Capítulo 16 ( FINAL)

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Wallingford fechou a porta com redobrado cuidado antes de encarar Jack.

- Por que você não matou Justin lá na praia?

- Porque, apesar do tamanho e da ferocidade do ódio que tenho por você, eu não seria capaz de matar meu irmão.

   Levando as mãos às costas, o almirante aproximou-se um pouco mais dele.

- Foi esse o único motivo?

- Esse é o único motivo que pretendo declarar.

- E por que Lori quis proteger você?

- Como vou saber? Nunca compreendi o que se passa na cabeça das mulheres.

  Wallingford ficou pensativo, depois deixou escapar um longo suspiro.

- Sei que não acredita em mim, Jack, mas... Lamento muito tudo o que aconteceu à sua mãe e a você.

- Tem razão, velho: eu não acredito em você.

- Mesmo assim, eu queria que soubesse que...- O almirante virou-se, pigarreando. - Que eu realmente amava sua mãe... e você.

- Eu sei - afirmou Jack, num esforço sobre-humano para controlar a raiva que o corrofa. -Foi por isso que nos abandonou.

- Eu tive de abandoná-los.

- Acha que todo este palavrório faz com que algo seja diferente do que foi? Ou está apenas tratando de aliviar um pouco da sua culpa?

   Wallingford tornou a virar-se para enfrentá-lo com uma expressão atormentada e, pela primeira vez na vida, Jack viu algo mais do que prepotente autoconfiança nas feições agora envelhecidas pelo tempo.

- Não estou pedindo seu perdão, pois sei que mereço somente ódio de você. Ainda assim, gostaria de dizer que também me odeio pelo que aconteceu.

- Então por que nos deixou? E naquelas circunstâncias?

- Porque Charlotte descobriu que eu tinha outra mulher e outro filho. E ameaçou me abandonar, levando Adrian e Justin com ela.

- O quê? Você destruiu minha mãe e quase me destruiu por que ficou com medo das ameaças de sua esposa legítima? Ora, faça-me o favor!

- Tente compreender, Jack. Eu tive muito medo. Charlotte poderia me arruinar.

- E por isso você nos arruinou.

- Precisei fazer o que fiz. Se Margaret continuasse na Inglaterra, mais cedo ou mais tarde eu acabaria indo bater à porta dela. A única solução que me ocorreu foi levá-la para um lugar ao qual eu não pudesse retornar.

- Acho que entendi: você nos levou para o inferno e nos deixou lá porque era e sempre será um bastardo maldito e covarde. - Jack agarrou-o pela gola do elegante uniforme. - Bem, não me custa nada mandá-lo para o inferno agora, assim você verá como são as coisas por lá.

- Não é preciso que me mande para o inferno - retrucou o almirante, lutando contra as mãos do filho. - É lá que tenho vivido todos os dias da minha vida. Não há uma só hora do dia ou da noite em que eu não veja o rosto de Margaret ou o seu diante de mim.

  Jack largou-o com um safanão, mas não desviou os olhos dos dele.

- Será esse o motivo pelo qual você me cobriu de pontapés quando lhe pedi uma moeda de ouro para comprar minha liberdade?

- Deus do céu, Jack, eu não queria ter feito aquilo! Acho que... que foi o susto de ter visto você ali, naquele lugar tão... Eu não fazia idéia de que você e sua mãe não estavam mais onde eu os tinha deixado... Não sei, juro que não sei o que deu em mim. Acho que reagi por impulso. E desespero.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora