Capítulo 1: A iniciação

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  Acordo me sentindo tonta e cansada, por isso fico enrolando na cama, me prendo a um cobertor velho como se fosse o último oxigênio que eu respirasse, embora seja um ar com cheiro péssimo! Receio que nunca tenham lavado aquilo.
  Eu não tenho vontade de ir a outro lugar, quero ficar aqui, chorar mais um pouco, sentir falta dos meus pais e da minha pequena Alice...
   A Alice é a minha irmã mais nova, sempre foi a mais calma de nós, mesmo tendo apenas 10 anos. Ela tem os cabelos negros do meu pai e os olhos azuis da minha mãe. Não paro de pensar em como é linda, e em como sinto falta do teu sorriso luminoso.
   Era realmente luminoso, seus dentes eram brancos, quase chegavam a um tom de azul.
  Eu já sou o contrário, tenho cabelos brancos e olhos vermelhos. Sou assustadora a ponto de dar medo a pessoas sem ao menos olhar para elas.
  Eu acharia legal se alguém me contasse que passa por isso, afinal, quem não quer ser temido? Mas para mim não, isso é triste, sempre me senti solitária e excluída.
  Quando era pequena e tinha cerca de 7 anos, cheguei a perguntar à minha mãe se sou uma vampira, por ser tão diferente. Ela riu, tocou na parte baixa do meu queixo e disse:
  -Ah, minha menina! Você não é uma vampira, apenas tem uma pigmentação diferente das outras crianças, isso faz você ter essa cor... Peculiar. - me fitou enquanto avaliava a minha expressão - Tuas diferenças te fazem ainda mais bonita do que seria se fosse "normal". - disse enquanto fazia uma careta, como se ser normal fosse um insulto para ela.
   Para ser sincera, não lembro do que respondi, mas provavelmente foi algo dizendo que apenas queria ser como ela.
   Está bem, está bem, tenho que esquecer da minha família agora, já sei que nunca mais os verei e devo aceitar isso.
    Me sento na cama, olho ao redor e só consigo pensar em quanto a minha realidade é péssima. Isso é sério? Sou obrigada a estar em um lugar que eu não quero somente porque me disseram que devo? Acham algo sobre mim e preciso pensar que é real?
    Me levanto, vou até um armário, ele é muito grande, tem um tom dourado e claramente não combina com aquele quarto, já que o quarto é todo feito de madeira desgastada.
  Eu o abro e vejo vestimentas lindas, ouso dizer que se parecem com roupas de princesas, mas como não sei o que terei de fazer aqui, resolvo pegar o traje mais simples que tem. É um vestido vermelho que destaca meu cabelo e meus olhos, ele é longo, mas não o suficiente para encostar no chão. Também observo lindas sapatilhas e saltos, mas prefiro usar algo mais confortável. Então, se torna óbvio que pegarei uma botina velha no fundo do guarda-roupa.
  Estou linda e formosa, sim, eu sei.
  Me sinto radiante, até me lembrar de onde e porque estou aqui. Meu sorriso se desfaz. Não quero que pensem mal de mim logo no primeiro dia, por isso saio correndo de uma maneira desastrada até o meu destino sem olhar para nada.
  Chego a um lugar parecido com um templo todo feito de madeira, mas possuindo alguns enfeites de ouro. Aliás, também está, literalmente, caindo aos pedaços! Enquanto subo a escada principal que parece estar podre, meu pé até entrou em um degrau da escada principal.
   Se tem tanto ouro, por que não fazem uma reforma aqui? meu cérebro reclama.
  Por que eu estou aqui? Meu cérebro grita.
  Entro, e aquele lugar não se parece com o que eu acabara de ver. Era quase luxuoso, tudo era de ouro, inclusive os quadros.
  Paro para avalia-los, quase grito quando me dou conta de que eles se movem, quase me senti em algum filme do Harry Potter.
Tudo bem, não posso ficar dispersa, por isso guardo minha surpresa e quase ando na ponta do pé mais adentro daquele templo.
  Entro em uma sala que possui muitas pessoas, acho que 50, mas nunca fui boa em matemática.
  Procuro um rosto amigável lá dentro e vejo uma menina asiática. Não sei se é japonesa, chinesa ou coreana, por que será que não nos ensinam isso na escola? Deveriam, é muito difícil de identificar. Me dei conta de como esse pensamento é impertinente e resolvi pensar em outra coisa.
  Até ela me ver, morro de medo quando ela olha para mim, não porque eu tenha vergonha, mas porque sua expressão é assustadora. Quase selvagem.
Ofereço meu melhor sorriso para ela e vou em sua direção, estendo minha mão trêmula e digo:
  -Olá, eu sou Violet, é um prazer te conhecer.
  Ela me encara de uma maneira tão intensa que me sinto tremer. Quando vê meu medo, dá um sorriso malicioso e diz:
  - Akuma. - Mal disse isso e se vira, me deixa lá, com uma cara de idiota.
   Saio, tentando manter ao máximo a minha dignidade, não consigo olhar para pessoa alguma. Sinto meu rosto esquentar.
  Que raios significa Akuma? Será aquele personagem do Street Fighter? Como ela pôde ser tão cruel comigo?
  Vejo um homem muito velho entrar, sinto até medo dele se desfazer naquela sala, me acho tão engraçada por este meu devaneio que começo a rir sozinha. Sou muito engraçada, não consigo aguentar.
O homem me encara, quase como se tivesse ouvido meu pensamento, e depois de muito me olhar, disse:
- Olá, me chamo Epicarmo, quero que prestem muita atenção em mim agora.- sua voz era calma e baixa, se eu estivesse sentada, provavelmente dormiria- Vocês estão participando de um programa de feiticeiros, todos vocês tem algum poder, apenas queremos ver se vocês tem um coração digno para isso. Este período de testes durará aproximadamente três meses, e nós, sábios, decidiremos se são dignos ou não. Se sobreviverem, claro. - Ele ri de sua conclusão - Se morrerem, irão ficar com o Deus do submundo, Elrik e nunca mais retornarão.
   Todos se olham, a tensão no ar é enorme, se torna palpável, é como se nossos medos fizessem uma espécie de poder invisível que podíamos sentir na pele.
    Só consigo pensar em como isso é ridículo, aquele discurso é ridículo, como acho que sua idade tem atrapalhado seu discernimento do que é real ou não.
    Para finalizar, o vovô Epicarmo disse:
-Para acrescentar, caso alguém esteja interessado em saber sobre meus poderes, contarei um deles: Eu leio mentes. Certo, Violet? - ao dizer isso, todos olham para mim, eu sei que estou ficando vermelha, mas quase como um ato de piedade, ele continua - colocamos perigos reais aqui dentro, neste lugar há monstros e assassinos para que mostrem que são dignos. Se morrerem, não nos responsabilizaremos. Amanhã iniciaremos o treinamento. - diz e já caminha para uma parte escura do templo, mas bem devagar, quase como se seus membros fossem cair pelo caminho.
  Me sinto aliviada por ele ir embora, nem havia percebido que eu ainda estava tão tensa, meu Deus.
  Olho para os outros participantes do teste, quase todos parecem confusos e assustados, menos dois, a asiática e um homem que olhava para mim.
  Nem havia me tocado o quanto ele me fitava, mas agora, me sinto até arrepiada, seu olhar é assustador, quase como naqueles filmes de psicopatas.
  Por isso, me viro e ando enquanto piso no cadarço da minha bota, eu estava tentando andar o mais rápido possível, só preciso chegar até o meu quarto, até que, como era esperado, me desequilibro e caio.
   A dor foi quase como uma agulha entrando em meus joelhos, sinto ela tão intensa, mas prefiro a dor àquela sensação de vergonha que estou sentindo.
  Ouço uns barulhos de risadas, enquanto me levanto e tento não me permitir ficar magoada por ninguém me ajudar. Levanto com o ego ferido, até que ouvi uma voz grossa e firme:
  - Violet, está tudo bem?
Me virei com um sentimento de surpresa, era o homem que me encarava:
  -Eu conheço você? - disse enquanto estava com muito medo.
  -Prazer, sou Edward. - Ele me olha com um brilho nos olhos. Não de um jeito bom, eu estou com muito medo, chego a sentir minha perna tremer.
  -Prazer - disse, enquanto corria segurando o vestido, quase como a Cinderela.
   Ando mais um pouco para chegar próximo do apartamento destinado a mim e ao meu parceiro que ainda não conheci.
   Ao longo do caminho, tento me acalmar pelo auto e vejo o que não havia reparado na hora em que fui para o templo. Aquele lugar se parece com um vilarejo antigo, como aqueles em que tinham costume de queimar bruxas antigamente. Quase tudo era de madeira, alguns detalhes de ouro. Apenas o chão que tem uma textura diferente. É lindo e assustador.
   Como alguém pode viver assim depois que inventaram tantas tecnologias? Como conseguem sobreviver sem televisão? Isso me assusta.
   Chego em meu apartamento, ele mais se parece com uma casa, mas nunca vi uma com escada, então tive que dar outro nome.
Entrei, olho a porta e reparo em como é bonita, é de madeira, mas cheia de símbolos, sua maçaneta é feita de ouro, quase me perco em sua beleza.
    Você precisa ter foco, meu cérebro aconselha
    Tudo bem, eu sei o que preciso fazer. Corro para o meu quarto sem nem olhar para os cômodos ou móveis, só quero me esconder debaixo das cobertas, porque sei que em breve irei conhecer o meu companheiro de quarto.

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