Capítulo 09

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Jack franziu as sobrancelhas.

- Salvar a mim? De quê?

Lori molhou o pincel na mistura de cores com que tentaria reproduzir o dourado que o sol deixara nos cabelos dele, só depois respondeu:

- De si mesmo.

- Essa é boa.

Como se subitamente constrangido, ele procurou ajeitar-se melhor junto aos travesseiros. Uma mecha castanha caiu-lhe sobre a testa, e a camisa muito branca abriu-se ainda mais, revelando um tórax moreno e forte. Lori não se lembrava de ter visto homem mais belo, mais perfeito, mais... sedutor.

- Seja como for, por que você haveria de querer me salvar?

- Por quê?- E agora, o que deveria responder? - Porque... Porque me parece que você não é tão mau quanto dizem.

- Não esteja tão certa disso. Posso lhe dar o nome de uma centena de pessoas que tentariam convencê-la do contrário.

Lori sorriu, então prendeu o pincel entre os lábios enquanto limpava um pequenino borrão na tela. Só ela poderia citar três homens que concordariam com o capitão. Mas apesar do que pensavam seu pai, Justin e o almirante Wallingford, ela deixara de ver Jack Rhys como um perigo à humanidade.

Tirando o pincel da boca, prepara- va-se para retomar seu trabalho quando percebeu que ele havia mudado de posição. Jack estava agora completamente deitado sobre as costas... e se espreguiçava como um lânguido gatinho. Antes que Lori pudesse,se reprimir, seus olhos já tinha pousado sobre o volume à parte dianteira da calça de camurça que ele vestia. Como seria Jack Rhys... nu?

"Lorelei Dupree, você perdeu o juízo?!", repreendeu-se, sentindo o rosto em brasa. "Uma mulher de respeito não pode pensar nessas coisas, nunca!"

Alheio ao que se passava, ele respirou fundo, sentou-se na cama e começou a amarrar os cordões da camisa.
- Desculpe-me, sereia, mas eu não conseguia mais ficar na quela posição.
E estou com a sensação de que ficar tanto tempo parado mexeu com a minha paciência. Além do mais, é hora de fazer minha ronda e verificar se a tripulação precisa de alguma coisa.

Ela não conseguiu emitir uma só palavra. Não era capaz nem mesmo de olhá-lo nos olhos. Aliás, como voltaria a encará-lo depois de imaginar... aquilo?

Jack aproximou-se do cavalete e ficou admirando os esboços sobre a tela enquanto prendia novamente os cabelos com a tira de couro.

- Você é mesmo muito talentosa, srta. Dupree.

Lori baixou a cabeça ao cumprimento. E manteve os olhos fixos na paleta em sua mão, embara- çada tanto com o elogio como com as idéias malucas que às vezes a assaltavam. Mas Jack não estava completamente errado. O retrato estava realmente ficando bom. O problema eram os olhos dele, de um azul quase impossível de se reproduzir e com um brilho de força e inteligência que nem o maior dos pintores seria capaz de transportar para a tela.

Lori ainda pensava no que dizer quando ele, curvando-se, murmurou ao seu ouvido:

- Sou mais interessante de se pintar do
que uma fruta?

O hálito quente e adocicado de encontro ao seu pescoço a fez estremecer. Céus, ele iria deixá-la maluca.

- Bem... Posso dizer que você se manteve quase tão imóvel quanto uma maçã, capitão Rhys.

- E eu posso lhe pedir que, como faria com uma maça, você me dê uma dentada?

- C-como? - O susto fez Lori esquecer-se do constrangimento e erguer a cabeça para encará-lo.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora