Encantado.

Medo.

- Quinta-feira -

- Oi, amiga. Não sei exatamente como era a minha feição olhando pra Gabi, não sei se a cara que eu fiz foi de tristeza, de alegria, de decepção, sei lá, ou talvez eu fiz cara de paisagem mesmo.

- Oi meu amor, me diz o que aconteceu ontem?! Você desapareceu, não entrou no wpp a tarde inteira, só veio falar comigo e isso já era a noite! Gabi dizia enquanto me abraçava, quando afastou seu rosto do meu ombro pode ver meu rosto melhor de perto e fez uma cara de incrédula. - Gustavo, porque o seu nariz está inchado? e franziu a testa.

Peguei suas mãos que estavam no meu ombro, tirei e me afastei um pouco, abaixei a cabeça e só consegui dizer em uma voz muito baixa

- Não aconteceu nada demais, amiga. Eu tropecei em casa ontem ai dei de nariz na porta. Forcei uma risadinha sem graça pra ver se convencia mas a Gabi me olhou torto.

- Eu sei muito bem que não foi isso que aconteceu, Gu. Eu te conheço faz tempo e você sabe muito bem disso, mas se você não quer me contar o que aconteceu de verdade eu vou te respeitar e quando você quiser conversar comigo a respeito do que está acontecendo é só você vir que eu sempre vou tá aqui pra te ajudar em tudo, tudo mesmo!

Eu achei muito fofo o que a Gabi tinha acabado de me falar, eu olhei pro alto, puxando ar pra não chorar na frente dela e em questão de segundos eu a puxei e a abracei muito forte. Minha cabeça descansava em seu ombro enquanto algumas lágrimas desciam sobre o meu rosto, mas eu não fiz nenhum barulho de choro, simplesmente a abracei e me deixei levar. Quando fui saindo de seu ombro, rapidamente sequei minhas lágrimas e a puxei pela mão saindo na frente dela, claro, pra ela não ver o meu rosto. 

Por incrível que pareça hoje não estavamos atrasados. 

Eu estava andando normal com a Gabi pelo braço, até que chegou a escada pra subir pra sala de aula. Eu parei e fiquei olhando pra escada e logo em seguida eu olhei pro alto. 

- O que aconteceu pra você parar aqui?

- Não sei amiga, me bateu um cansaço, mas vamos subir.

Segurei firme na mão dela e subimos. Entramos na sala e não tinha quase nenhum aluno ainda, só tinha eu a Gabi e alguns alunos "estudiosos''.

Sentei em uma das últimas cadeiras, claro que eu queria me isolar de todo mundo, ainda mais dele. A Gabi pelo contrário, prefiriu sentar lá na frente e insistiu pra eu sentar junto com ela, mas claro que eu não quis. Prefiria ficar no canto, escondendo o meu rosto, de todos.

Com o passar do tempo alguns alunos vinham chegando e logo atrás a professora. A cada aluno que colocava o pé dentro de sala de aula, minha espinha gelava, eu sentia um medo terrível. Algumas pessoas que estão lendo isso podem achar que eu estou exagerando, mas gente, pelo amor de Deus, se um garoto me derruba no chão e tira sangue de mim sem eu fazer nada, imagina o que ele poderia fazer comigo depois disso? se eu olhasse de novo pra ele era capaz dele me espancar...

A sala já está cheia e só falta um lugar pra ser preenchido. 

Adivinha de quem é esse lugar?

então.

Eis que ele chega, lindo, que filho da puta desgraçado, hoje ele tá mais lindo do que nunca, seu cabelo pro alto e sua barba crescendo, cara de garoto marrento mesmo. 

Óbvio que eu olhei só por alguns segundos, eu não ia ficar olhando pra ele. Ainda mais com o medo que eu tava dele. Ele se sentou lá trás também, na única cadeira vazia. Não estava perto de mim, mas estava atrás também.

Meu coração tava batendo muito forte e minha espinha congelou, tava esquecendo até de respirar.

Eu abaixei minha cabeça e comecei a pensar coisas sem sentido, coisas que nem precisam ser ditas aqui...

A aula prosseguia normal, eu não conseguia, eu tentava, eu juro pra vocês que eu tentava não olhar pra ele mas tava muito difícil, mas meu olhar pra ele agora era mais de medo do que outras coisas que eu sentia.

O medo falava mais alto.

Eu não tinha dormido a noite direito, vários pensamentos e pesadelos estavam passando pela minha cabeça, então imagina o meu estado em sala de aula?!

O professor que estava dando aula era legal, ele não fazia questão com nada, então eu pus meus fones e acabei cochilando na sala de aula.

Tem alguém me cutucando mas devo estar sonhando

- Acorda!

Não vou acordar, não adianta.

- Acorda!

Já disse que não vou acordar.

- ACORDA, VIADO!

Retiraram meu fone com muita força de mim, não entendi nada, olhei pra frente, meu Deus, não tinha mais aluno nenhum em sala de aula, olhei pro lado, maldita hora que fui olhar pro lado...