Partito e crisi

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- olá? - falei tentando reconhecer aquelas pessoas.
- somos novos na vizinhança e gostaríamos de nós apresentar - a moça de cabelos loiros foi falando enquanto duas crianças com cara de quem não queria estar ali e um homem alto barbudo me encaravam - somos, Hannah, Jake, meu marido Cole e eu, Jessica.
- bem-vindos a crema - tentei sorrir.
- vamos querida, vai assustar a garota - o que supostamente se chamava Cole falou.
-  peço perdões, somos americanos, os costumes não se perdem - Jessica se defendeu mas sempre com classe entre os lábios.
- tudo bem, eu sou de Nova York, sinto não convida-los agora mas eu tenho um compromisso.
- não, tudo bem, nós só estamos de passagem, foi um prazer?
- Nicole, me chamo Nicole.
- até mais - o marido de Jéssica pronunciou enquanto se distanciavam e nesse momento a garotinha, Hannah, correu e acenou para que eu abaixasse.
- gosto do seu cabelo cor de rosa - sussurrou para mim.
- eu gosto dos teus dourados.
Ela sorriu e correu de encontro aos seus pais. Parecia tão fácil para ela sorrir, eu era uma desconhecida e ela juntou toda a sua coragem para me dar, de mão beijada, um elogio sincero. Era fácil uma garota gostar de rosa mas era difícil uma garota loira gostar de cabelo rosa. Aquilo de alguma maneira me incentivou, a tão temida atitude que eu tinha que tomar e retomar o controle de tudo.
Passei a tarde conversando com minha mãe, seus conselhos sempre vinham na hora certa, como se ela adivinhasse o que eu precisava naquele momento.
  - faça uma festa - falou - conheça gente nova, vai te fazer bem.
- porque você simplesmente não é uma mãe que surtaria com uma festa na sua ausência?
- primeiramente você é adulta e eu já tive a sua idade e eu sempre estava chapada.
- MÃE!
- não te mandei apenas para negócios querida, sei que precisava de um tempo então aproveite isso.
Liguei de imediato para Pauline quando encerramos nossa chamada e combinamos a tal festa.
Porque toda história tem que ter uma festa?
Porque geralmente é nelas que toda a merda acontece.
Eu não conhecia ninguém além daquela família então toda a parte social ficou para a minha amiga. Tentei organizar o máximo que pude pela casa e tranquei os quartos de mama e Charlie, definitivamente eu não queria alguém bêbado transando ali.
Assim que me dei conta do que estava fazendo fui tomar um banho. Fiz uma maquiagem leve mas marcante, um vestido estilo vovó anos 70, uma jaqueta por cima e eu estava pronta para viver um inferno dentro da minha própria casa.
Já eram quase nove da noite e ninguém havia chegado, liguei o som e tocava Monat Doma e deus, eu adorava essa música.
Eu rodopiava pela sala, fazendo movimentos estranhos e fingindo tocar instrumentos inexistentes.
- uau, isso é que é recepção, estou - ouvi uma voz atrás de mim e me virei - impressionado.
- Timothée! o que você está...fazendo aqui?
- achei que eu estivesse convidado?
- é claro, você está! onde está Pauline?
- foi buscar a Sophie e o Laurie.
- quer algo para beber?
- o de sempre!
- de sempre?
- whisky... - meu coração gelou, não havia sido um sonho? - é o que sempre peço nos bares.
- graças a deus - bufei  e ele fez uma cara de quem não estava entendendo absolutamente nada. - quem sãos essas pessoas que ela foi buscar?
- é um casal estranho, Pauline conheceu eles a não muito tempo.
As pessoas então começaram a chegar, gente simpática e educada, claro, casos e casos mas a maioria eu me dei super bem. Ainda desacredito de que tenha conversado com tantas pessoas em apenas uma noite mas realmente aconteceu. O casal estranho era realmente estranho, se isso te deu uma pontada de curiosidade. A menina tinha cabelos picotados e usava correntes em excesso, o garoto Laurie parece um vampiro mas era muito bonito, os dois eram na verdade.
Era estranho olhar aquela multidão de pessoas que sequer me conheciam mas foi confortável saber que quando eu quisesse, poderia dar uma festa.
Segui o corredor para o banheiro, eu chamaria de corredor do sexo, eram inúmeros seres humanos encima uns dos outros, parecia uma guerra, todos a procura de um espaço para adentrar os corpos que estavam a sua volta, foi difícil mas entrar naquele banheiro me deu um alívio, ou teria que dar, afinal quando me virei eu me senti dentro da própria orgia. Pauline beijava Laurie enquanto Sophia a beijava por trás, colocando sua mão dentro de suas roupas, foi repugnante pra mim, não que ela não estivesse no direito dela mas aquela era minha amiga de infância e tudo que eu sabia sobre ela era relacionado a inocência que conhecíamos.
Me retirei sem tentar fazer barulho, jamais veria meu banheiro da mesma forma depois da cena toda.
Subi para meu quarto, era muita informação para uma noite só.
- sã e salv... que diabos você está fazendo no meu quarto? - fui falando quando me deparei com timothée sentado na minha cama.
- me desculpa, era a única porta aberta e o banheiro estava ocupado e eu não estava me sentindo bem.
- quer um remédio?
- não, tudo bem! tenho problemas com multidão e pelo jeito você também.
- é tudo novo para mim, eu não sou muito familiarizada com...isso, não recebi muitos convites para festas na minha vida - fiz um gesto abrangente com as mãos.
- isso é impossível, eu tenho quase certeza que você é a garota popular que todo mundo quer na festa.
- ah claro, isso funciona para garotas bonitas!
- você é bonita Nicole!
Eu odiava seu olhar sobre mim porque todas as vezes que ele me olhava eu me sentia especial e esse é sempre o início de algo trágico porque no final você é especial no momento especial, não dura muito.
- porque você me olha desse...jeito? - perguntei.
- não sei, tem alguma coisa em você... estranha e nova para mim.
- primeiro você me elogia e depois me chama de estranha?
- não sei o que falar quando estou perto de você.
- deve ser porque só me viu uma vez e mal conversamos então não tem muito o que falar. - caminhei até a janela e atravessei para o telhado, era plano em algumas partes e dava para se acomodar, ele me seguiu, escorregando algumas vezes mas chegou lá.
- como eram os verões com eles? - aquela pergunta revirou meu estômago.
- bons, aconchegantes, eles me deram uma infância digna de ser lembrada.
- vai ficar até quando aqui?
- não sei, estou atrasada uns dias com o trabalho mas assim que terminar eu volto para casa e você?
- depois do ano novo tenho alguns projetos para terminar então, breve.
Eu não tinha muito o que falar, ele era um estranho para mim mas foi bom estar ali vendo a noite gelada com ele ao meu lado, eu podia sentir seu perfume misturado com o cheiro do cigarro que ele dividia comigo, as vezes nossos olhos se encontravam e Timothée sorria provavelmente disfarçando a cara de idiota que eu ficava quando olhava para ele.
- gostei de te conhecer.
- também gostei de te conhecer garoto ausente dos verões - me levantei e minhas pernas falharam, escorreguei naquela neve e ele me puxou de volta, e lá estava eu, parada em frente ao seu corpo, sentindo sua respiração ofegante em meu rosto, por que isso tinha que acontecer?
Ele me beijou, eu não pude não retribuir, eu já não tinha mais o controle sobre isso e eu ansiava por mais e mais. Seu beijo era carregado de afeto, suas mãos tocavam meus cabelos e as vezes deslizavam sob minhas bochechas, foi o verão no meio daquele inverno, eu juro que minha perna quase se levantou como naqueles filmes clichês românticos.
- me desculpa. - falei.
- eu não...droga! me desculpe - ele riu - não sei o que deu em mim.
  Eu não me sentia culpada, não totalmente mas tudo que eu menos precisava era me apaixonar por alguém agora, com tantas problemas me sondando.
Acendi um cigarro e entrei para o quarto, me sentei na cama e fitei o chão. O que eu estava pensando? nem eu sabia mas eu estava com tanto medo que minhas pernas balançavam sem parar, minhas mãos tremiam, um frio crescia dentro de mim.
- ei, você está bem? - Timothée agachou em minha frente mas eu não conseguia responder, minha voz não saia, havia um nó na minha garganta e por deus, eu só queria que ele fosse para longe porque eu não queria assusta-lo. Eu não queria que aquela fosse a última lembrança dele sobre mim mas em vez de correr dali ele me pegou no colo e me levou pro banheiro, ligou o chuveiro e me pôs na banheira, junto com ele, minhas costas apoiadas em seu peito. A medida que a água ia caindo, meu corpo deixava de estar rígido, eu de longe, ouvia sua voz cantarolando alguma coisa próximo a minha nuca e aquela foi certamente a sensação mais próxima de pertencimento. Pouco a pouco meu corpo ia esquentando, eu já não ligava mais para as roupas molhadas, eu só conseguia sentir um conforto. Seus braços me seguraram assim que deixei de tremer e ele me abraçou, eu não queria ter gostado daquela sensação mas eu amei e isso acabou com a minha vida.

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