Capítulo 3: A prisioneira

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  Abro meus olhos e estou confusa, sinto minha cabeça girar... Ou será que eu estou girando?
  Porra!
  Meus braços estão presos em uma espécie de barra prateada e estou em cima de um colchão velho e cheio de pó. Sinto vontade de espirrar a cada vez que respiro.
  Começo a puxar meu braço de modo que não consigo controlar, como se as algemas fossem me deixar, embora eu saiba que não vão, apenas as sinto me apertando cada vez mais, me fazendo gemer de dor.
  Olho ao redor, estou em um ambiente mal iluminado, me parece que tem algumas luzes queimadas. Esse lugar me lembra um porão de filme de terror, porém se uma criança fantasma me jogar uma bola, receio não ter minhas duas mãos para jogar de volta. 
   Acabo rindo de meu próprio devaneio, posso estar prestes a ser morta, mas estou me preocupando com a possível brincadeira de um fantasma. Sou uma pessoa um tanto estranha.
   Lembro que quanto eu era criança, tinha uma obsessão por mortos, várias vezes me peguei falando com espíritos, gostava até de ir a enterros porque ficava me divertindo com a pessoa que morreu, enquanto amigos e familiares choravam. Porém, quando contei isso para o meu pai, ele surtou, parecia um louco, disse que eram sonhos e que eu nunca poderia dizer a alguém. Ele nunca me contou o porquê disso, será que era perigoso?
   Não é o momento de pensar nisso, tenho de lembrar o que aconteceu e como vim parar aqui. Minha cabeça está doendo, por isso é um pouco difícil me lembrar, mas aos poucos, imagens aparecem em minha mente, me recordo de Lucca... A minha entrada na floresta... A tontura... Havia mais alguém lá... Mas quem era?
   Então tudo faz sentido, era ele, foi ele quem me prendeu aqui, o...
   Ouço barulhos que se parecem com os de uma fechadura, uma porta se abre e dela sai um rangido irritante. Há barulhos de passos lentos na escada, é quase como se ele estivesse saboreando o momento.
   Edward se aproxima de mim de maneira calma, como se não quisesse assustar um animal selvagem. Se parece com a primeira vez que o vi, quando ele me olhou de maneira predatória, lembro de sentir tanto medo que tropecei em meus próprios cadarços.
  Ele se senta próximo ao meu pé, e eu tento chutá-lo, mas ele pega a minha perna e a torce. Grito o mais alto que consigo e ele diz:
  -Ninguém te ouvirá aqui, então é melhor se comportar. - ele toca em meu calcanhar e desliza pela panturrilha, seu toque é suave, mas não quero que ele me toque, então o chuto de novo, mas ele se protege.
  Com uma expressão de frustração e voz irritada, ele diz:
  -Você é minha, ninguém virá te salvar. Acho melhor respeitar o teu dono.- sai batendo os pés pesados pela escada de madeira que havia no canto esquerdo do porão.
  Sei que é verdade o que ele disse, ninguém virá me salvar. Nem aquele vovó feiticeiro. Ninguém se importa.
  Como poderei sair daqui se não tenho poderes? Magia? Não sei como chamam, mas não possuo. Será que é pedir demais ir embora? Se eu fosse uma feiticeira, já teria descoberto assim como as outras pessoas que estão aqui descobriram.
  Preciso lidar com os meus problemas, mas me sinto exausta, a ponto de doer cada músculo em meu corpo. Por isso, a única solução que tenho é dormir. Estou tão cansada que mal sinto as algemas, apenas desligo sem ter a menor noção do que há em minha volta.
  Desta vez em especial, não tive sonho algum, foi quase como fechar os olhos e abrir, apenas sei que dormi, porque quando acordei, Edward me observava.
  - Bom dia, - ele diz - preparei esse lindo café da manhã. - ele mostra um copo com água suja.
  Isso é sério? Que homem doente.
  Ele vê o meu olhar de reprovação:
  - Enquanto não assumir que é minha, nada lhe darei para comer.
  Sinto meu estômago embrulhar, quero vomitar só por estar vendo o rosto dele.
  - Por que estou aqui? - Pergunto
  - Porque me apaixonei por você. - responde como se aquilo pudesse ser verdade
  - Esse é o teu jeito de mostrar que se apaixonou - contraio os lábios - Isso não é paixão, é obsessão. - nem acredito que disse isso, nunca fui do tipo que fala estas coisas.
  - Você não entende agora. Eu não queria fazer isso, mas foi o nosso combinado. - diz, parece um pouco chateado.
  - Combinado? Eu nem te conheço! - Digo de maneira impulsiva.
  - Falaremos sobre isso em outro momento, quando você voltar. - diz encerrando a conversa.
  Quando eu voltar de onde?, penso.
  Me viro para a barra em que eu estou presa, a única coisa que me fará fugir daquela situação é olhar para ela, pois assim poderei fingir que ele não está lá.
   - Acho que os sábios se enganaram, - ele comenta - você não é uma feiticeira.
  Ele disse algo que eu já sabia, mas não posso fingir que não estou chateada. Como ele pode saber mais de mim do que eu mesma?
   - Apenas sei disso, - ele continua - porque um feiticeiro de verdade nunca se sentiria confuso na floresta. Você é uma humana comum. Mas pode ser minha, só minha, a mulher de um feiticeiro. O que acha?
  Não posso me conter, gargalho tão alto que sinto meu peito doer, o Edward fica tão irritado com a minha risada que saicheio de ódio, consigo ver isso em sua respiração ofegante, mas aos poucos, as risadas viram lágrimas, e eu estou lá, chorando.
  Acho que eu apenas queria ser uma feiticeira, gostaria de ser a versão real do patinho feio, que viraria um lindo cisne. Eu só quero me sentir um pouco menos estranha.
   Este é o combustível do meu sofrimento.
   Me sinto cansada e só penso em dormir novamente, sei que acabei de acordar, mas não tenho o que fazer aqui. Então acho justo, pois a pessoa que mais merece dormir, sou eu.
  Me preparo para dormir, já estou pronta, mas não consigo descansar, sinto o meu peito batendo forte, tem algo errado.
  Tento me sentar naquele colchão duro, mas é um pouco difícil me equilibrar com os braços presos na barra. Por isso, fico concentrada até conseguir utilizá-la como apoio.
Até que...
  Meu Deus!
  Vejo dois pés de criança perto da barra, senti um frio na barriga... Subo meus olhos enquanto observo cada parte do seu corpo, percorro com minha visão por sua bermuda suja e camiseta rasgada até chegar ao rosto. Ele tem olhos pequenos, um cabelo loiro, e um olhar sem qualquer sinal de vida ou brilho. Nos encaramos por um tempo, não sabia o que dizer.
   Enfim tudo faz sentido, é um teste do Edward, só pode ser, uma espécie de manipulação para que eu tente fugir e seja pega de imediato.
  Olho para o garoto e digo:
  - Oi.
  Ele não responde.
  - Qual é o teu nome?
  Ele não responde, então resolvo ser audaciosa.
  - Abra as minhas algemas. - olho para escada para ver o Edward dizendo "te peguei", mas nada acontece, exceto por...
   O garoto abrir minhas algemas.
   Não é possível, deve ser algum teste.
   Me levanto do colchão e acabo caindo por ter ficado tanto tempo sem me mexer, tento me equilibrar enquanto sinto minha perna dormente e olho para a criança tentando ver algum sinal de divertimento, mas nada. Seu rosto não expressa sentimento algum.
    Em mais uma tentativa maluca, digo: 
  - Suba a escada e abra aquela porta para mim -  enquanto aponto para a porta que vira o Edward descer antes.
   O garoto caminhou a passos lentos parecendo um zumbi, quase disse a ele que ia perder o horário do ônibus. O vejo subir a escada e derrubar a porta com uma mão.
   Gritei de surpresa.
   Será a minha chance de escapar?
  
  

  
 

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