Nostalgia (Parte 2)

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Atravessando a ponte de mármore claro que cruzava o pequeno riacho em torno daqueles famosos jardins, Kirishima e Midoriya não tardaram a contemplar o belíssimo ambiente que os recebia. Resolvendo acompanhar o percurso da água, eles observaram as cercas irregulares enfeitadas com flores variadas, a grama tão verde quanto uma pintura lisa e as esculturas abstratas espalhadas pelo trajeto – como um labirinto coberto de arte e de misticidade. O silêncio, que a pouco os constrangia, naquele momento se fez cômodo e estável, deixando-os apenas a apreciar os sons naturais dos pássaros, das cigarras e do sopro calmo e sereno do vento.

— Não consigo deixar de me impressionar com esse lugar, é tão... não tenho nem palavras. – O ruivo comentou, maravilhado.

— Aqui é bem difícil de descrever mesmo... eu até diria mágico, mas acho que soa meio redundante. – Midoriya disse, fitando o outro com curiosidade. – ...alguma coisa em mente?

Kirishima sorriu de canto.

— Nada demais. – Ele respondeu, um tanto alheio. – Só... o quanto as coisas mudaram pra mim de dois meses pra cá. É difícil explicar.

— N-não precisa explicar se não quiser! – O esverdeado interviu, sentindo-se um tanto invasivo.

— Relaxa, não é que eu não queira, eu só... realmente não sei como – O ruivo esclareceu. – Tipo, faz pouco mais de um mês que voltei a fazer parte do reino, pouco mais de mês que andei por aqui e...

A sensação de ter tudo aquilo que já vivera tão próximo de seu alcance (e mesmo assim, tão longe e inalcançável) era como, no mínimo, viver em meio a neblina de seus inesgotáveis mistérios internos. Naquele trajeto, em específico, essa mesma névoa intensificou-se de tal modo que Kirishima até cogitou, por meio segundo, a possibilidade de que suas memórias ainda estivessem ali, pairando pelo seu subconsciente apenas esperando uma oportunidade de aparecer...

Porém, ele preferiu não se agarrar a algo tão vazio.

A essa altura, estava se conformando de que essa sensação de familiaridade, essa saudade que não sabia dizer do quê... como se fossem partes de sua sombra, elas o seguiriam dali pra frente; não como algo assustador, mas como um quieto incômodo.

Um sussurro distante que o chamava para dentro de si mesmo.

O entardecer estava bonito naquele dia. O jardim ao seu redor era belíssimo, e os pássaros estavam cantando acima de sua cabeça. Ele estava contente de poder conversar mais com o esverdeado, contente de estar cercado de pessoas incríveis que estariam ali para seus melhores e piores momentos... contente de poder olhar no espelho e não mais enxergar o fantasma do que um dia foi, mas a carne do que hoje é e a possibilidade do que um dia será.

— ...sei lá, minha cabeça é meio que uma bagunça. – Kirishima elucidou, um tanto sem jeito. – Mas não é nada demais, sério... só umas das coisas que vem do nada e passam quando eu levanto pra trabalhar de manhã cedo.

— Eu fiquei sabendo que você tá trabalhando com as fadas! – O esverdeado rememorou, intrigado. – Me disseram que as entidades não curtiram muito a ideia de você ficar por lá... o que é estranho, já que elas são o menor grupo e sempre precisam de ajuda.

— A Ashido também não entendeu a revolta deles. Eu até tentei dizer a ela que não queria causar tumulto, mas a afortunada insistiu que as razões deles eram "sem pé nem cabeça" e que eles estavam muito "espinhosos", então esse rolê todo acabou sendo desempatado pelo resto do grupo ativo. – Kirishima recordou, saudoso. – Enfim, o resto do pessoal foi tão receptivo que eu acabei nem prestando tanta atenção nisso.

Mokutekichi - KiribakuOnde histórias criam vida. Descubra agora