Capítulo 14: O inocente

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   Caminho pelo amável jardim repleto de flores. Elas não estão no seu maior resplendor glorioso, mas de qualquer forma, é uma das criações mais esplendidas que os deuses poderiam ter feito. O clima é movediço por conta das fases da água, já que a Europa é totalmente afetada pelo oceano. A sensação é que irei congelar, mas mesmo essa negatividade térmica não diminui a minha felicidade de estar de volta a Londres, minha terra natal.

   Olho em direção à casa em que cresci ou que pelo menos, imaginava ter crescido, já que agora sei que sou filha de Elrik. A residência tem dois olhares, possui as paredes em um tom branco amarelado, com duas colunas cilíndricas de frente para a casa. Suas janelas são gigantes e permitem uma visão perfeita do que há na casa. Algo que sem dúvida chamaria a atenção de bandidos, mas que por um motivo desconhecido, nunca chamou.

   Há quatro degraus que levam para a entrada da casa, eles são de um tom branco e pálido que o dá a impressão de estar brilhando. Me dirijo a esta escada, enquanto isso, sinto meu peito palpitar desesperadamente em busca de algum refugio, minhas mãos soam e meus pés vacilam durante o caminho. Meus olhos estão úmidos devido ao nervosismo. Paro em frente da porta de casa e aperto a campainha, no mesmo momento sinto um choque que atravessa o meu corpo por causa da ansiedade.

   Minha mãe abre a porta, seus cabelos ruivos balançam com a entrada do ar frio na casa, seus olhos azuis me avaliam, não consigo saber qual sentimento eles expressam, e por um momento, apenas sinto que devo me explicar, dizer algo, falar que a amo, perguntar se perdoa por algo que eu nem sei que fiz, mas antes que eu abra minha boca, seus braços deslizam por minha costela e me abraçam. Por um momento, sinto que fui para outra dimensão e voltei, pois estar com a minha mãe aqui é mágico, um pouco surreal, e os pouco segundos que passamos juntinhas são o suficiente para me quebrar em pedacinhos e me reconstruir novamente. É tudo isso que sempre quis: o doce amor de alguém.

   Ela desliza para o lado para que eu passe, não diz uma palavra para mim, mas seus gestos falam tudo. Entro e vou em direção à cozinha, pois ouço as gargalhadas do meu pai e da Alice, e sei que de todas as minhas vontades, ver a minha irmãzinha é a maior. Minha mãe me segue pelo caminho, mas com uma certa relutância, pois fica sempre uns quatro passos atrás de mim, talvez com um pouco de medo do que virá a seguir.

   Ao chegar no lugar de desjejum, meu pai se vira bruscamente para mim,  sua expressão demonstra desespero, vejo seus olhos negros se arregalarem assustados, enquanto ele segura a frigideira em sua mão, pois estava preparando o almoço. O fogo está alto e se ele continuar me olhando embasbacado, é possível que acabe colocando fogo em si mesmo. Seus cabelos negros estão desgrenhados, aparentando que acordou tarde, mas seu pijama quadriculado de flanela também o entrega. Ele parece um pouco mais jovial comparado ao homem que vi antes de ir embora. Entretanto, agora a pouco estava simplesmente radiante, talvez porque sua filha demoníaca foi embora.

   Minha irmãzinha demorou a se dar conta de que eu apareci. Estava risonha, mas seus olhinhos azuis pareciam triste. Seu cabelo se encontrava todo bagunçado, mas a deixava mais linda, como sempre. Seu cabelo negro chegava ao seu quadril e contrastava com a camisola branca. Quando me viu, seu rosto radiou uma luminosidade que nem o sol poderia ser capaz. A única alegria genuína que vi desde quando entrei aqui. Ela se levanta da bancada de alimentação e vem em minha direção a passos largos com um lindo sorriso estampado do rosto. Sinto seus bracinhos magros prenderem-na a mim, fico extasiada em saber que certamente ainda sou amada por ela. Após um minuto de um abraço carinhoso, ela geme de tristeza:

   - Pensei que nunca mais voltaria. – Virou seu rosto contra a minha barriga, me deixando um pouco sem jeito.

  - Mas eu voltei. – Digo com a voz chorosa.

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