Capítulo 12

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Em seus aposentos. Lori calculou o tempo que Tarik levaria Para despir o capitão e depois retornar à cabine que ocupava. Os minutos pareciam horas enquanto esperava, o bloco de esboços e um bastão de carvão entre as mãos.

Ao ouvir passos no corredor, ela contou até dez, depois correu a abrir a porta. Espiou para um lado, para outro... Ninguém. Com o coração na garganta, Lori passou pela porta entreaberta e, pé ante pé, cruzou a curta distância que separava o camarote de Jack do seu.

Encontrou-o deitado de lado, o rosto voltado para a porta, coberto pela colcha vermelha. Uma mecha de cabelos caía-lhe sobre a testa, e ele ressonava serenamente.

- Ainda está dormindo? — Lori sacudiu-o de leve. - Jack? Jack?

Ele não respondeu.

Ela sorriu. Até que enfim podia estar perto de Jack sem ter de brigar com ele. Podia fazer tudo, tudo o que quisesse sem se preocupar com uma reação tempestuosa. Ah, aquela sensação de poder sem limites era inebriante! Em que outras circuns- tâncias seria capaz de se sentir mais poderosa do que o Terrível Jack Rhys?

Puxando a colcha para baixo, Lori lhe expôs o torso. Teve vontade de passar os dedos pelas costelas esguias, de explorar os músculos dele sob a palma da mão, mas não ousou tocá-lo. Iria somente ajeitar a coberta na posição em que estava naquela ben- dita manhã.

Com essa idéia em mente, ela ergueu a parte de baixo da colcha a fim de deixar à mostra os pés e as longas pernas dele. Depois, retomando o esboço, comparou a pose que tinha à sua frente ao desenho no papel.

- Não era bem assim...

Após deixar o bloco à beirada da cama, arrumou a coberta sobre o quadril estreito. E quando sua mão roçou sem querer o abdome rijo, teve a impressão de que alguma coisa se avolumava debaixo do tecido carmim.

Lori se afastou com um gritinho. Seria o... Claro que sim. O que mais haveria de ser?

Como seria o sexo de Jack?

Não, não, isso ela não podia fazer. De jeito nenhum. Mas Jack nunca ficaria sabendo... Ela, no entanto, saberia. Isso bastaria para que nunca mais conseguisse olhá-lo nos olhos.

Decidida a questão, Lori colocou a cadeira estofada diante da cama, apanhou o bloco, sentou-se e começou a desenhar.

Jack a observava através das pálpebras semicerradas. Não saberia explicar como conseguia manter-se imóvel, muito menos entender como não reagira quando ela roçara a mão inocentemente em seu ventre. Até agora suas entranhas se retorciam de tanto desejo. Um desejo que quase o enlouquecera quando ele imaginara que Lori fosse descobri-lo por inteiro.

Que pena que ela não fizera isso! A pequena sereia queria apenas desenhá-lo. Quem acreditaria numa coisa dessas? Mulheres! Inútil tentar entendê-las.

Relaxando um pouco, Jack pôs-se a admirar a maneira como ela franzia de leve a testa enquanto trabalhava. Adorava observar Lori desenhando. O modo como o braço dela se movia, a forma como ela mordia o lábio quando analisava seus traçados... Como Justin fora capaz de não incentivá-la a se dedicar à pintura e ao desenho, se ela amava e tinha um enorme talento para a arte? Se Lori fosse sua mulher, ele iria... Não, não tinha por que pensar nessa hipótese. Lorelei Dupree não era sua. Nunca seria. A ele só resta a idéia de saborear o delicado corpo dela para depois guardá-lo na memória. Uma recordação agridoce, que ele haveria de trazer na mente e no coração até o dia em que algum inimigo lhe tirasse a vida.

Por fim, ela largou o bastão de carvão sobre o colo e, erguendo o esboço, comparou-o à cena real.

- Perfeito - disse baixinho. - Consegui.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora