Arthur Maldonado Arantes
Encerro mais uma cirurgia para recolocar os ossos de um braço no lugar e sigo até minha sala. É incrível como toda semana atendo várias crianças com o mesmo problema. Acho que deve ser algo da infância quebrar o braço... só pode. Deus, pensar nisso me causa medo, já que em alguns meses terei dois anjinhos dependentes de mim.
Porra! Eu vou ser pai de duas menininhas, duas princesas que são frutos do meu relacionamento com o homem da minha vida. E pensar que eu cogitei que jamais daríamos certo juntos, que nunca seríamos compatíveis um com o outro. Mas a vida nos surpreende e mostra que nada é como pensamos. E hoje eu vejo que nada é realmente certo, sempre há uma curva no caminho. Ela pode ser boa ou ruim, cabe a você saber como usá-la.
Estou tão fixo em meus pensamentos que não percebo que uma pessoa está vindo em minha direção e acabo esbarrando nela.
- Oh! Me desculpa - peço, vendo uma enfermeira em minha frente.
- Tudo bem, doutor Maldonado, estava mesmo lhe procurando. - Ela diz, já me deixando em alerta para alguma emergência.
- Algum problema com meus pacientes? - pergunto e ela nega com um aceno.
- Não, na verdade é que há um senhor lhe procurando. Ele diz ser seu pai, mas sabemos que não é, já que conhecemos o senhor Arantes. Porém, ele se recusa ir embora e está fazendo um verdadeiro caos em nossa recepção.
Sinto todo meu corpo se arrepiar com sua fala e preciso fechar minhas mãos que começam a tremer levemente.
- Chamem a polícia, não faço ideia de quem seja esse senhor - falo e vejo ela assentir, saindo em seguida.
Corro pelo corredor e me tranco em meu consultório. Minhas pernas cedem e deixo meu corpo cair no chão. Minha respiração se torna pesada e tento puxar o ar para meus pulmões, mas não funciona.
Por que ele quer tanto me atormentar? Já não basta ter acabado com a minha vida uma vez?
Por que tem que haver um fantasma em minha vida? Eu não posso simplesmente viver em paz?
Por quê tudo isso?
Sinto as lágrimas caindo por meu rosto e me odeio por estar chorando mais uma vez por esse homem. É como voltar a minha infância, quando eu era apenas um garoto indefeso.
Sinto todo meu corpo tremer ao olhar para o homem mal em minha frente. Eu sei que ele não está feliz e vai descontar em mim. Eu já deveria estar acostumado, mas dói... dói muito.
- É isso? Porra! Você só serve para isso, moleque? - Ele grita e joga o pouco dinheiro que consegui hoje na minha cara, fazendo algumas moedinhas bater em minha pele com força.
Algumas lágrimas começam a descer por meu rosto, mas tento não chorar alto. Ele não gosta.
- Maldita hora que a vadia da sua mãe engravidou. Anda, vaza daqui. - Ele me empurra para fora da pequena casa e sinto o ar me faltar, pois ele faz isso com um tapa forte em minhas costas.
Há uma chuva forte caindo e eu me assusto com os trovões. Tento voltar para dentro, mas ele fecha a porta e ri com meu desespero.
- Vai ficar aí, merdinha.
A chuva me molha em poucos segundos e abraço meu pequeno corpo, tentando me esquentar. Está frio, muito frio. As lágrimas se misturam a chuva e olho para cima, pedindo ao papai do céu que me tire daqui.
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InCompatíveis | Livro 02 - Série Amores Indomáveis
RomanceIncompatível, segundo o dicionário, algo que não pode existir juntamente com outro. E, se pessoas podem ser incompatíveis, automaticamente um amor entre ambos se torna impossível, certo? Errado! Quando se há amor, até pessoas ditas incompatíveis...