VI - Capítulo seis

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Kamila

- Merda.

Virei mais uma vez na cama.

No final daquele dia tão conturbado, em que eu cheguei no Rio de Janeiro, conheci minha nova casa, meus parentes e um homem que me deixou confusa de um jeito esquisito sem explicação nenhuma, eu estava me revirando na cama tentando dormir.

Eu estava muito, muito cansada, mas o sono simplesmente não chegava.

- Merda.

Encarei o teto que se iluminava momentaneamente sempre que o farol de uma moto incandeava na janela.

Não me leve a mal, eu estava feliz. Feliz por ter uma casa, feliz por estar segura e protegida e bem longe do meu pai, feliz por ter uma família tão acolhedora e por me sentir tão em casa como nunca antes.

Eu estava feliz.

Só que eu também estava com medo, ou era o que parecia.

Minha vida mudou tanto em tão pouco tempo que me assustava.

E eu não acho que estava pronta pra viver tudo isso agora. Mas eu também acho que é essa mesma experiência que vai me preparar.

Eu tenho muita consciência que ainda estou evoluindo, que ainda preciso melhorar como pessoa, mas tenho só dezessete - quase dezoito - , e ainda tenho tempo.

E agora, eu estava me sentindo minúscula, e incapaz de lidar com tudo isso.

Eu não queira chorar, eu não ia. Eu não estava sofrendo, só estava assustada.

Eu não estava triste, mas eu queria um consolo.

Olhando pra minha mãe que dormia sozinha na cama de casal do quarto, um lampejo de esperança passou por mim.

Ela estava lá, e ela era o meu mundo, e eu era o dela.

E ela era o meu consolo.

Então me levando bem devagar, com todo o cuidado, eu desci do meu colchão de cima na cama beliche, na ponta dos pés pra não acordar o meu irmão que dormia embaixo.

Me aproximei da cama da minha mãe e me deitei junto a ela, num abraço materno que imediatamente me confortou.
Eu me senti consolada, me senti como uma criança que nos braços da mãe se protege do mundo.

Ela imediatamente percebeu a minha presença e quando ia me abraçar, notou que não era o seu filho pequeno que vinha pedir arrego em seu abraço, e sim eu.

Nesse momento o abraço ficou mais forte e eu senti que ela compreendeu tudo, o meu medo, minha insegura, tudo.

E ficamos as duas abraçadas, num consolo mútuo.

Não demorou muito pra que meu irmão se juntasse a nós, tentando entrar no meio do abraço e se aconchegando entre nós duas.

Nós até podíamos nos adaptar a vida, com certeza seria um vida melhor, nós estávamos empolgados com a mudança; mas naquele momento, nós deixamos tudo isso de lado.

E de repente éramos só nós três naquela cama com nada na cabeça além da ideia de adormecer.

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Alguns dias se passaram e eu ia finalmente começar a escola. Eu estava um pouco atrasada mas nada que não fosse compensado com as aulas particulares que Lívia me dava no tempo livre.

Nada que Izadora e Iza já não me adiantassem.

Então academicamente eu estava pronta, mas emocionalmente eu não sentia o mesmo.

O Dono do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora