Mokutekichi - Kiribaku

Hipócrita

Duas semanas haviam se passado desde que os dois garotos empenhados começaram a treinar juntos. Por estarem no meio de um resumo intensivo, não tinham muito tempo para permanecerem estagnados e, para Kirishima especificamente, sempre havia algo novo para testar. No trabalho, ele comumente comentava com os colegas sobre seus pequenos progressos, tanto que até os incentivava a se exercitarem com tamanha energia e entusiasmo. Ele não conseguia evitar – sentia-se cada vez mais forte ao perceber novas habilidades adquiridas.

Acostumado a atividades exaustivas, o ruivo não demorou a perceber que seu primeiro dia de teste não foi nem perto do nível de dificuldade padrão da Mitsuki, o que no fim deixava tudo ainda mais eletrizante.

Cada semana tinha um tema geral, baseando-se nas provas que Bakugou faria no último dia daquele mês. O primeiro foi "furtividade e agilidade", onde o metamorfo aprendeu a reconhecer armadilhas, observar padrões naturais e a esgueirar-se por entre a floresta mais eficientemente; notando a verdadeira importância de conhecer o território em volta e de utilizá-lo ao seu favor. O segundo foi "combate corpo-a-corpo e armamentos", envolvendo analise de comportamento em tempo real, aprimoramento de reflexos e reconhecimento de ataque a várias distancias.

Enquanto defendia-se do loiro explosivo, Kirishima pode enxergar uma outra forma de conhecê-lo melhor; ser forçado a atentar-se a sua forma de agir e reagir em batalha, repetidas vezes.

— Tch, você precisa manter os pés firmes no chão se quiser defender-se de um ataque direto. Defesa e ataque têm estratégias diferentes, mas não dá pra usar uma sem a outra. – Bakugou falou, observando o ruivo entrar em posição. – Não assim, imbecil, isso só vai atrasar seus movimentos.

— Tá, então... – O ruivo se reposicionou, afastando mais as pernas e agarrando a espada com mais força. – Assim?

O aspirante a caçador permaneceu de braços cruzados por um momento, segurando o riso – porém, antes que Kirishima pudesse tentar outra pose, ele avançou rapidamente com um chute lateral. O impacto foi tão concentrado que o metamorfo teve seu corpo totalmente empurrado para trás; suas costas bateram com força no chão de barro e sua arma voou para longe de suas mãos.

— Segurar a espada com tanto pulso só pra largar no primeiro ataque? Desperdício de força. Se quiser movê-la direito, precisa soltar um pouco a mão. – Bakugou apontou, direcionando sua própria arma em direção ao rosto alheio. – E você sempre esquece a primeira regra de um combate: não dê tempo pro oponente te analisar.

— ...mas eu nem sabia que já era um combate—

— Qualquer momento pode ser um combate, imbecil. Essa é a ideia. – O loiro retrucou, divertindo-se. – Você está aqui para ser saco de pancada, esqueceu?

Aquela frase arredia ecoou cínica pelos ouvidos do ruivo, junto de um sorriso sarcástico que o fez não conter esforços para sorrir de volta, no mesmo nível. Como resposta, teve de assistir Bakugou empurrar o pé sobre seu peito, sem o menor pingo de dó.

— I-isso dói, sabia? – Kirishima grunhiu, fingindo sofrimento.

— Ah é? – O loiro pôs ainda mais força na perna, curvando-se na direção do outro com expressão sádica. – Então trate de prestar atenção no que está fazendo, idiota.

O ruivo sorriu ainda mais abertamente, pondo os braços detrás da cabeça como alguém que relaxa sobre a areia fofa da praia.

— E o que eu estou fazendo, Bakugou?

Um ranger de dentes foi tudo que o aspirante a caçador respondeu, atentado, com as mãos pipocando em um calor abrasador.

— ...você sabe muito bem que não vai sair inteiro disso.