Três Dias Para a Festa

187 15 15
                                    

Malévola acordou primeiro aquela manhã, não tinha nem certeza se tinha realmente dormido. Olhou para onde Diaval estava na noite passada quando adormeceu e o homem ainda estava ali, adormecido em toda sua glória. Diaval ainda parecia o seu Diaval dormindo. Estava sem a camiseta, o que era novidade, já que o homem-corvo não dormia sem roupas. Malévola notou uma vermelhidão nova na cicatriz que ele tinha no tórax, parecia que ela  havia sido refeita recentemente. Mas não estava ferida por fora, a vermelhidão vinha de dentro, como se tivesse queimado de dentro pra fora.

Os olhos verdes da fada se concentraram mais, como se ela estivesse em transe. Temendo que Diaval pudesse estar se ferindo por estar triste consigo mesmo, Malévola tentou tocar a cicatriz, ela podia curar o ferimento e Diaval nem mesmo saberia. Deixou sua magia fluir de seus dedos e quando a poeira amarela tocou o a cicatriz do corvo ela se tornou negra rapidamente, e Diaval pareceu despertar de uma vez. Malévola se assustou e tentou se afastar dele, mas não deu tempo, o homem-corvo segurou seu pulso num aperto quase desumano.

- O que está fazendo irmãzinha? - Malévola olhou nos olhos do corvo e não acreditou no que viu, Diaval estava com os olhos amarelos, um amarelo intenso como o que ela tinha visto em... Gilic.

- Diaval? - a voz da fada mal saia de sua garganta. - O que está fazendo o que aconteceu...

(...)

Malévola acordou sendo agitada por Diaval, uma pequena dor em sua cabeça e ela então se lembrou dos olhos amarelos. Olhou para Diaval assustada, mas não estavam mais ali. Os olhos do corvo estavam negros como o de costume.

- Quem é Gilic? - a voz do corvo era grave, talvez um pouco temerosa.

- Onde você ouviu isso? - Malévola se afastou de Diaval em um bater de asas.

- Você estava falando enquanto se debatia durante o sono. - Diaval a olhava concentrado. Era ciúme? Não parecia ciúme!

- Não é ninguém. Devo ter imaginado coisas. - Malévola não queria contar, devido ao abismo que se criou entre ela e Diaval, ela não queria ver ele talvez debochar da sua história, mesmo sabendo que ele não faria isso.

- Se está dizendo, afinal não deve ser muito difícil pra você ficar inventando coisas na sua cabeça. - Diaval se afastou deixando uma Malévola confusa e triste pra trás.

Diaval estava diferente sim, mais frio talvez. Mas ele não era Gilic. Malévola se repreendeu mentalmente por comparar esse Diaval mais rebelde com Gilic, Diaval nunca feriu ninguém, diferente de seu irmão. A fada ignorou a situação e se aproximou da saída do ninho onde o homem estava.

- Quer que eu te transforme para que possamos voar em busca do café? - a fada tentou ignorar a sensação de desconforto em seu peito.

- Não precisa. Eu vou me virar. - Diaval falou seco. Malévola concordou e saiu voando dali.

...

Esperando apenas a fada sair de vista, Gilic usou sua magia para transformar o corpo do corvo em um enorme gavião. Mas uma coisa ainda martelava em sua cabeça, como Malévola sabia seu nome? Será que ela sabia sobre ele? Bom, ele esperava que não, pois se a fada soubesse sobre o Cruel, ela tentaria impedi-lo, e se ela tentasse... Ele não fazia questão de manter a filha da Fênix viva de qualquer forma. Encontrou um pássaro voando baixo novamente, refeição era refeição. Voou como uma bala na direção do pássaro desavisado e cravou as garras na barriga do pequeno, o matando sem demora. Gilic se alimentou tranquilamente ao som das súplicas de Diaval, que aos grasnidos pedia a ele que não fizesse aquilo, que não matasse um "irmão".

Aprisionado dentro do próprio corpo o espírito do corvo tentava lutar contra a escuridão. Ele podia conseguir se manter longe por enquanto, mas não por muito mais que um dia. Diaval era fraco, não suportava a idéia de ferir seus iguais, isso o enfraquecia. Em breve ele morreria, sem água e sem alimento ele morreria logo e então Gilic teria o corpo do corvo somente para si. Gilic deixou parte do sangue do pássaro do qual se alimentou cair sobre o corvo aprisionado. Diaval se assustou e quando se deu conta de que aquilo era sangue ele  chorou. Seja qual fosse a feitiçaria que colocaram em si, era por demais cruel. Cansado de implorar pela liberdade o pequeno pássaro preto, agora ensanguentado, fechou suas asas pequenas em sua cela e se permitiu chorar pelo amigo que acabará de matar. Mesmo sabendo que não era ele realmente quem estava matando, ele se sentia culpado.

Gilic permitiu a Diaval vê-lo. Estava um pouco irritado com a lamentação do corvo.

- Olá, pássaro idiota. - o rosto ferido e com aparência podre se refletiu no sangue do pássaro recentemente morto no chão da cela que Diaval estava. O corvo se assustou brevemente pela voz, mas logo se lembrou de tê-la ouvido antes.

- O que é você? - o pássaro grasnou cansado.

- Sou sua maldição, você é meu destinado. - a falta de sentimentos na voz do reflexo fazia as penas de Diaval se arrepiarem de medo.

- Por que eu? Eu fiz mal a alguma coisa mágica? Mesmo a alguma pessoa? - Diaval grasnou.

- Não, é só pelo fato de você ser fraco. Pode lutar contra a escuridão agora, mas não vai conseguir impedi-la por muito tempo. - Gilic se aproximaou mais de Diaval e o corpo externo do corvo fez o mesmo. - Vai desistir de lutar quando tiver que matar ela, ou bem, elas.

- Eu nunca faria isso, não vai encostar nelas! - o pássaro se agitou com a menção de sua pequena e confusa família.

- Mataremos todos, mas deixarei elas saberem que quem as matou foi você, o amado de uma e o pai da outra. - os lábios podres daquele reflexo ousaram se levantar em um sorriso cruel.

- Não encontrará minha filha. E Malévola vai derrotar você. - a fala do corvo foi interrompida por uma risada de escárnio.

- Tolo. - o reflexo levantou a mão e simulou como se estivesse apertando a garganta do pássaro, e então Diaval sentiu seu pequeno pescoço ser realmente apertado. - A mim ela mataria, mataria sem ter que se esforçar demais. Mas não você, ela te ama. E sobre a pirralha humana. Ela está bem aqui. - Gilic virou diaval na direção norte de onde estavam, e com a visão de águia ele viu, as roupas rosas e leves, os pés descalços. Era ela, sorridente e brilhante. Aurora estava alí, junto de Phillip.

- Não... Aurora... - o pequeno corvo foi engolido pelo escuro. Sua consciência se apagou devido a falta de oxigenação do cérebro. Gilic voltou a dominar o corpo do corvo.

Parou para observar a princesa, adotada pela irmã. Ela era ainda mais bela que Malévola. Ele não precisou pensar duas vezes para decidir que teria a outra para si também, assim como Malévola, Aurora seria sua, antes de matá-las Gilic mataría suas almas, seu amor por Diaval.

═══════════════════
E aí meninx, parece que as coisas estão ainda piores agora. Como uma criatura mágica pode ser corrompida tão profundamente pela podridão assim?

Será que Aurora vai notar? Será que nossa Malévola vai ficar feliz? Será que a festa vai rolar tranquila?

Deixe os comentários falarem por vocês, amo ler comentários. E deixa aquele like maroto também.

Até a próxima!
♥️

Malévola - Era Sombria Onde histórias criam vida. Descubra agora