Capítulo 8: Revelações

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  Estamos rindo há horas. Ou será que são minutos? Quando se está no inferno, o tempo se trata de conceito, mera ideia que não se prende a coisa alguma. Não tenho a mínima noção de quanto tempo estou aqui, e nem me importo com isso, só sei que Elrik não para de me dizer idiotices, e isso só me faz ver que simplesmente nos completamos.

  O vejo falar sobre como seu reino é grandioso. Ele está sentado em seu trono, olhando para mim, um pequeno ser que está sentado no chão observando-o. Elrik está gesticulando freneticamente enquanto se engrandece, o que eu acharia ridículo em qualquer outro momento, mas neste momento, se tornou um pouco tolerável. A verdade é que ele não o babaca insuportável que os outros deuses desprezam ou que as pessoas têm tanto medo. Vulgarmente o chamam de lucífer, mas ele não é o possuidor deste nome, não é um demônio, ele é só ele. O Deus do Submundo.

  - É a primeira vez que te vejo sorrindo desde quando chegou aqui. – Seu tom é dramático, mas com uma pitada de provocação.

  - Isso é obvio, só te vi uma vez desde quando cheguei, quer dizer, duas contando com essa. – Digo em escarnio.

  - Tudo bem, você tem um ponto.

  - Eu sempre tenho. – falo enquanto finjo lixar minhas unhas.

  Mas ao olhar para a expressão de Elrik, reparo que há algo de errado. Ele ainda não tirou seus óculos escuros, mas está com o cenho franzido, enquanto seu rosto está voltado para outra direção. Por um momento, sei que há uma batalha interna em sua mente, algo que o perturba e sente medo de me contar. O urso se desloca para frente e fica na posição de O Pensador. Sei que está fazendo isso para que eu pergunte o que está havendo. Céus! Ele é tão dramático que me dá vontade de rir. Vejo se ajustar na cadeira novamente procurando uma posição confortável, mas depois desiste e senta-se no chão ao meu lado. A cena é tão ridícula que acho que rirei muito mais tarde: um urso com lindos pelos negros e uma sunguinha colorida, ao lado de uma garota que nem possui metade do seu tamanho.

  - Violet... – Ele sussurra, quase como se falar assim fosse seu grito desesperado por socorro – Eu preciso te contar uma coisa, mas talvez você nunca me perdoe...

  - An? – Eu não estou entendendo onde ele quer chegar.

  - É que...

  - Santíssimo Deus do Submundo? – Frederick interrompe bruscamente com uma voz dissimulada. De onde é que ele saiu? – Algumas pessoas morreram fora de seus horários destinados, o que farei a elas?

  - Ai que susto, cara, não faz isso comigo. - Elrik diz exasperado - Bom, Frederick, apenas os despachem para os seus corpos. Você já fez isso antes. Sei que conseguirá resolver este problema como sempre. – Elrik disse entre sorrisos sinceros.

  - Sim, senhor, mas acho que desta vez você deveria estar presente. – Frederick estremeceu.

  - Olha bem para mim, Frederick, para não haver engano com o que falarei: te livrei do teu inferno pessoal para você achar algo? Se eu mandei resolver algo, vá e resolva. Simples. – Elrik rugiu.

  - Sim, senhor. – disse com uma voz baixa enquanto saia da sala.

  Elrik se volta para mim, mas sua expressão não é de raiva como pensei que seria, ele está triste. Ele está tão perto de mim que posso sentir seu cheiro de shampoo de cachorro, e tenho o ímpeto de abraçá-lo, mas sei que isso não é algo bom para se fazer com um Deus, principalmente quando se é maluco como ele.

  - Eu preciso te contar uma coisa. – Ele sussurra. – Na verdade, são duas coisas.

  - O que? – Estremeço.

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