quello che mancava in me

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Acordei com as batidas da janela, o vento fez dela uma marionete e a jogava com toda a força contra o batente.
Certamente a temperatura havia caído ainda mais, o que dificultaria todos os meus compromissos por aqui. Resolvi que ligar para mama ajudaria no meu humor, era a primeira manhã sem seu "bom dia" exagerado e carregado de afeto.
- oi querida, você chegou bem?
- sim, foi tudo...tudo bem!
- Chris pediu para avisar que os gerentes adiaram a reunião devido as tempestades, as companhias áreas estão evitando vôos de longa duração então você terá um tempo para se acomodar.
- ótimo, realmente...eu preciso.
- Constantine está ai?
- sim, eu acho, bom, ontem ela estava e foi ótimo revê-la.
- estou com saudades filha.
- eu também mama, acredite, eu também.
- já ligou para Pauline? - ela perguntou.
- hm, não! talvez eu ligue mais tarde, tive umas ideias para o livro e preciso me concentrar.
- não precisa se isolar porque aparentemente está isolada, aproveite esses dias, coisas tão inimagináveis vêem com desculpas tão tolas.
- okay mãe, falo com você depois, amo você. - desliguei e corri para o primeiro andar, o correio tocou a campainha e meu coração palpitou na esperança de um mistério estar sobre minhas mãos, um motivo para voltar a escrever.
Corri com aquela caixa para a sala e destruí aquele pacote.
- Cartas? - falei incrédula para mim mesma.
A caixa era um bolo de cartas não respondidas que a empresa acumulou e foram devolvidas, foi decepcionante, é claro, ninguém num raio de 14 horas de vôo sabia que eu estaria ali então uma encomenda obviamente não seria para mim. E não era.
O dia passou tão rápido, talvez pela falta de percepção na claridade lá fora, eu tinha um pilha de papéis e nenhuma ideia.
- DROGA! - gritei soltando a caneta.
- Nicole? - Constantine entrou no quarto com uma xícara grande de café.
- o que se passa nessa cabecinha? - ela pôs um dedo na minha testa.
- meu livro...bom, era pra ser meu livro mas eu estou vazia de ideias, não sai nada, nem uma palavra... isso é frustrante.
- frustrante é uma jovem da sua idade estar com a cara enfiada na falta de palavras enquanto poderia estar vivendo seu livro  - ela me entregou o café - viva seu livro, depois o escreva, simples assim!
- sábias palavras minha amada mas estamos num inverno infernal, não tem nada menos inspirador.
- você certamente achará algo, você sempre acha.
Ela se retirou logo em seguida, ou ela estava enlouquecendo ou eu estava me precipitando demais sobre tudo.
Liguei para Pauline, deixei uma mensagem na caixa postal e me arrumei, eu precisava sair daquela casa.
O motorista me deixou num ponto estratégico do centro da cidade e disse que ali me esperaria, perto demais para nos reencontrarmos e longe demais para que ele não parecesse um guarda-costas.
Achei uma livraria próxima a uma praça, a neve parecia ter sido removida dos acentos pois era possível ver a umidade, comprei alguns livros, alguns maços na tabacaria em frente e segui para o mercado.
Tudo era muito pequeno, os corredores minúsculos, os atendentes carregavam no rosto um sorriso forçado e facilmente manipulável por qualquer atitude do cliente.
Comprei algumas garrafas de vinho e cerveja, revistas e uma tranca para a janela.
- são 48,00 euros senhora!
- pode ficar com o troco - entreguei-lhe o dinheiro e fui caminhando em direção ao carro, o motorista veio em minha direção para me ajudar com as sacolas - qual o seu nome senhor?
- pode me chamar de Larry, senhorita!
- ótimo, Larry, eu preciso ver uma coisa antes de irmos, se importa de esperar mais alguns segundos?
- sem problemas senhorita.
Acendi um cigarro e voltei a praça, me sentei naquele banco gelado de frente ao parquinho de crianças, tudo estava coberto pelo tapete branco que tornava tudo tão insaciável.
Me lembrei dos dias de sol em que aqui estive, risos de crianças por todos os lados, pais conversando sobre alguma coisa inaudível, vovós comprando pipoca doce, era como se eu pudesse sentir o cheiro, o calor, as gargalhadas, bem ali, a minha frente.
Isso me impressiona, a forma como nada será igual duas vezes, mesmo que aconteça no mesmo lugar, numa mesma hora, sob a mesma temperatura.
Não havia inspiração ali, apenas lembranças, apenas um passado inalcançável.
Fui direto para o quarto quando cheguei em casa, eu precisava de mim, um vinho, e entender o que tinha acontecido com toda aquela imaginação fértil.
Acendi um cigarro e me deitei no chão, o teto estava manchado, como era possível que algo manchasse o teto?
  A primeira garrafa de vinho se foi em um piscar de olhos, na medida que o álcool descia, minhas memórias afloraram e eu ri, ri da saudade que eu tive de não ter preocupações ou problemas, ri porque Charlie era loucamente apaixonado por Pauline e ela era minha melhor amiga, e por fim eu ri de desespero, eu estava perdida, sem propósito, sem sonhos, sem metas, eu me vi jogada num paralelo qualquer, existindo.
Meu telefone tocou e lutei para chegar até ele.
- mama agora não posso falar.
- MARGOT? - eu reconheceria aquela voz mesmo que se passassem mil anos.
- Pauli... ELIZABETH? - nos nomeamos quando crianças de princesa Elizabeth e princesa margot do regno dei fiori e ouvir aquilo me encheu de alegria, ela se lembrará então de todas as nossas promessas, talvez ainda fossemos o que éramos.
Talvez mas só talvez eu tivesse a sorte de ter alguém por toda a vida.
- me desculpa não ter atendido, eu estava num vôo.
- sem problemas, como você está?
- bem, bem e surpresa, você quase nunca liga.
- é, eu estou em Crema, queria te ver mas eu me lembrei que você foi pra França então, bom...
- eu cheguei pela manhã aqui no vilarejo, papai está doente então viemos todos nos reunir, até meu irmão vem dessa vez.
- sinto muito Pauline.
- ta tudo bem, ele vai ficar bem, ainda acho que foi um pretexto para que timothée voltasse para casa mas...
- se ele o quisesse em casa tão desesperadamente não teria o mandado para aquele colégio, não é?
- mais ou menos, meu irmão saiu de lá aos dezoito e nunca mais apareceu aqui, talvez isso o tenha deprimido dessa forma.
- apareça, se quiser, vai ser um prazer vê-la novamente.
- claro, como nos velhos tempos.
- como nos velhos tempo... até logo, Pauline.

Meu peito se apertou, como se algo ruim estivesse me esperando, na esquina, embaixo da cama, entre as cortinas, no porão ou na mancha no telhado.
Quem eu seria?
O que eu conhecia sobre mim?
Talvez tivesse tão pouco a aprender que não me faltava quaisquer informações.
Ou faltava?

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