Capítulo 6: O Deus do Submundo

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Estou sendo arrastada, sinto mãos frias, porém ardentes, segurando o meu braço, me levando para elrik. Claro que eu poderia tentar uma luta contra este homem que me leva, mas sou tão fraca e frangalha, que se ele quisesse me derrubar com seu dedo mindinho, conseguiria sem o menor esforço.

Reparo ao meu redor, este lugar é tão cinzento que me faz lembrar daqueles dias que estamos acordados, mas sentimos que estamos sonhando. O lugar é claro, mas não por raios solares ou lâmpadas, apenas é, quase como se fosse designado a receber a claridade.

Seguimos reto, passamos por uma fila muito grande, chega a ter um tamanho exagerado. Não consigo ver onde ela se inicia, nem onde termina, mas consigo reparar na expressão das pessoas que estão na fila.
Eu disse expressão? Quis dizer, falta de expressão! Seus rostos não revelavam ódio, felicidade, rancor, tristeza. Havia um grande e terrível nada.

O homem que apenas veste preto continua me puxando, já tropecei várias vezes e mesmo quando caí, ele não parou, apenas continuou me arrastando de maneira rude. Se eu morrer, tudo bem, contanto que possa levar o meu braço.

Ah é, já estou morta!

Ele se vira de maneira brusca e atravessa em um dos espelhos levando o meu braço junto, mas ao invés de apenas deixá-lo no comando como se eu fosse um boneco de pano, eu posiciono os meus pés contra a parede e faço toda a força para não entrar. Ficamos em um cabo de guerra com o meu braço, até que ele resolve ceder e passa pelo mesmo caminho que entrou.

-É um atalho, pode parar de atrapalhar, garota? - tenta conter sua irritação, mas falha.

Minha avó me disse uma vez, "mulheres sábias são submissas aos homens", sempre a achei certa e como sou uma boa aprendiz, respondo:

-Sim, senhor.

Ele volta a prender sua mão em meu braço e a me arrastar para o espelho. Sinto como se cada pedacinho de vidro entrasse em meus ossos, mas não percebo a dor, apenas uma agonia que me aflige e sufoca.

Passo pela parede espelhada, mas nada vejo, tudo está escuro, não há uma fonte de luz sequer. A sensação de andar aqui é quase como levantar de sua cama no meio da noite para acender a luz: você tropeça, bate o dedinho na quina de um móvel e sente uma dor tão aguda que faz lágrimas brotarem nos seus olhos. Eu já bati e tropecei em inúmeras pedras no chão, mas este maldito homem de preto não para de me levar como se eu fosse uma mochila de rodinhas.

Aos poucos, vejo que a escuridão está se dissipando até se transformar em um cinza fosco, como se eu realmente estivesse sonhando. Há um trono de um tamanho mediano ao longe, não é gigante como pensamos que os Deuses possuem, mas não é pequeno também. Não há ouro nem prata em sua decoração nem se parece com um trono de um rei. Tem um tom cinzento e posso ver alguns ossos humanos ao seu redor, quase como um troféu.

Olho ao meu redor, há símbolos místicos espalhados por todos os cantos da sala. Há uma porta escancarada de frente para o trono, e dela posso ver aquela fila que encontrei ao chegar aqui, este é o lugar para onde aquelas pessoas estão indo, é o lugar onde serão condenadas após morrerem. Acho essa ideia deprimente, você sofre a vida toda, morre, as pessoas vão ao teu enterro para dizer "descanse em paz", mas na verdade, não haverá descanso, apenas o terrível julgamento.

Olho para o teto e vejo que tem um formato oval, quase como uma toca, a toca do urso, a toca do Elrik.

Nasci em uma cidade que acredita que há um ser no mundo que nos representa. Este ser pode ser um animal ou uma planta, mas que representa determinada coisa em nossa sociedade. Elrik é exatamente este ser, um urso totêmico. Ele é responsável pelo nosso julgamento pós-morte, só que o irônico disso tudo, é que foi ele quem ensinou as pessoas a pecarem, então como pode nos julgar?

O Poder Da FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora