Lembranças Malditas

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Duas semanas se passaram. Tudo parecia ter mudado depois daquela decisão (muito sábia, por sinal) de não matar aquele dragão. Sua rotina mudou, e o loiro estava cada vez mais feliz e de bem com a vida ultimamente, mesmo que nunca admitisse isso. Suas explorações pela grande floresta (que a anos já conhecia na palma da mão) foram trocadas por mais tempo de caçada, passeios pelo céu, coletas de frutas e banhos de cachoeira momentâneos. 

Seus colegas até estavam percebendo mudanças em seu comportamento, em seu humor, e até no jeito de abordar os outros, mas não diriam nada para ele não voltar a ser um embuste. 

Enfim, naquele dia não tinha sido muito diferente, apenas tinha precisado sair da caverna para entregar sua cota de caça semanal no "Conjunto dos Caçadores". Fez o que devia fazer, respondeu perguntas aleatórias de Midoriya sobre a vida e saiu de lá direto para sua casa, já que estava tarde. E até aí estava tudo bem.

Só que aquela noite seria um pouco diferente.

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Sentiu seu corpo cair de joelhos e sua pele queimar devido as labaredas que incendiavam a floresta e as casas próximas. Os gritos de socorro desesperados de varias pessoas ecoavam de maneira perturbadora em seus ouvidos e suas pernas não moviam um centímetro. Sentia-se pequeno, como uma criança.

Tentou se levantar e andar em meio ao fogo, achar alguém conhecido, seus pais ou algum dos colegas de sua mãe no curso de caça, porém aonde quer que ele ia o exército do "reino humano" devastava tudo. 

Sua vista estava embaçada pelo excesso de fuligem e fumaça nos céus, e aos poucos se tornava cada vez mais difícil de enxergar. Sua garganta começou a fechar com a poluição pesada das máquinas a sua volta, sua respiração começou a falhar e seu corpo foi perdendo força.

Enquanto cambaleava, os sons que ouvia começaram a ficar muito distorcidos, tão distorcidos que por alguns segundos não conseguiu entender nada do que estava acontecendo. Até que os gritos começaram a baixar seus tons, e pouco a pouco se tornaram mais claros.

 Não eram mais pedidos de ajuda, eram gritos de dor.

Sua mente ardeu alarmando o pior e suas pernas ganharam força sabe-se lá de onde. Mesmo assim, já não conseguia ver quase nada, apenas dois vultos que puxavam um outro menor... Que gritava alto de dor, suplicando para que o soltassem.

E aqueles gritos eram reconhecíveis.

Seus olhos se arregalaram quando percebeu quem estava sendo levado atrás daquela fumaça espessa, e com toda a força de suas pernas começou a correr naquela direção. Sentiu um aperto forte no peito quando as suplicas cessaram, estendendo a mão ao vento na tentativa esperançosa e vã de alcançar algo, alguém.

Mas que, no final das contas, já não estava mais lá.

— KIRISHIMA!!!

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Por mais que tivesse ido dormir como qualquer outro dia, acabou sonhando com algo que a algum tempo já havia se retirado de sua mente, mas que voltou como brasa quente que queima na pele.

E ele não sabia o porquê disso.

As vezes era engraçado pensar o quanto sua consciência gostava tanto de fuder suas noites de sono. Aquilo ainda doía e já fazia mais de 5 anos que tinha acontecido. Se sentia estúpido por ainda estar assim, como se isso o deixasse completamente fraco. Lágrimas rolavam pelo seu rosto, enquanto a dor rolava pelo seu peito e as memórias rondavam em seu cérebro.

Mokutekichi - KiribakuOnde histórias criam vida. Descubra agora