com calma e sussurradas em meu ouvido, enquanto acaricia minhas costas. E, aos poucos, me sinto melhor. O medo não foi embora, muito menos o desespero, mas eu consigo pelo menos pensar melhor. Também consigo finalmente respirar normalmente e isso é um alívio, pois eu consigo me manter mais estável.
Sigo as palavras de Arthur e vou até o banheiro do quarto, tomando um banho rápido e fazendo minha higiene matinal. Eu me visto com um conjunto largo de moletom e me sento na cama para esperar meu namorado, que não demora muito. Minha mente está um turbilhão no momento, mas ao mesmo tempo também não consigo focar em nada em específico. Apenas o medo é uma constante dentro de mim agora.
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InCompatíveis | Livro 02 - Série Amores Indomáveis
RomanceIncompatível, segundo o dicionário, algo que não pode existir juntamente com outro. E, se pessoas podem ser incompatíveis, automaticamente um amor entre ambos se torna impossível, certo? Errado! Quando se há amor, até pessoas ditas incompatíveis...