Capítulo 4: A Fuga

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   Sinto minhas pernas congelarem, tento movê-las, mas meu medo é tão grande que elas se enrijecem e acabo me forçando a andar. Preciso sair dali.
   Quase como uma despedida, olho para todos os cantos daquele porão, vejo as luzes queimadas, as paredes de um tom cinza, me despeço do colchão em que eu estava, desejando nunca mais voltar a tocá-lo.
    Me dirijo à escada, ela é tão antiga quanto às do templo, é feita de madeira tão podre que me surpreendo por não haver desabado com o peso de Edward.
    Sinto o meu coração acelerado, ele bate tão forte que tenho medo de me partir em pedaços. Posiciono meu pé no primeiro degrau, me sinto inquieta, quase como se fosse ser pega por uma traição, estou com medo de fazer mais barulho que a porta ao cair no chão. Prendo a respiração na esperança de ficar mais leve e conseguir subir a escada.
   Permaneço com a respiração presa, enquanto coloco um pé à frente do outro na escada. São apenas dez degraus, mas estou com tanta aflição que acabo pisando no mesmo várias vezes, até que consigo subir, depois de muito me esforçar.
   Reparo no cômodo em que eu entrei, sei que tenho de partir, mas sou curiosa demais para conseguir sair, então caminho por aquele lugar, era uma espécie de sala de jantar, mas só possui uma mesa feita de uma madeira escura, passo minha mão por ela e sinto uma leve aspereza. Em cima dela, há 3 livros abertos, eles eram grandes de uma maneira exagerada, sempre gostei de ler, mas nunca conseguiria lê-los por inteiro, nem mesmo se eu quisesse.
   Olho para a página aberta, vejo que fala sobre necromancia, começo a le-la:
   "Em cada geração, há o nascimento de um feiticeiro que tem uma ligação com o submundo... Sua força é grande o suficiente para controlar espíritos... criar exércitos com mortos... Trazer alguém que está no submundo... Retornar dos mortos".
   Absorvo aquelas informações e por um momento, desejo ter este poder, quero ser forte assim. Imagino como seria uma vida feliz em que eu sou a pessoa mais forte do mundo.
   Por mais interessante que sejam meus pensamentos, sei que tenho que correr daqui. Encontro uma porta, ela é igual a do apartamento que eu fiquei. Me dirijo a ela, olho para a maçaneta, temendo encontrar Edward lá fora.
   Abro a porta, mas não vejo algo aqui além da floresta. Me dirijo ao meio daquela mata, a mesma que me confundiu aquele dia. Quase de imediato, a sinto provocar efeitos em mim, estou zonza, não sei para onde caminhar.
   Me sinto arrastar, como se mãos me puxassem para o meio  da floresta, até que sou deixada em algum lugar, chego a pensar que foi o mesmo em que fui deixada aquele dia. Não sei porque estou aqui, mas se eu sair, sei que vou perder a consciência de novo.
   Preciso me esconder, então olho para a árvore mais alta que tem próxima a mim. Sinto sua casca grossa com as mãos e tento escalá-la, enfio minhas unhas em seu tronco e me forço a subir. Consigo me elevar, enquanto meus pés me impulsionam. Mas acabo pisando em falso e minha unha do indicador sai, enquanto fica presa na árvore. Eu grito e choro ao mesmo tempo, a dor é aguda e intensa. Sei que o Edward pode me ouvir, por isso me obrigo a continuar subindo.
   Encontro um galho forte e me sento sob ele. Olho ao redor, tudo parece seguro, só ouço o barulho do vento nas árvores. Sem nem me dar conta, seguro o meu dedo na esperança de parar de doer, mas não é o suficiente para a dor cessar.
  Tento me concentrar em Lucca, penso no que ele está fazendo agora e se está preocupado comigo. Tento não me sentir magoada por ele não vir me salvar. Não que eu precise ser salva, mas um pouco de preocupação nunca é ruim.
  Me lembro da sua expressão de nojo quando eu disse que ele só seria homem se viesse, foi quase como se eu tivesse cometido um crime. É errado dizer estas coisas, mas eu só pensava em incentiva-lo. Tudo bem, eu entendo, quando eu chegar no nosso apartamento, pedirei desculpas.
  Olho para o céu, nem percebi que está de dia, estou tão presa em meus próprios problemas que não são muitas coisas que me chamam atenção. Acho que o Edward não me mataria em plena luz do dia, não é?
  Ouço um barulho na mata, sei que há alguém próximo de mim, mas estou no alto, então tenho quase certeza que não há como me verem. De repente, ouço:
   - Violet? - Edward grita.
   Eu não respondo, e tento me encolher no galho, mas me desequilibro e sinto o ar pelo meu corpo, até sentir o meu corpo contra o chão, a dor é tão forte que grito. Acho que quebrei minha perna. Sinto a dor que invade meu corpo e grito.
   -Violet? - Edward grita pela segunda vez.
   Paro de gritar, ele não pode me achar, me esforço para me levantar, enquanto me seguro na árvore em que acabei de cair. Preciso fugir, até ouvir:
   - Violet, confia em mim, eu não vou te machucar, vem até mim.
    E se ele não for?
   - Eu não quero te perder - ele disse de uma maneira sincera
   Começo a andar enquanto choro de dor, não posso gritar. Dou passos pequenos, pois não consigo me equilibrar. Ando devagar vendo cada detalhe da floresta. Sinto seu cheiro úmido, me lembra ao odor de chuva.
    Enquanto ando, me sinto inebriada, vejo o quanto esta floresta me transforma. É a sensação exata de usar droga, não que eu já tenha usado, mas sinto que é a mesma, então deve ser.
    Estou quase chegando ao lugar que queria, deveria estar com medo, mas me sinto quase corajosa, confiar nas pessoas é um ato de bravura.
    - Estou aqui. - disse para Edward.
     Ele se vira para mim e sorri, nunca havia reparado nele, mas nesta ocasião, notei que seus olhos são verdes, sua pele é clara, ele seria lindo se não parecesse algo demoníaco, até sinto meu coração palpitar, mas ele está um pouco longe, não tem como me machucar. Usa um vestido estranho com toca e usa um coturno. De imediato reconheci que são roupas de um feiticeiro.
      Como eu pude não prestar atenção atenção antes? Acho que sou pouco detalhista.
    - Estou feliz que esteja aqui, agora posso te matar. - Ele diz em um tom de felicidade. De imediato, sinto meu corpo encher de água, preenchendo os meus pulmões, nariz, boca, tudo.
    Eu havia esquecido que ele é um feiticeiro, não precisa estar perto para me machucar.
    -Adoro fazer magia com a água. Pensa em como é engraçado: sem ela você não vive, mas também pode morrer com sua presença.
    Aos poucos perco a claridade, ela se esvai de mim, enquanto isso, sinto minha consciência morrer junto comigo.
   

  

   

O Poder Da FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora