XV - Capítulo Quinze

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Kamila

Como caralho eu vou começar?

Como eu poderia? A culpa é totalmente minha e do meu estresse.

Como eu poderia começar o dia de hoje, e começar a me desculpar com Iza?

O pior prelúdio do que me aguardava hoje foi acordar com dor de cabeça depois da noite de ontem.

É inacreditável o tanto de merda que eu consegui fazer num único dia.

Não consegui organizar os pensamentos na minha cabeça enquanto procrastinava na minha cama olhando o teto. A verdade é que eu não queria levantar, não queria viver esse dia e encarar todas as consequências que a minha sequência de erros estúpidos causou. Eu não queria encarar minha família, quando me perguntassem sobre o vídeo, eu não quero encarar Letícia e pensar em toda a amizade que perdemos por uma desavença e definitivamente não queria ver Iza, porque de todas as situações essa era que mais me causava dor, e vontade de permanecer na cama.

E era exatamente por isso que eu precisava levantar. Pensei que, se eu ao menos tivesse coragem de levantar da minha cama e arruma-la, talvez eu fosse capaz de enfrentar o que quer que seja que esse dia me destinava. E foi isso que eu fiz. Pequenos atos de coragem que contribuem para a mobilidade da vida.

Coragem era a palavra.

Eu abri a porta do meu quarto, e da cozinha, eu escutei, todos pararam de falar.

Caminhei pra lá na intenção de pegar um remédio pra dor de cabeça e já fui abordada pela minha avó. Ela não parecia chateada, nem me exigiu alguma explicação para o vídeo, mas estava preocupada comigo. Ela perguntou se estava tudo bem, e questionou as motivações para aquilo. Todos na cozinha ouviram a minha explicação pra o vídeo, e eu deixei claro que não era essa a minha intenção, e me desculpei por colocá-los numa perigosa situação de exposição. Eu realmente sentia muito.

Lívia me entendeu, mas a aquela altura ela já estava ciente do meu desentendimento com as meninas, e me repreendeu nesse ponto. O clima era muito pesado.

Minha mãe me abraçou e me disse que ia ficar tudo bem, e quando terminei de merendar eu recebi uma mensagem que me aliviou. Era Marcelo, ele perguntava se eu não queira acompanhá-lo na caminhada até a escola. Sim, eu queria, queria mais era fugir das minhas primas, então o caminho foi agradável, e mais curto, quando eu só queria que demorasse.

Eu entrei no pátio e ia direto para a minha sala, quando alguém segurou me braço e me impediu. Era Izadora, e as outras meninas estavam com ela, e todas me encaravam, Izadora e Beatriz com pena, Letícia e Iza com um tipo de rancor.

Era demais pra mim, e eu quase chorei parada no meio do pátio, porque de todos os olhares eu reconhecia decepção. Decepção por descumprir, mesmo que acidentalmente a minha promessa.

- Kah, - começou Izadora, colocando a mão no meu ombro - você precisa vir com a gente.

Eu não disse nada, só as acompanhei até um lugar vazio atrás de uma sala de aula. Esperava um sermão, mas o que veio a seguir foi bem diferente.

- Kamila nós sabemos que o que aconteceu a respeito do vídeo não foi culpa sua... Bom, não foi em partes, na verdade eu desconfiaria se fosse você, quando percebi Paulo preparar a câmera.

Levei um tempo para processar o que ela disse.

- Espera, o quê?!

- Paulo, você sabe que foi ele, não sabe. O canal que publicou o vídeo chamava HistóriaAqui.

Ela disse como se fosse óbvio. E era, porque eu não me atentei a olhar.

- Eu... Eu, não tinha associado ainda...

O Dono do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora