Capítulo 10

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Equanto Lori debatia-se em questionamentos, duas semanas Se passaram. Os homens de Jack continuaram a tratá-la com respeitosa atenção, e Henri a tomara por aluna. O talento do francês para a pintura era um dom nato, refletindo-se especialmente na mistura de cores e no uso do carvão para sombreamento.

Lori também se tornara bastante amiga de Sarah e de Alice, que agora sempre tomavam o café da manhã junto dela no convés superior. Depois de conversarem um pouco, as duas iam cuidar de seus afazeres e ela descia ao camarote do capitão para dar prosseguimento ao retrato que fazia dele.

Como Jack se mantivesse um tanto estranho desde a noite em que a vira dançar com Henri, Lori já começava a pensar que ele havia abandonado a idéia de seduzi-la. E embora soubesse que isso deveria deixá-la bastante satisfeita, não conseguia deixar de imaginar se haveria uma maneira de vencer a distância que se estabelecera entre ambos.

Nessa manhã, ela fora logo cedo para os aposentos do pirata. Decidira trabalhar no quadro enquanto Jack cuidava de sua rotina matinal, que incluía receber os relatórios diários de Tarik e providenciar que as necessidades da tripulação do navio fossem supridas.

Antes que se despedissem, Alice a alertara para o fato de que o capitão não estaria de bom humor, visto que passara boa parte da noite nos porões da embarcação bebendo e jogando cartas com o marido dela e mais um grupo de marujos. Segundo a moça, Jack sempre ficava péssimo quando não dormia bem.

Naquelas circunstâncias. Lori ficou um tanto aliviada por não ter de aturar os maus bofes do pirata até as dez ou onze horas. E foi com esse estado de espírito que abriu a porta do camarote dele.

A cena diante de seus olhos a fez congelar.

Ainda adormecido, Jack estava esparramado sobre a cama, o corpo nu parcialmente enroscado na colcha de cetim vermelho. Com o fôlego preso na garganta, Lori não conseguiu impedir que seus olhos viajassem pelos contornos do físico primoroso, do rosto tão belo às pernas longas e musculosas, recobertas por pelos dourados. Sim, ele era de fato especialmente bonito. A curva dos ombros ressaltava músculos fortes, o peito largo movimentava-se à cadência da respiração tranqüila, as mãos bem feitas descansavam sobre o colchão, os cabelos revoltos pelo sono emolduravam um rosto que, mesmo no repouso, era expressivo como poucos.

O primeiro impulso de Lori foi fechar a porta e correr dali. No entanto, ela não foi capaz de obedecer a si mesma. Algo mais forte do que a própria vontade a fez pensar em se aproximar para admirá-lo com mais atenção. E que mal haveria nisso, se ele dormia tão profundamente? "Vá, Lori. Coragem".

Fechando a porta atrás de si sem fazer o menor ruído, ela mordeu o lábio e, com o coração a ponto de lhe sair pela boca, avançou, pé ante pé, até a beirada da cama.

O rosto dele estava coberto pela sombra da barba por fazer, e foi somente o medo de despertá-lo que fez Lori controlar o impulso de lhe afagar a pele queimada de sol. Baixando o olhar, ela então, viu músculos perfeitos dando forma a um abdome reto e coberto por pêlos escuros, que se embrenhavam pelo baixo ventre até desaparecem sob a colcha vermelha.

Como que hipnotizada, ela estendeu a mão para o volume que a coberta ocultava.

Suspirando, Jack se mexeu.

Mesmo sem saber como, Lori conteve um grito e correu para a porta. horrorizada com a idéia de que pudesse ter sido pega naquela situação. Onde estava com a cabeça, santo Deus? Por precaução, deu uma espiada por sobre o ombro para se certificar de que o capitão realmente não acordara. Ao ver que ele conti- nuava num sono profundo, agora com o braço sobre o rosto, abriu a porta de mansinho, saiu para o corredor e tornou fechá-la com cuidado

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora