Capítulo 5: A morte

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  Edward continua fazendo meu peito se encher de água, é quase como se eu estivesse nadando contra ondas violentas, não importa quantas braçadas eu dou, ela apenas me leva e estou cansada de me opor.
  Uma vez, li em um livro, que a magia não acerta quem não acredita nela, acho que é por isso que ele não me matou até agora, então simplesmente acredito em sua magia, acredito em sua força, eu estou cansada e só quero morrer, não importa se serei considerada feiticeira ou não.
  Sempre quis ser aceita e amada, deixei que pisassem em mim a vida inteira, até pensei que quando entrasse nesta sociedade de feiticeiros, talvez alguém gostasse de mim ou me admirasse, tive que me desdobrar para satisfazer as pessoas.
  Sempre sofri bullying na escola por ser diferente, já tentei agir de maneira deplorável para me aceitarem, mas nunca, nunca me senti aceita.
  Me permito morrer, porque não nasci para estar aqui, não nasci para este mundo. A verdade é que sou um peixe em um planeta desértico.
  Eu me sinto cada vez mais inerte, as luzes estão se apagando, meu show da Broadway acabou antes mesmo que tivesse alguma plateia, até que...

  Para o meu desespero, paro de me afogar.
-Por que parou? - olho para ele, enquanto minhas lágrimas descem quentes pelo meu rosto. - Me diz o porquê.

  Olho para ele e para a minha surpresa, o vejo chorar. Por um momento, apenas choramos juntos, talvez por motivos distintos, mas choramos.

-Você não se lembra mesmo de mim, não é? - Diz com um rosto pálido, e pela primeira vez, não sinto medo dele, sinto... - Olhe bem para mim, Violet. Você não se recorda mesmo? - Franzo o cenho ao olhá-lo mais atentamente, como poderia conhecê-lo e não me lembrar?
- Por que parou?
- Eu não consigo, não posso fazer isso. - Ele diz enquanto desvia os olhos do meu.
- Você consegue sim. - Digo, na esperança de morrer. Afinal, eu mereço isso, não?
- Você sempre foi a mais forte de nós dois. - diz como se estivesse se desculpando.

  Oi? Ele realmente acha que me conhece? E ainda me acha mais forte? A garota que não tem coragem de tomar decisões por medo de magoar as pessoas? Isso chega a ser patético
  É a primeira vez que realmente reparo nele. Seu cabelo é loiro num tom escuro, é curto, mas grande o suficiente para que eu consiga prender em minhas mãos, se quiser. Tem uma barba rala que o deixa com uma expressão mais velha. Seus olhos são verdes cinzentos, e estão vermelhos pelo choro. Tem um olhar que quase me domina, me faz queimar...
  Me permito sentir algo por ele, por mais estranho que seja... Talvez seja pena, eu não sei direito, mas sinto, é quase inevitável.
  Ele se aproxima, está me estudando, não deixa o meu olhar em nenhum momento, vejo como sua respiração acelera, ele está tão perto e ao mesmo tempo tão longe, começo a lamentar a distância entre nós.
Quase em um passe de mágica, ele se abaixa e aproxima seu rosto do meu, sinto sua respiração quente em mim. Ele acaricia o meu cabelo, seus olhos são de ligeira preocupação.

- Por que estava se permitindo morrer? - Ele parece chateado.
- Porque eu quero. - dou de ombros.
- E por que quer isso? - parece realmente interessado.
- Sinto que este não é o meu lugar. - digo enquanto o encaro
- Eu sei como é este sentimento.

  Ele me olha e faço isso de volta. Nos encaramos, e aos poucos, o sentimento que tínhamos se tornou outra coisa, era um desejo nu e cru, mas nada que me deixasse desconfortável, era quase como se eu já tivesse passado por isso antes, como se já tivéssemos nos tocado inúmeras vezes.
Me sinto quente só de pensar nisso...
Com a mão direita, ele puxa de maneira calma os meus cabelos, enquanto acaricia o meu rosto com a esquerda. Sinto um frio na barriga só de imaginar que algo pode acontecer.
  Eu não me controlo e me aproximo para beijá-lo, mas sinto minha perna doer por causa daquela maldita queda da árvore e me afasto.
  Entretanto, ele se sente encorajado, então vejo o seu rosto se aproximar mais, chega a ser difícil escapar disso. Até que sinto seus lábios tocarem nos meus, eles estavam frios, de um jeito delicioso. O nosso beijo iniciou calmo e lento, mas depois se tornou agressivo, quase num ímpeto de saudade e desejo. Sim, de saudade. Eu senti muita falta dele.
  Ele me deita de um jeito brusco, mas não sinto dor, sinto-o abrindo minhas pernas, entrando entre elas e me puxando contra si. Posso sentir seus braços fortes me puxando, enquanto suas mãos deslizam pelo meu corpo.
  Ainda estou com aquele vestido vermelho, mas só quero que ele tire, não me importo se ele queria me matar, meu sentimento é real, isso é real.
  Quase lendo o meu pensamento, ele rasga o decote do meu vestido e deixa meus seios amostra. Mas para a minha surpresa ele para de maneira brusca, nem me olha, quase como se tivesse recuperando seu personagem, me diz:

- Quais são suas últimas palavras?- Ele me diz rindo sarcasticamente. - Chegou a tua hora de morrer.

Oi? Ele acabou de beijar e pensa nisso? Eu começo a chorar, não aguento isso, como alguém que acabou de me tocar, pensa em me matar logo em seguida?

- Não faça isso, por favor.- imploro, enquanto lágrimas caem dos meus olhos

- Não é tão fácil, você sabe. - Ele diz, passa a mão no meu cabelo e se levanta chateado. - Seria difícil explicar, então vamos deixar as coisas como estão. Adeus

  Meu peito volta a se encher de água, mas apenas consigo pensar no beijo, nessa porra de beijo. Que merda.
  Eu te odeio, Edward.
  Dizem que quando você está morrendo, começa a ver momentos da sua vida, sejam felizes, tristes, de puro ódio. Momentos. E é quando me deparo que não tenho muitas memórias. A única coisa que me lembro é da minha família. Será que conheço Edward? Nosso beijo foi tão natural que acredito que sim.
  Estou confusa.
  Sinto meu corpo se debater de maneira irracional e sei que vou morrer, então me despeço da minha família e do...
  De repente, tudo fica escuro, mas ainda estou consciente. Ouço gritos em todas as partes. Estou em puro desespero, por isso não sei se são meus ou de outras pessoas.
Procuro um sinal de luz, qualquer um, por isso caminho, sigo sem saber para onde estou indo, até bater meu rosto em uma parede. A dor que eu sinto é real e intensa, ela demora a passar, é ruim, mas pelo menos não sinto mais minha perna machucada pela queda da árvore.
  Ando com a mão na parede, na esperança de ela me guiar até a saída. Sinto sua aspereza e me deixo ser guiada. Vejo uma luz bem a fundo e a sigo.
  Os gritos me deixam confusa, não sei se sou eu ou outras pessoas. Me sinto como se tivesse usado drogas, mas a diferença é que não estou me divertindo, estou desesperada.
  Sigo em frente, estou quase chegando à porta, até que vejo um garoto sendo iluminado pela claridade. É o mesmo que me ajudou a escapar do Edward. Me aproximo na ponta do pé, quase como se eu estivesse com medo de assustar um animal selvagem, o vejo brincando com carrinhos, é imagem mais pura que vi hoje.

-Obrigada por me ajudar a escapar - digo.

Olho para ele na esperança de uma resposta, mas ele me ignora, é quase como se eu não estivesse lá.

-Você está atrasada, garota. Não gostamos disso aqui. - ouço uma voz atrás de mim.

  Me viro e vejo um homem, ele é pálido, está todo vestido de preto e tem um odor forte daquelas flores de cemitério. Ele me arrasta com a maior brutalidade, sinto meu braço queimando.

-Elrik não gosta de esperar, garota insolente.

  Elrik? O Deus do submundo?

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