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Dias se passaram depois da festa, o trabalho me acumulava todo o tempo, o que era bom porque fazia com que eu não pensasse em tudo que aconteceu.
Pauline me liga algumas vezes ao dia, ela tenta ser presente e isso me deixa contente.

Eu finalmente entendi o porque de estar aqui, eu precisava de um tempo para mim, eu necessitava me conhecer porque isso facilitaria os bloqueios internos, eu poderia me ajudar.

Finalmente o final de semana havia começado, eu poderia não ter preocupações com a empresa, papéis, homens barbudos cobrando retornos e afins.

Antes da comemoração natalina, a maioria das pessoas da cidade se reúnem na praça principal para festejar como um grupo, o que talvez me ajude no meu livro.
Talvez fatos me ajudem a desconcentrar do inimaginável, bater na tecla da criação as vezes resulta na completa abstinência de conteúdo.
Eu precisava ser flexível, como um bom autor deve ser.

O frio estava agradável, coloquei um casaco azul, calça preta pra não desfocar do quanto aquele tom de azul era incrível, galochas, deixei os cabelos soltos e por fim minha boina totalmente francesa. Minhas olheiras estavam quase invisíveis, minhas bochechas rosadas, eu voltava a ter cor, eu me sentia iluminada.
Estava começando a anoitecer quando cheguei ao centro.
Milhares de pequenas lâmpadas iluminavam as lojas, todos estavam alegres, em conjunto. A fonte congelada estava enfeitada com decorações vermelhas e verde.
Os bancos a volta ocupavam casais de todas as idades, apaixonados, emanando chamas de carinho.
Eu me sentia bem quando estava cercada de pessoas aparentemente felizes e aquele lugar aqueceu meu coração de uma maneira gratificante.
Caminhei até a ponte, de lá as pessoas pareciam pequenas, era como um drive-in para mim mas a sensação foi imensurável.
Me apoiei para observar o rio, que aos poucos, o que sobrava de água, ia curvando suas pequenas ondas, movido pela correnteza incansável.
- Ei - Pauline apareceu, juntamente com Sophia, Laurie e Timothée. - porque não avisou que viria? adoraríamos te buscar.
- eu decidi de última hora na verdade, tive um tempo livre e resolvi aproveitar.
- você podia ir para o luau com a gente depois daqui, o que acha? - Sophia propôs.
- eu não sei, eu preciso... eu - parei para pensar em uma desculpa mas eu não conseguia pensar direito quando ele estava a minha frente.
- não precisa pensar numa desculpa para se livrar da gente - Laurie comentou rindo.
- está tão visível na minha cara que eu adoraria dispensar o convite? - brinquei.
- sim - Pauline segurou meus ombros - você vai e está decidido, te levo para casa depois. - agora eu preciso encontrar mais algumas pessoas e te encontro aqui depois?
- claro, estarei aqui!
- Timothée fica aqui com ela para garantir que ela não suma da gente - o casal estranho soltou uma risada mais estranha ainda e os três sumiram da minha vista.
- desculpa não ter te mandado mensagem depois...
- tudo bem - o interrompi - não tem porque falar sobre isso, não vai acontecer de novo.
Ele parecia ofendido mas se manteve em silêncio, talvez ele realmente respeitasse minha decisão ou talvez mas só talvez entendesse minha posição sobre isso.
- pode me dar um cigarro?
Tirei o maço do bolso e acendi, passando para ele logo em seguida.
Apesar de tudo, ainda era confortável estar ao lado dele. Meu corpo não respondia aos meus comandos, tudo que ele fazia era em favor a ficar cada vez mais próximo de timothée. Eu não queria ser rude, de maneira alguma. Mas nós jamais poderíamos acontecer.
- eu pensei muito em você depois da festa.
- foi só uma crise, não precisa se apegar a isso, eu passo por aquilo a anos.
- não to falando da sua crise Nicole!
- existem milhões de garotas no mundo, eu sou amiga da sua irmã, já parou pra pensar que talvez ela seja a única amiga que eu tenho e você pode estragar tudo por fingir que sentiu alguma coisa por mim?
- eu não preciso fingir, eu não sou um covarde, principalmente quando se trata do que eu sinto.
Timothée estava sendo completamente egoísta.
Ele não entendia sobre minha imensidão.
Eu não sabia amar, eu era obcecada.
Eu não sabia sentir, era penetrado na minha corrente sanguínea.
Eu não sabia sofrer, eu dilacerava.
Eu não queria uma imensidão de coisas por ele porque no final o único coração partido seria o meu.
- você não entende. - falei tomando o cigarro de sua mão e ele se aproximou, me pressionando contra o corrimão, contra o seu corpo, contra o seu toque.
- me deixe entender.
Seus lábios estavam tão próximos aos meus, seus braços cercavam meu corpo, meu coração saltava ofegante, qualquer um poderia ouvir as batidas dele, descompassadas.
- você não pode simplesmente esquecer?
Ele só se afastou, assentiu com a cabeça e foi pra longe de mim. Eu queria que ele entendesse que naquele momento tudo que eu precisava era do seu beijo e quantas vezes mais eu precisaria?
O suficiente para precisar quando você partisse?

Pauline apareceu um tempo depois, cheia de bebida e maconha.
A trilha que percorremos era uma subida que dava para um campo plano, cercado de pinheiros, uma fogueira imensa iluminava todo o lugar e músicas de diferentes estilos soavam pelos ecos entre as árvores. Tudo era muito, muito bonito.
Todos ali eram super hospitaleiros e me receberam com muito afeto.
Não havia se passado uma hora e todos já estavam completamente bêbados, menos Timothée, ele falava com uma garota ruiva do outro lado da fogueira e eu confesso, eu senti uma pontada de "eu não sei o que" quando os vi.
- podemos dormir na sua casa? não quero que meus pais se preocupem comigo - Pauline perguntou rindo.
- sem problemas, eu vou procurar um banheiro, essa cerveja - levantei a lata.
- se demorar muito vou achar que um urso te comeu!
- tem ursos aqui?
- não.
  Fiz uma cara de interrogação e ela saiu cambaleando para Laurie. Entrei poucos metros da floresta e tudo era muito escuro e não que eu estivesse com medo mas eu estava assutada, e se eu me perdesse e tivesse que sobreviver de água congelada e grama?
Me deu um calafrio só de pensar.
- está tudo bem? - ouvi uma voz atrás de mim e automaticamente revidei com uma tentativa de soco.
- ah meu deus, Timothée! - me agachei a sua frente - me desculpa!
- você me acertou em cheio - ele ria sentado no chão.
- a culpa foi sua, se não tivesse me perseguindo nada disso teria acontecido.
- eu só vim porque Pauline pediu, ela achou que você iria ser atacada por ursos ou coisa do tipo.
- você sabe que não tem ursos aqui!
- okay, talvez tenha sido uma desculpa para me explicar com você.
- por favor, não recomece aquele assunto.
- eu só queria me desculpar, tudo bem você não gostar de mim ou do meu beijo e querer esquecer isso mas eu não consigo evitar.
- acho que sua garota está te procurando, você já pode ir! - olhei para a "festa" e a ruiva estava sozinha, onde eles estavam.
- ela não é minha garota e aliás, isso foi algum tipo de ciúme?
- não force um sentimento que jamais terei - me aproximei de seu rosto, eu estava realmente intrigada, me incomodava a falta da atenção dele sobre mim e eu resolvi arriscar, por puro ego, pelo simples sentimento de posse - já pode ir, Timothée.
Ele mantinha seus olhos em minha boca, o silêncio ali possibilitará que nossas respirações fossem o som mais alto. Me sentei em seu colo e segurei seus cabelos, selei rapidamente nossos lábios e suas mãos apertaram minha cintura com força. Desci meus beijos ao seu pescoço e senti seu corpo estremecer diante do meu.
- se você não vai - mordi seus lábios - eu vou.
Me levantei e ele me puxou de volta, segurando meu rosto, com uma cara de quem sabia jogar e assim o faria.
- isso não acaba aqui.
E foi ele quem saiu, me deixando ali, contaminando toda a floresta com minha paixão, suspirando a cada segundo.
Eu estava apaixonada, eu só não sabia se isso havia sido causado pelo beijo no telhado ou pela garota ruiva que se destacava aos seus olhos, onde eu queria ter pertencimento.

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