A Liberdade de um Pássaro

141 16 6
                                    

Diaval estava ali ele sentia tudo, toda magia da fada que não féria Gilic, o atingia forte e certeira. Ele sabia que Malévola nunca o machucaria, mas infelizmente naquela situação ela não tinha nenhuma escolha. Ele se sentiu ainda pior quando não conseguiu impedir o cruel de vestir seu rosto para se livrar do ataque certeiro que se metera. A ideia daquele ser fora tão efetiva que no mesmo segundo Malévola cessou a investida que poderia enfim ter posto fim a vida de Gilic. O ato dele se mostrou tão certeiro, que o coração de Diaval se aqueceu de certa forma, Malévola não lutaria contra ele, nem que isso custasse sua vida.

Gilic matou muitos para se tornar forte daquela forma, quem via de fora podia achar que era resultado da magia dos seus ancestrais que fora roubada, mas não era isso que o fazia forte. Era a dor. Cada homem ao longo dos anos, cada guerra e cada ser e criatura mágica que ele havia matado para se alimentar, eles constituíram sua força, o medo deles, a dor.

"Derrote-o, tome de volta o que é seu e somente seu."

Uma voz feminina se fez audível mesmo sobre a luta. Era doce e melodiosa, no fundo tinha um leve tom autoritário, lembrava ele de uma outra pessoa. Diaval tentou sorrir, mas não dava, até o menor dos atos doía, parecia quebrar e quebrar todos seus ossos repetidamente.

"Quem é?" O corvo mal conseguiu escutar a própria voz, se arrependeu no segundo seguinte ao que falou. O cheiro na cela em que estava era quase tão insuportável quanto a dor que sentia. O odor do sangue apodrecido fazia revirar o estômago que já estava vazio a dias.

"Nós somos a família dela, assim como você." Diaval ficou confuso por segundos até associar a quem a voz se referia, quem era o "dela".

"Não se esqueça de nós." Diaval não sabia quem era "nós" mas a voz era mais velha.

"Temos uma chance." Diaval se esforçou mais olhando todo aquele vazio, tentando identificar algo na escuridão, mas não viu nada, afinal ele era um pássaro, não um gato.

"Ele é muito mais forte... Do que eu. Mais poderoso." A frase foi dita em partes, o pobre corvo estava cansado demais. Não queria ser pessimista e destruir a esperança daquelas vozes, fossem eles quem fossem, mas a verdade era uma só apenas.

"Veja." Como por mágica uma janela surgiu na escuridão. Ele não entendeu o que estava acontecendo até ver ela.

Malévola estava perdendo, apesar de todos os golpes que recebeu da fada, ela estava perdendo. Exatamente naquele momento Diaval viu os olhos verdes que mais amava no mundo, viu a vida querendo abandona-los.

"Eu vejo seu amor, por ela. É vivido, é puro e tão verdadeiro que ultrapassa a dor. Mesmo beirando a morte ela ainda pensa em você." A voz falava com tanta verdade e carinho que Diaval se desafiou a acreditar.

Ele olhou novamente a janela flutuante e quando escutou ela chamar seu nome, pedindo desculpa uma coisa amarga dominou seu corpo. Estava sendo um fraco, deixara aquela criatura tomar seu corpo, e foi tão fácil. Ele jurou proteger Malévola com a própria vida, acontecesse o que fosse ele devia isso a ela.

"Como eu deterei ele?" Diaval estava disposto.

Sentiu algo entrar em seu peito. Uma força anormal tomou seu pequeno corpo, então retornou a sua forma humana. Quebrou a gaiola onde estava e uma vitalidade que antes ele não tinha o fez se sentir novo de novo. Sem pensar duas vezes Diaval se lançou em direção aquela janela.

(...)

Malévola estranhou quando deixou de sentir a magia apertando seu pescoço. Porque Gilic desistiria agora? Mesmo não querendo a fada abriu os olhos. O que viu alegrou seu coração de forma absurda, mesmo que não fosse cem porcento era Diaval quem estava ali. Ajoelhado a sua frente no chão, o homem corvo sentia a dor por Gilic tentar retomar seu corpo, estava mais forte dentro de si do que se sentia agora. Sabia que não conseguiria manter o fada preso por muito tempo.

Malévola - Era Sombria Onde histórias criam vida. Descubra agora