Capítulo 15

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Naquela noite, amaram-se como se mundo estivesse prestes a se acabar, um saboreando o gosto e o calor do corpo do outro, ambos deleitando-se com beijos ardorosos e carícias sem fim, experimentando prazeres com os quais nem ele nem ela haviam sonhado. Quando enfim adormeceram, tinham braços e pernas entrelaçados e uma expressão de satisfeita tranqüilidade no rosto.

Às primeiras horas da manhã, Jack acordou com batidas nervosas à porta do quarto. Ainda entorpecido de amor e sono, foi ver de que se tratava e encontrou Morgan à soleira, mãos nos bolsos e o semblante sombrio.

Seu amigo não se deu ao trabalho de cumprimentá-lo. Numa voz seca, destituída de emoção, disse-lhe apenas:

- Wallingford está chegando.

Jack teve a impressão de levar um soco no estômago. Wallingford. Fazia sentido. Se era para fazer o mal, o velho sempre aparecia.

- Ben já está sabendo? - perguntou.

- Pedi a Tarik que fosse avisá-lo.

- Quanto tempo até Wallingford chegar?

- Uma hora, talvez. Ele vem com três navios de guerra.

- E eu não tenho navio algum...

- Tem o meu.

- Não, Morgan. Agradeço, mas já envolvi você demais nesta história e sei o quanto tem se esforçado para deixar a pirataria. O melhor que tem a fazer é esconder-se até que tudo esteja resolvido.

- Jack virou-se para a cama, onde Lori ainda dormia, depois prosseguiu:

- Prometa-me uma coisa.

- Tudo o que você quiser.

- Se eu vier a morrer, cuide para que minha fortuna seja dividida em partes iguais entre Kit e Lori.

- Mas, Jack...

- Prometa.

- Está bem, está bem. Será feito como você quiser.

- Agora vá esconder seu navio. Se Wallingford o reconhecer, irá colocá-lo a pique.

- Eu havia pensado nessa possibilidade, por isso mandei que minha tripulação o levasse para o outro lado da ilha, longe das vistas do almirante. Seja como for, quero estar lá quando você o enfrentar.

- Não, eu...

- Você precisa de uma pessoa de confiança a seu lado, Jack. E eu não seria covarde a ponto de deixá-lo sozinho num momento como este.

   A lealdade de Morgan nunca deixava de surpreendê-lo, mesmo assim ele não teve tempo para agradecer: depois de lhe apertar o ombro com força, seu amigo já desaparecia no fim do corredor.

   Fechando a porta sem fazer o menor ruído, Jack encostou a testa na madeira e deixou escapar um longo suspiro. Não havia sentido em desejar o impossível. Aquele era o caminho que ele escolhera e agora era o momento de render-se ao seu destino. Foi até a cama e ali ficou observando a claridade da manhã a acariciar o corpo nu de Lori. Era como se sentisse o sal da pele dela em sua língua, as mãos pequenas e delicadas afagando-lhe as costas. O tempo que passaram juntos fora tão breve, mesmo assim havia sido a melhor parte de sua vida. Se tivesse de morrer, que morresse agora, quando ainda trazia frescas na memória as imagens dos momentos em que a tivera nos braços. A pequena sereia adormecida diante de seus olhos o transformara para sempre.

  Cobrindo-a com a colcha, Jack foi vestir-se para esperar pelo inevitável.

  Lori despertou com o sol em seu rosto e um aroma de presunto recém-frito a lhe penetrar as narinas.       Aspirando o cheiro bom, abriu os olhos e deparou com Jack em pé junto à janela, o olhar perdido no mar.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora