diresti addio

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   Acordei mais exausto do que me lembro de ter ido dormir. Minha vida magicamente não pararia com a sua morte e eu teria que enfrentar todos os compromissos com um sorriso no rosto.
Tomei um café, sem açúcar, como você gostava. Um banho gelado, fumei um cigarro.
Tudo estava sendo automático, eu estava programado para lidar, mesmo que não quisesse, eu precisava.
Passei a maior parte daquele dia observando a porta, esperando incansavelmente que você atravessasse por ela, me dizendo que tudo foi um engano, que jamais me deixaria sozinho no mundo mas o dia passou rápido e você jamais se fez presente.
Desmarquei todas as entrevistas, todos os encontros com futuros diretores e peguei o primeiro vôo para Crema.

Solidão. Eu me senti só. Mesmo que automaticamente já estejamos só no mundo, aquele momento marcou
o fim de tudo que eu poderia considerar bom e puro e eu me transformei em outro alguém.

Pauline me buscou, me deu um abraço apertado, não pude retribuir.
Meus pais me olharam com pena mas carregavam um agradecimento em suas faces por não ter sido com um filho deles.
Eles me rondaram a cada passo que dei na minha própria casa, esperando que eu me expressasse mas me mantive imóvel, estar aqui parecia mil vezes pior.
  Subi para meu quarto e me deitei, fitando o teto branco e velho.
- ei. - Pauline me chamou - você está bem?
- uhum.
- não importa o que eu diga, isso não vai passar, talvez com o tempo, talvez isso destrua a sua vida, eu não quero ser uma adulta clichê tentando te impedir de sofrer...mas estou aqui Timmy.
- você a encontrou? - ela confirmou com a cabeça, soltando uma lágrima, evitando que seus olhos me vissem - o que você encontrou? - falei rígido.
- Timmy, eu... não quero falar sobre isso!
- eu preciso saber, preciso saber que de alguma forma não foi ela, por favor Pauline!
- eu sinto muito mas o que eu vi foi cruel, foi desumano, ela odiava a si mesma, eu tive que dar todos os detalhes no depoimento e prometi pra mim mesma que jamais iria relembrar daquela cena...
- ela não deixou nenhum bilhete?  - minha irmã negou - isso não faz sentido, ela teria se despedido de mim, eu sei que teria.

  Me levantei, peguei o maço, uma jaqueta e as chaves do carro. Dirigi trêmulo até sua casa, tudo estava apagado e mórbido. Uma placa de vende-se a entrada. Demorei tanto tempo para descer e me recordar de cada segundo nosso ali. Senti um calafrio, medo e agonia.
Entrei pela janela dos fundos, a casa estava exatamente como da última vez que estive aqui, um pouco mais bagunçada e gelada. Subi lentamente as escadas, me praguejando por estar ali, por você não estar ali.
  A sua porta estava semiaberta, seus lençóis jogados no chão e eu desabei quando vi que a corda ainda estava ali, acima da cadeira. No carpete uma mancha escura de sangue. A banheira estava cheia, o piso molhado. Me sentei na sua cama, me aconcheguei no cheiro do seu travesseiro e meu peito se tornou um buraco.
Eu adormeci e eu sonhei com você, que caminhava até mim num campo florido e de repente ia afundando numa lama escura, com os olhos desesperados, me esperando.
Acordei assustado, com o sol queimando meu rosto, caminhei até a penteadeira onde havia uma foto sua tirada por uma polaroide e a segurei contra meu peito, como se isso a trouxesse de volta.

Um barulho estrondoso veio do andar de baixo e esbarrei na penteadeira, derrubando um pacote cheio de cartas. Meus olhos transbordaram e meus pulmões se encheram de ar.
- eu sabia que se despediria - falei para mim mesmo.

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