X - Capítulo Dez

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*este capítulo não está revisado*

Kamila

Que merda eu fiz?

O céu escureceu tão rapidamente quanto nasceu o meu desespero.

Eu caminhei por várias vielas até me distânciar o máximo possível da minha casa.

No momento pareceu a melhor ideia do mundo, me distânciar.

Enquanto eu andava pelas ruas emprençadas e os comércios abundantes, o prazer de ir embora tomava conta de mim. Eu realmente tirei muita coragem de dentro de mim para seguir caminho, e enquanto andava a única vontade que tinha era de ir cada vez mais longe, fugir daquilo tudo me parecia muito melhor do que continuar suportando.

Fugir.

Fugir era ótimo, era fantástico naquele momento, e eu senti que iria muito longe.

Mas logo começou a escurecer, e uma mulher sozinha na rua chorando não podia parecer mais indefesa. Eu era uma presa fácil pra qualquer um.

Foi nesse momento que a adrenalina passou e eu senti medo. Medo de estar na rua sozinha.

Foi nesse momento que eu pensei em voltar, e foi no momento seguinte que eu comparei mentalmente o se o meu medo era tão grande quanto a minha covardia de encarar a realidade.

Não, acho que não.

Talvez eu pudesse ficar na casa da minha tia Marta, é eu podia.

Eu tinha resolvido, eu ficaria lá até as coisas melhorarem na minha casa, aí eu voltaria.

Estava resolvido, agora era só chegar à casa dela. Virei pra trás para voltar o caminho que tinha percorrido.

Merda.

Se existir uma situação mais verossímil para o significado de DESESPERO eu desconhecia.

No momento em que eu percebi que não reconhecia a rua, que não sabia onde virei, o momento em que eu percebi que estava perdida, foi a concepção mais acertada de desespero.

Meu coração acelerou de uma vez, e se não fosse pela tênue esperança que se nutre nesses momentos, a esperança de que virando essa esquina ou na próxima você encontrará sua casa, essa fraca ideia que enche efetivamente o coração de uma pessoa perdida, se não fosse por ela, eu teria deitado e chorado, tamanho era o meu desespero.

Eu tomei inconscientemente a decisão de seguir o caminho contrário ao que fazia, voltando em linha reta por não ter nenhuma lembrança de ter dado curvas, o que me fazia as vezes entrar em becos sem saída, e as vezes ir parar em ruas com milhares de casas conjugadas, com pichações e tijolos aparentes, o que é praticamente TODA rua da comunidade.

Eu estava fodidamente perdida.

Literalmente.

Quando se chega a essa segunda fase do desespero, a opção por não falar com estranhos é desconsiderada. Nesse momento você procura a pessoa aparentemente menos suspeita pra pedir informação.

E a prova de que eu estava longe de casa, era o fato de só conseguir ouvir o barulho do funk muito distante, ao passo que da minha casa, é possível ouvir o baile até debaixo da terra.

A prova de que eu estava realmente longe de casa era o fato de a rua estar praticamente deserta, a não ser por crianças brincando, e nos prédios mais altos, algumas mulheres, provavelmente prostitutas, nas janelas. Ao passo em que na minha rua, é praticamente impossível virar a esquina uma hora dessas, tamanha a multidão de gente.

O Dono do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora