Diferente

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Trasformar-se em dragão nos espaçosos jardins da bruxa não fora algo muito difícil. Com o belo anoitecer colorindo os céus ao redor, Kirishima não tinha do que reclamar. Rodopiava sobre os ares com a facilidade de uma pluma, aproveitando um pouco de sua nova liberdade enquanto observava as belas paisagens esverdeadas da floresta.

Depois de conversar um pouco mais com Ashido e Uraraka, a grande tensão de anteriormente dissipou-se entre conversas banais, piadas torpes e algumas detalhadas histórias de infância. A partir disso, mal notaram a passagem do tempo, só caindo em realidade quando o sol deu os primeiros sinais de sua partida; potencialmente tornando dificil a caminhada de volta para casa. Ashido foi a primeira a precisar partir, e Kirishima não tardou a seguir seu curso – mas antes, Uraraka o questionou algo que ficara pendente no diálogo anterior: como a maldição havia quebrado.

Nisso, sua mente permanecera por um instante.

Kirishima, após sua seção dura com a bruxa, sabia que a maldição era relacionada a sua humanidade – então, obviamente, para quebrá-la, alguém teria de o reconhecer como humano (de alguma forma) enquanto estava preso em seu corpo bestial. Lembrar que esse "alguém" foi Bakugou... tinha um efeito esquisito.

A maneira em que tudo se decorreu, em memória, parecia um sonho – a queda no alto dos céu, a sensação de suas velhas escamas se desfazendo, as lágrimas infindáveis em seus olhos, o choque genuíno no rosto do loiro – um sonho tão bonito que chegava a ser distante.

"Era um pôr do sol como esse, não era?" – Pensou, suspirando fundo enquanto fazia uma curva entre as nuvens. – "Que engraçado."

Depois de percorrer mais da metade do caminho com as asas, pousou a alguns quarteirões de distância do pico de movimento do reino; para não assustar ninguém com sua condição metamórfica. Seguiu a pé por mais umas árvores até chegar no centro da cidade, que no alvoroço noturno, o deixava completamente eletrizado. Todos os tipos de corpos, personalidades, características; todos os tipos de seres pensantes estavam aglomerados naquele amontoado de ruas largas, recheadas de lojas. A variedade de tudo ali era absurda, muito maior do que se lembrava – mas a essa altura, já não ligava mais pra isso. Estava disposto a parar, curtir e experimentar tudo de novo, como se fosse a primeira vez.

No seu andar calmo entre as calçadas movimentadas, observou atentamente algumas vitrines. Percebeu que, mesmo após ter recebido algumas roupas novas, ainda preferia usar as peças de Bakugou. Dizia pra si mesmo que elas eram mais confortáveis, já que o loiro tem a mania de usar tudo uns 2 números acima de seu tamanho – porém, no fundo, mesmo que não admitisse, havia se acostumado com o cheiro das mesmas.

Mas quem podia culpá-lo? O aroma doce de caramelo era viciante.

— Argh... porque eu só não só consigo parar de pensar? – Divagou, enquanto sua voz era sobreposta pelos barulhos urbanos.

Suspirou fundo mais uma vez, aflito, e continuou caminhando pensativo – até esbarrar numa face conhecida. Uma face que possuia olheiras profundas, feições jovens, cabelos roxos arrepiados e estava usando uma roupa social; estranhamente comunicativo com algumas pessoas que entravam numa loja.

— Ei, olha por onde... – O outro virou-se, levemente incomodado, mudando de tom apenas ao ver em quem tinha esbarrado. – Wow, ahn... oi, "senhor vindo dos mortos".

— Shinsou, que legal te ver! – Kirishima exclamou, o cumprimentando com entusiasmo em um aperto de mão firme. – Desculpa por ter esbarrado. O que faz por aqui?

Mokutekichi - KiribakuOnde histórias criam vida. Descubra agora