Wallingford fechou a porta com redobrado cuidado antes de encarar Jack.
- Por que você não matou Justin lá na praia?
- Porque, apesar do tamanho e da ferocidade do ódio que tenho por você, eu não seria capaz de matar meu irmão.
Levando as mãos às costas, o almirante aproximou-se um pouco mais dele.
- Foi esse o único motivo?
- Esse é o único motivo que pretendo declarar.
- E por que Lori quis proteger você?
- Como vou saber? Nunca compreendi o que se passa na cabeça das mulheres.
Wallingford ficou pensativo, depois deixou escapar um longo suspiro.
- Sei que não acredita em mim, Jack, mas... Lamento muito tudo o que aconteceu à sua mãe e a você.
- Tem razão, velho: eu não acredito em você.
- Mesmo assim, eu queria que soubesse que...- O almirante virou-se, pigarreando. - Que eu realmente amava sua mãe... e você.
- Eu sei - afirmou Jack, num esforço sobre-humano para controlar a raiva que o corrofa. -Foi por isso que nos abandonou.
- Eu tive de abandoná-los.
- Acha que todo este palavrório faz com que algo seja diferente do que foi? Ou está apenas tratando de aliviar um pouco da sua culpa?
Wallingford tornou a virar-se para enfrentá-lo com uma expressão atormentada e, pela primeira vez na vida, Jack viu algo mais do que prepotente autoconfiança nas feições agora envelhecidas pelo tempo.
- Não estou pedindo seu perdão, pois sei que mereço somente ódio de você. Ainda assim, gostaria de dizer que também me odeio pelo que aconteceu.
- Então por que nos deixou? E naquelas circunstâncias?
- Porque Charlotte descobriu que eu tinha outra mulher e outro filho. E ameaçou me abandonar, levando Adrian e Justin com ela.
- O quê? Você destruiu minha mãe e quase me destruiu por que ficou com medo das ameaças de sua esposa legítima? Ora, faça-me o favor!
- Tente compreender, Jack. Eu tive muito medo. Charlotte poderia me arruinar.
- E por isso você nos arruinou.
- Precisei fazer o que fiz. Se Margaret continuasse na Inglaterra, mais cedo ou mais tarde eu acabaria indo bater à porta dela. A única solução que me ocorreu foi levá-la para um lugar ao qual eu não pudesse retornar.
- Acho que entendi: você nos levou para o inferno e nos deixou lá porque era e sempre será um bastardo maldito e covarde. - Jack agarrou-o pela gola do elegante uniforme. - Bem, não me custa nada mandá-lo para o inferno agora, assim você verá como são as coisas por lá.
- Não é preciso que me mande para o inferno - retrucou o almirante, lutando contra as mãos do filho. - É lá que tenho vivido todos os dias da minha vida. Não há uma só hora do dia ou da noite em que eu não veja o rosto de Margaret ou o seu diante de mim.
Jack largou-o com um safanão, mas não desviou os olhos dos dele.
- Será esse o motivo pelo qual você me cobriu de pontapés quando lhe pedi uma moeda de ouro para comprar minha liberdade?
- Deus do céu, Jack, eu não queria ter feito aquilo! Acho que... que foi o susto de ter visto você ali, naquele lugar tão... Eu não fazia idéia de que você e sua mãe não estavam mais onde eu os tinha deixado... Não sei, juro que não sei o que deu em mim. Acho que reagi por impulso. E desespero.
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Coração Pirata
Roman d'amourCarolina do Sul - EUA, 1780 UM MESTRE DA SEDUÇÃO.... Jack nunca havia se deparado com um navio que não pudesse abordar ou com uma mulher que não se rendesse aos seus encontos... até se defrontar com Lorelei Dupree, que era tão gracio...