É a segunda vez que morro na minha vida, e isso é péssimo, pois não bastou sofrer uma primeira vez, preciso de uma seguinte também. O que é um absurdo.
Sinto o buraco na minha testa arder e percebo que está úmido pelo meu sangue, quer dizer, não sei se é, porque já estou morta. Obviamente, isso não impede de me fazer sentir a dor de um tiro. Algo que chega a dar impressão de queimar a alma, quase como a sensação infernal de ralar um joelho. Enquanto isso, sinto uma dor pesarosa na barriga pela gravidade dos ferimentos. E é assim que sigo, sofrendo de bruços no chão de uma rua sem saída no mesmo momento em que ratos passeiam próximos a mim, se vangloriando de uma vida melhor que a minha.
Tento me levantar inúmeras vezes, mas estou cansada demais para conseguir. Eu sei que preciso esperar que os ferimentos cicatrizem antes de que eu possa fazer algo, mas não aguento mais ser o fruto do prazer pecaminoso de moscas, baratas, ratos ou quaisquer outros animais asquerosos que estejam em mim.
Contra a minha vontade, me permito descansar um pouco.
Começo a me lembrar da minha irmã, ela adoraria estar nessa missão suicida comigo, não por querer morrer, mas porque ama se aventurar. Quando era pequenina, ficava tentando escalar o apartamento em que vivíamos, porque o homem do filme missão impossível conseguiria. Meus pais ficaram tão preocupados que encheram a casa de uma tela protetora.
Ela é corajosa o tempo todo, quer dizer, não todo, mas na maioria das vezes. Ela é inteligente e esperta, ainda fazia algumas das minhas lições do ensino médio. Muitas estavam erradas? Sim. Mas é como dizem, o que importa é a intenção.
O que será que ela acharia das minhas atitudes dos últimos tempos? Amáveis? Deploráveis? Será que aprovaria como entrei na floresta para provar a minha coragem ou me acharia insensata. Eu daria tudo para saber o que ela realmente pensaria sobre mim.
Aliás, pensando em floresta, o que o Lucca deve estar fazendo? Tornou-se um feiticeiro? Me procurou na floresta? E se procurou, por que fez isso?
Eu estou tão confusa.
Acho que no fundo, talvez eu quisesse ser uma feiticeira, só fui um pouco imatura e não consegui continuar.
Sinto as moscas me rodeando, embora não possa vê-las, pois já está tudo escuro. Elas fazem um barulho impetuoso, que me faz ficar preocupada se vão entrar no meu ouvido ou na boca. Por isso, em um ímpeto, me ergo e consigo sentar-me, mas logo em seguida acabo me desequilibrando e caio de costas no chão:
- Elrik? Pode me dar uma mãozinha aqui? - gemo enquanto minha cabeça bate sob o chão áspero.
- Posso, ele respondeu, não sabia que estava precisando.
- Como nã... - minha dor lateja a ponto de me fazer gemer de dor - Como não sabia? Não viu que eu levei três tiros?
- Eu vi, mas você não falou coisa alguma, pensei que não precisasse de ajuda.
- Pois preciso, pode me curar rapidamente?
- Posso.
- E vai me ajudar? - Pergunto com expectativa.
- Não. - Responde bruscamente
- Nossa, - digo magoada - Por quê?
- Porque eu não posso interferir diretamente.
- Mas interferiu na morte da mamãe coelha. - retruco em um sussurro.
- Silencio! Nunca mais diga isso, senão estaremos ferrados. Interferi sim, mas aquilo foi para a tua proteção, para que os deuses não te matassem de vez.
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O Poder Da Feiticeira
FantasíaViolet é uma adolescente comum, não é popular, é doce e às vezes, sua bondade acaba se sobrepondo à razão. Tudo é bem normal, exceto pelo motivo de ter sido convocada para um programa de feiticeiros e ter três meses para provar que é uma de con...