Cansaço

235 40 89
                                    

Os segundos passavam devagar sob aquela atmosfera densa. Tensão gelada percorria suas veias desde o momento que pisou na entrada de sua humilde e aconchegante residência. Para Izuku Midoriya, estar em meio a tantos segredos que não lhe pertenciam tinha incontáveis desvantagens – entretanto, a maior delas era definitivamente estar sempre à beira do colapso de todos aqueles que se preocupam consigo. Sua mãe, para começo de conversa, o amava demais para deixar que fizesse qualquer coisa minimamente arriscada; sua namorada, porém, o conhecia bem demais para saber que sua existência, por si só, era um imã de confusão.

Para o pequeno investigador, uma mensagem tão fora de hora geralmente não era sinônimo de boa coisa, ainda mais uma vinda de alguém que não fosse do seu trabalho. Só de cogitar o que sua mãe poderia pensar caso soubesse dos problemas em que estava metido... seu estômago já embrulhava. Odiava preocupá-la, principalmente depois de todo o lance com o All Might – temia que um dia talvez a mesma não aguentasse o estresse.

— Mãe? Cheguei! – O esverdeado anunciou, não demorando a tirar os sapatos para atravessar o apertado corredor de entrada. – A senhora chamou? Está tudo bem?

Logo após o chamado, Inko Midoriya apareceu no fim da passagem, com os cabelos escuros caindo pelos ombros e uma expressão levemente contraída, mas não muito alarmista. Ela virou sua pequena estatura o mais calmamente possível em direção do jovem rapaz.

— Que bom que veio – Ela celebrou, em tom sereno. – Está tudo bem sim, me desculpe se lhe assustei...

— Não tem problema! É ótimo que esteja tudo bem – Ele exclamou, aliviado. – Mas então... a senhora precisa de mim para algo?

— É... mais ou menos. É melhor você ver por si mesmo. – Ela respondeu, sem saber como anunciar o que viria em seguida. – Vou deixar vocês a sós, assim podem conversar mais à vontade.

Midoriya a princípio não entendeu o que sua mãe queria dizer com aquilo – contudo, antes que pensasse em questioná-la, a mesma já havia saído de casa. Deixado sozinho com suas ideias, logo de cara percebeu que havia visita, e que essa visita não era Uraraka – afinal, sua mãe adorava conversar com ela, então não havia motivo para que elas não pudessem esperar até a noite. Também sabia que não era Iida ou Todoroki – pois se eles precisassem de algo tão urgente, chamariam direto ao palácio... e claro, sua mãe também simpatizava muito com eles. Então, incerto do que se seguiria, continuou em estado de alerta até ter um mínimo vislumbre da sala de estar...

Quase não acreditou em seus olhos.

Enquanto isso, Bakugou esperava sentado num sofá escuro e piniquento, contendo todas as forças em seu corpo que berravam para que se levantasse imediatamente dali e fugisse para o mais longe possível. Já havia roído suas unhas até a carne e suas pernas não se aquietavam por nem um segundo. Desconforto azedo percorria suas veias antes mesmo da figura esverdeada cruzar a entrada da sala.

Uma troca de olhares ácida foi inevitável.

— Wow... é você mesmo? Nossa... – Midoriya murmurou, um tanto assombrado. – Eu mal lembro da última vez que você veio aqui... quer uma água? Café? Chá preto, talvez? Se é que esse ainda é seu favorito...

— Sua mãe já ofereceu tudo isso. – O loiro respondeu.

— Ah, claro.

Nem a iluminação fresca que ultrapassava as janelas daquele pequeno cômodo suprimia tamanho constrangimento. Uma quebra urgente de contato visual foi necessária para que eles mantivessem pelo menos parte de suas questionáveis sanidades.

Aquela seria uma longa tarde.

— Estão... o que te traz aqui nessa tarde de meio de semana? – O esverdeado perguntou, receoso. – Algo de trabalho que a gente deixou pra trás? O CPCV está uma zona esses dias...

Mokutekichi - KiribakuOnde histórias criam vida. Descubra agora