DULCE

Sentada na cafeteira preferida de seu pai em Nova York Dulce observava o fluxo intenso de pessoas saindo do trabalho para suas casas naquele fim de tarde.

Enquanto se sentia deliciosamente envolvida pelo aroma de café foi despertada de seus disvaneios quando seu pai entrou no local e abriu um sorriso,  aquele sorriso que fazia com que ela esquecesse de tudo no mundo.

-Oi papai - levantou-se para cumprimentar o pai

-Tudo bem minha filha?

-Sim, papai

-Então, vai me contar o motivo desse nosso encontro de última hora?

Dulce tirou um envelope da bolsa e entregou ao pai observando cada reação dele a medida que avançava na leitura.

Ao terminar de ler Dulce percebeu que o pai lhe olhava com olhos marejados e cheios de orgulho, ela também não deixou de se emocionar, relembrou toda sua trajetória desde a aprovação na faculdade até a sua contratação nas empresas Lyle, uma empresa do setor financeiro que trabalha com ações da  bolsa de valores e possui diversas filiais ao redor do mundo, inclusive no seu país Natal, o Brasil.

-Eu sabia que conseguiria minha filha, você é muito inteligente, me lembra sua mãe. Ela estaria muito orgulhosa se estivesse aqui conosco.

-Eu sei papai - falou enquanto suspirava com ar de tristeza- Apesar de ter um maravilhoso pai ela não podia negar que sua mãe fazia muita falta em sua vida, principalmente por não se lembrar dela, pois Dulce tinha apenas 3 anos quando a mãe sofreu o acidente.

-Não fique assim Dulce, hoje não é um dia para tristeza, sim?

-Sim papai 

Ficaram um tempo na cafeteira imersos em uma conversa animada, quando algo ocorreu, Dulce não sabia o que, mas começou a sentir um calafrio, um frio na espinha, um presságio de algo de muito ruim viria acontecer. Resolveu ignorar essa sensação convencendo a si mesma que era apenas nervosismo devido a ocupação do seu novo cargo de vice-presidente da corporação Lyle. 

Ao reparar no relógio pendurada sob a parede vermelha da cafeteira constatou que já passava das 19 h, então achou melhor despedir-se de seu pai, pois seu trabalho começaria logo cedo pela manhã e ela precisava se preparar.

-Papai, eu não queria, mas realmente preciso ir para casa para me preparar para assumir o meu cargo amanhã. Nos vemos amanhã após meus expediente?

-Claro Dulce, e não há problema, pode ir filha eu entendo. Só quero que saiba que sou muito orgulhoso de ser seu pai e que eu te amo muito.

Dulce se emocionou, não sabia dizer o porquê, mas sentiu um aperto no peito, como se aquele conversa fosse uma despedida definitiva do seu pai. Tentou novamente se convencer que era apenas nervosismo devido a sua nova função. Tentando afastar esses pensamentos pegou sua bolsa em cima da mesa, abraçou seu pai e se foi.

A medida que ela andava pela time square, encontrava-se extremamente inquieta e o aperto no peito se intensificava, assim como, o frio na espinha. Inconformada com essas sensações ela murmurava: - é só coisa da sua cabeça Dulce, logo vai passar, mas não passou. Diante de tanta angústia resolveu ligar para o seu pai, chamou várias vezes e caiu na caixa postal - Oi, aqui é Fernando Saviñon deixe seu recado- Dulce estranhou, pois seu pai jamais deixava de atender o telefone, sendo assim, resolveu voltar a cafeteria com desejo de ver seu pai novamente.

Ao chegar próximo ouviu um grito e ao reconhecê-lo seu corpo inteiro gelou, ao entrar em um beco ao lado da cafeteria Dulce viu seu coração quebrar em mil pedaços,  pois havia um homem vestido dos pés a cabeça de preto que estava com um punhal de prata cravado no coração do seu pai. Quando o assassino se virou para ver o que estava acontecendo às suas costas, deu de cara com Dulce, petrificada com os olhos cheios de lágrimas e pálida da cor de papel. Incapaz de prosseguir com sua missão, ele correu e pulou o muro desaparecendo nas sombras. Apesar das roupas esconderem sua identidade, Dulce jamais esqueceria da frieza daqueles olhos castanhos enquanto a vida se esvaia do seu pai.

E aí, o que estão achando?


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