Capítulo 08

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Por muito tempo, Lori fez esboços dos aposentos de Jack enquanto esperava que ele viesse encontrá-la ali. E mais de uma hora havia se passado quando, cansada de desenhar, ela pôs-se a andar pelo camarote. Mas aquilo também logo a aborreceu. Ah, que graça havia em ficar ali, se ele não resolvia aparecer? Trinta minutos atrás, quando decidir voltar ao convés, Kesia fizeram retornar à cabine do capitão, dizendo-lhe que não havia nada que ela pudesse fazer para ajudar que os feridos, que já recebiam os devidos cuidados.

O que mais lhe restava fazer, então?

Desanimada, Lori sentou-se à escri- vaninha e ficou a olhar pela escotilha. Dez minutos depois, novamente enfastiada, preparava-se para rumar à sua cabine quando, ao baixar os olhos, deparou com o diário em que Jack estivera fazendo anotações. Sem refletir sobre o que fazia, ela apanhou o volume e começou a folheá-lo ao acaso.
Uma série de números numa deter- minada página chamou-lhe a atenção.

3 de novembro de 1777.
1.000 moedas pagas a Simon Platt por lealdade;
800 moedas pagas a Robert Gehrig, pelo mesmo.

Lori franziu as sobrancelhas. Jack recompensava seus homens pela lealdade? Que estranho...

Páginas adiante, as coisas se esclare- ceriam:

14 de abril de 1778

Aportamos em Barbados. Ouvi três homens conversando sobre Simon Platt, que lhes dissera ter perdido a perna ao fugir de mim. Platt lhes falou que eu o amarrei ao mastro e lhe decepei parte da perna para que sangrasse até a morte enquanto seu navio ardia em chamas. Platt também lhes disse que escapara do fogo porque o mastro havia se que brado e que ele era o único sobrevivente ao meu ataque. Mandei mais 800 moedas para que Morgan enviasse a Platt como pagamento pelo trabalho bem feito. Essa história ira atemorizar alguns dos homens que andam no meu encalço. Preciso lembrar de narrá-la a quem quiser me ouvir no práximo porto em que ancorar.

Boquiaberta, Lori começou a ler as anotações com redobrada atenção. E não demorou a descobrir informações que a deixaram simplesmente fascinada pela figura do capitão Jack Rhys. Uma delas, talvez a mais significativa, dizia respeito ao acordo de Jack e o amigo Morgan Drake; pelo combinado, Morgan deveria recolher os sobreviventes dos navios afundados por Jack.

Isso explica o navio do "tio" Morgan nas proximidades de embarcação espanhola hoje... - ela murmurou. - Ora, Jack Rhys, quem diria? O seu coração é bom.

E era mesmo. Segundo as anotações no diário de bordo, Jack garantia a seus marinheiros uma parte razoável de todos os seus ganhos ilícitos, além do direito de votar como o navio seria administrado e por quanto tempo navegariam antes de retornar a uma ilha no Atlântico sul, onde muitos marujos tinham familiares que não desejavam acompanhá-los nas viagens em alto-mar. E quando Jack perdia um dos tripulantes de seu navio, os membros da família do morto recebiam uma vultosa remuneração anual para que não passassem por dificuldades.

Havia também relatos detalhados sobre os encontros com inimigos e de como Jack vira-se obrigado a punir um determinado membro da tripulação. Contudo, nenhum deles mostrou que o pirata agir com crueldade ou que tomara alguma medida que um comandante militar não tomaria em situações similares. Seria possivel que tudo aquilo fosse realmente verdade? Mas por que um comandante de navio escreveria mentiras no seu diário de bordo?

Lori ouviu passos pelo corredor. Mais do que depressa, fechou o livro dobrou os braços em cima da escrivaninha e deitou a cabeça sobre as mãos unidas, fingindo descansar.

Pouco depois a porta se abria para dar passagem ao capitão. Erguendo os olhos para ele, Lori espantou-se com a palidez de seu rosto e as manchas de sangue que lhe cobriam a camisa. Ela
se pôs em pé.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora