Duas Ilhas em Polvorosa

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Moors estava como sempre estivera, nenhuma copa de árvore ou folha tinha sequer um resquício de fogo. As criaturinhas noturnas que habitavam aquele lugar mágico, contaram sobre a névoa branca e mágica que varreu Moors durante a noite, contou o que aquele poder havia feito, não restituiu os mortos, mas a natureza em Moors e os feridos estavam curados. O dia ainda trouxe mais uma surpresa quando um grupo enorme de crianças, homens e mulheres fadas surgiram voando pelo céu. As crianças apenas estavam encantadas com aquela terra tão cheia de magia que era Moors, apenas os adultos ainda traziam o medo na face, afinal estavam fugindo da morte e quase não puderam chegar em Moors, tamanha era a escuridão em que voavam. Mas Derek um dos melhores navegadores entre eles conseguiu guiar sua família e amigos até Moors, mas quando chegaram a manta negra que cobria os céus já havia ido embora, estavam exaustos mas não sentiam mais a magia negra que antes poluia o ar.

"O que aconteceu aqui?" Derek perguntou a primeira criatura que viu, uma fadinha bem pontuda e pequena que tinha como companhia um menino cogumelo.

"Uma magia malvada veio para nos destruir, mas vencemos a batalha e então uma magia muito boa veio e concertou toda nossa casa." A voz fininha não escondia o pouquinho de medo que havia atrás dela.

"Isso é incrível." Lucian comemorou, um fada negra de sete anos. Não demorou para as fadas mais jovens se dispersar por Moors os adultos saíram atrás deles, mas com muitos pensamentos na cabeça. Como estaria a sua ilha sagrada?

(...)

Em sua ilha mãe Malévola recebia sorrisos rasos e mais cumprimentos de várias fadas, todos pareciam absurdamente aliviados por ver seus feridos em perfeitas condições, já que corria a história de que a filha da Fênix era quem havia curado a todos ali. Apesar de o sentimento de tristeza não ter abandonado nenhuma das fadas naquele lugar, ainda assim havia a gratidão. A cerimônia dos mortos já estava para começar quando Melévola pisou no campo onde ficava a sua sagrada árvore dos mortos, sobre a raiz brilhante da árvore os mortos repouzavam, pelo menos uns trinta havia ali, eram muito dos seus e a fada teve de ser ainda mais forte quando viu que sequer o corpo de seu melhor amigo, e único amor verdadeiro estava lá. Não havia lhe sobrado nada dele, nenhuma lembrança sequer, pelo menos não física.

Aurora se juntou a mãe assim que a viu no campo, as frutas estavam espalhadas por toda parte, a música fúnebre era de partir um coração ao meio, ao mesmo tempo que te faria relaxar o corpo e a alma em questão de segundos. A princesa não parava de pensar em Moors e em Ulstead, pensava em sua melhor recente amiga Liz e pensava em seu amado sogro. Pensava em seus pequenos dependentes nas terras de Moors, terra essa qual não seria mais guardiã de acordo com o que sua mãe lhe contara. Era tanta coisa pra pensar, e ver aqueles corpos mortos ainda a fez se sentir mais preocupada. A esta altura ela já havia sido informada da morte de seu pai, Diaval estava morto. Morreu se sacrificando por milhares, até mesmo contra a sua natureza frágil de passaro, Diaval foi um dos heróis na luta contra Gilic, o cruel. Aurora sempre quis que sua mãezinha tivesse família, mas se fosse pra ser como Gilic, ela preferia continuar sendo a família da fada.

Aurora abraçou a mãe pela cintura sentindo a postura rígida da fada ceder um pouco, a o maxilar retraído se abriu em um sorriso pequeno. Malévola não se sentia pronta para relaxar, não havia se dado a aquele prazer desde que saíra da batalha. Ela iria relaxar, mas quando estivesse sozinha, não se debulharia em prantos na frente de tantas pessoas.

(...)

As fadas todas restantes na ilha formavam rodas e mais rodas ao redor da árvore dos mortos, como se fossem as camadas de uma cebola ao redor do grosso tronco. As raízes brilhavam lindamente acendendo os corpos que repouzavam no chão. A canção proferida na língua materna das fadas negras parecia melancólica apesar do sentimento de paz que transmitia. Malévola, Phillip, Aurora e os guardas do príncipe eram parte da unidade que cantava a plenos pulmões. Em certa altura da cerimônia, Aurora se impressionou ao ver um dos mortos virar fumaça, uma bela fumaça brilhante. E assim todos os outros mortos fizeram em seguida, um a um, aparentemente pela ordem em que morreram, do primeiro ao último. Ao fim da "queima" não haviam mais lágrimas, a canção estava ainda mais agitada, a luz na raiz da árvore estava ainda mais brilhante. Foi quando a árvore apagou.

Todos os que faziam suas preces se levantaram e olharam para onde o esqueleto da grande fênix jazia, a luz foi até lá e então retornou para a grossa árvore, e ela devolveu ao seu povo uma bela canção. Como que se despedisse e da maneira mais melodiosa, pedia que aquilo nunca mais voltasse a se repetir. Receber um filho ou outro pela idade tudo bem, mas receber muitos e por uma guerra, ela não desejava mais. As canções mais agitadas e fervorosas findaram, e deram lugar a uma melodía fluida e calma, que restou por toda a noite enquanto as fadas guerreiras restantes se alimentavam e agradeciam a vida, as suas próprias e a vida dos que ficaram.

Udo e Malek, não fizeram o mínimo esforço para ficarem distantes um do outro, Udo não deixou que seu companheiro soltasse sua mão por motivo nenhum. Aurora que aproveitava a companhia de Ária, a quem a jovem princesa devia a vida e a de seu bebê também, não conseguia conter o sorriso sempre que vislumbrava um ou outro olhar entre os homem, tamanho era o amor dividido em cada um deles. Ela já havia presenciado olhares como aquele, só que com um pouco mais de ironia e disfarce, mas não os veria mais de onde era acostumada. Afinal não tinha mais seu padrinho, e Malévola agora só tinha tristeza no olhar.

Ária convidou a princesa e Phillip para rodar e dançar em volta da fogueira, era bom, Phillip adorava ver sua Aurora sorrindo, ainda mais depois da sensação de tê-la perdido, ainda mais agora que sabia que seria pai. John ficaria eufórico quando descobrisse, o príncipe mal podia esperar para contar ao pai a novidade. Dançou na companhia das garotas ao redor do fogo por bastante tempo, quando pararam estavam cansados, os três rindo.

Malévola estava mais afastada da socialização. Estava feliz pelo seu povo, ou o que havia restado dele, estava feliz pois recebeu notícias de Moors, e sabia que todos que haviam se ausentado da batalha estavam bem, principalmente as crianças e fadas mais jovens. Já havia recebido notícias de Moors, sua terra mágica havia sido igualmente atacada e Ulstead também. Ela sabia que algo não estava certo por lá, mas não queria estragar a felicidade de sua menina e nem de Phillip, ele era um bom rapaz e merecia esse momento com sua nova família.

Ao fim das festividades, que durou até os primeiros lances do sol, todas as fadas negras retornaram a suas devidas tribos. Apenas Shrike que se despediu de todos e voou rumo ao templo que antes fora de Nazca. O cansaço e a tristeza no brilho dos olhos azuis de Aurora foi o único motivo pelo qual a fada negra se levantou. Sabia que sua praga estava cansada, se ocupou em levar ela e Phillip pra casa com a ajuda de Borra. Os homens de Phillip foram levados a cabana na qual pertenciam desde que chegaram a ilha, partiriam em breve e também estavam exaustos.

Depois de deixar a filha e o genro no seu ninho Malévola acompanhou o outro até a saída, era claro como o dia que o fada que a acompanhava tinha algumas questões. E Malévola estava disposta a ouvir, a não ser que ele ultrapassasse o limite...

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E mais um capítulo aí, demorado e sofrido porém está aí. Achei meio ruinzinho, mas vai melhorar!

O que será que Borra quem com Malévola hum?

Até o próximo!
❤️

Malévola - Era Sombria Onde histórias criam vida. Descubra agora