Todos os meus desafios foram cumpridos, embora ainda me sinta culpada por ter matado a mamãe coelha. Se tudo der certo como planejei, irei ressuscitá-la assim que me tornar uma necromante definitivamente. E agora? Agora estou de volta ao submundo pronta para retornar para a terra e terminar o treinamento de feiticeiros. Para falar a verdade, nem sei por quanto tempo eu fiquei fora ou se alguém sentiu minha falta. Mal posso esperar pela expressão de assustados quando eu chegar lá.
Desde quando retornei, todos os seres celestes têm me apoiado, gritam o meu nome e me dão salva de palmas exagerada. O que acho que não fariam se soubessem que os enganei, que minha irmãzinha não está morta, muito pelo contrário, está mais viva do que nunca.
Olho uma última vez para Elrik antes de ser transformada em necromante. Ele está bem vestido agora, sem sombras de tristezas ou qualquer sombra de que algo estranho entre nós aconteceu. Ele parece até radiante. Suas argolas na orelha tilintam a cada movimento. Seu terno grudado parece que vai estourar a qualquer momento. Mas ainda assim, mesmo com todas as coisas estranhas que há nele, ele é lindo. Um urso negro lindo e muito, muito sensível.
Soube que após me transformar em uma necromante, não terei mais sentimentos ou emoções. A cada vida que tirei, perdi um pouco da minha alma, da minha capacidade de amar ou me apaixonar. Ser uma necromante requer isso, achar as outras pessoas irrelevantes. Mas será que não ter matado a minha irmã vai mudar isso de alguma forma?
Bem, não sei, assim como não sei se quero ter sentimentos pelas pessoas, é algo péssimo. Não aguento mais sentir exageradamente.
Agora é a hora.
Estou em um palco no submundo, enquanto os seres celestes estão sentados na plateia me observando. Cada um está com o rosto vidrado em uma expectativa de me ver sendo elevada. Até mesmo o Deus que tem uma forma de leão olha para mim com olhos brilhantes, mas não sei se é porque está feliz por mim ou porque quer fazer um churrasquinho com o meu corpo mais tarde.
O Elrik pega um cálice de prata com um líquido preto gosmento, ele profere palavras incompreensíveis enquanto os deuses à nossa frente urram numa espécie de ritual. Os anjos do céu e os caídos balançam suas asas rapidamente como se fosse uma dança coreografada de quem fez isso inúmeras vezes. Minha cabeça fica atordoada com o tanto de barulho que tem nesta sala.
Tomo o licor do cálice ao mesmo tempo que faço uma careta por seu gosto amargo e quente. De início, não sinto uma diferença muito grande além do gosto ruim. Apenas vejo os rostos dos deuses como uma leve interrogação de: é só isso? A multidão fica silenciosa, e até Frederick me olha consternado, alternado seu olhar entre mim e o Elrik. Começo a ficar envergonhada por não ter acontecido coisa alguma e resolvo sair do palco.
- Vocês têm certeza de que ela é uma necromante? Por que não está acontecendo coisa alguma? – O deus em formato de leão grita para o Elrik quando percebe que vou sair.
De repente, quando dou meus primeiros passos para sair dali, minhas pernas ficam bambas e fracas, a tontura me aflige enquanto começo a flutuar. Sinto um frio na barriga pela altura, mas não consigo parar, pois subir é inevitável. Meus olhos começam a queimar de um jeito tão doloroso que fazem lagrimas brotarem em meu rosto. Ouço a multidão de seres celestes gritando com um tom enérgico, como se estivessem desesperados ou com medo, o que chega a ser estranhos, pois são deuses e anjos, os famosos donos da porra toda. Então, por que gritariam assim? No fundo posso ouvir um anjo sussurrar de um modo pasmo como se fosse falar de uma aberração: Que merda que está acontecendo? Os olhos dela estão brancos.
Meu coração acelera parecendo que ia atravessar meu peito, posso senti-lo latejando em minha cabeça, fazendo com que eu sinta medo por mim mesma. Meu corpo começa a doer em todos os lugares imagináveis e inimagináveis. Sinto o meu nariz sangrar e inevitavelmente caio e com o impacto, começo a convulsionar com a o meu corpo batendo loucamente no chão. Sinto líquidos escorrendo da minha boca e do meu nariz. Minha visão fica turva, mas ainda posso ver o Elrik se aproximando em um grande borrão negro. Tento me mover, mas tudo o que consigo fazer é passar a mão em sua perna. Sinto que vou desmaiar, mas antes posso ouvir:
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O Poder Da Feiticeira
FantasyViolet é uma adolescente comum, não é popular, é doce e às vezes, sua bondade acaba se sobrepondo à razão. Tudo é bem normal, exceto pelo motivo de ter sido convocada para um programa de feiticeiros e ter três meses para provar que é uma de con...