XVIII - Capítulo dezoito

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Roberto

Kamila é impossível.

Eu não conseguia começar a acreditar em tudo o que tinha acontecido.

No dia da troca de tiros, eu não era burro, eu sabia que a polícia podia estar planejando alguma invasão iminente, mas subestimei demais a facilidade com que entrariam. E isso me custou um homem.

Vidigal. Ele estava comigo a quase dez anos. Em um momento difícil do meu passado eu o conheci, e ele estava comigo desde então.

Quando vi meu homem deitado sem vida senti uma fisgada no peito e meu corpo inteiro ficou dormente.

Era mais Silva que ia embora.

Depois disso a minha mente colapsou. Eu  sabia que aquele era o final de muitos ciclos. Eu sabia que não podia tê-la.

Só de pensar onde eu estava no momento em que tudo aconteceu, só de pensar no que poderia ter acontecido com ela.

Foi nesse momento que eu desisti.

Me considero um homem insistente, mas eu sei a hora de parar.

Eu vi no olhar dela, naquela noite, o quanto eu era errado. E eu sabia que ela me evitava a todo custo, sabia que tentava manter distância de mim.

Percebi isso no dia em que Kamila acompanhou sua avó numa conferência comigo. Quando ela recusou minhas propostas, quando foi embora sem olhar pra trás. Na época eu não admiti, mas isso abalou qualquer expectativa que eu tivesse.

E a partir daí, a única sensação que eu tive foi angústia. Queria ela perto como nunca me lembrava de querer alguém. E queria ela bem longe de mim, o quanto mais distante possível. Queria ela bem.

E por algumas semanas eu segurei essa aflição, eu mantive distância e estava indo tudo bem, mesmo que eu estivesse ficando louco.

Ela é a mulher mais linda que eu já vi, mas o mais deslumbrante nela é que isso não é nem de longe a sua melhor virtude.

Ela não precisa de nada pra ficar perfeita, e o cheiro é tão gostoso que eu sei exatamente quando ela está num ambiente. Ela tem um corpo que me deixa louco e uma boca que me alucina.

E então, como se tudo isso não bastasse, ela é divertida e engraçada sem querer. E é tão inteligente e perspicaz. E foi isso que me deixou completamente rendido.

Eu sei que sou egoísta, mas eu tinha que vê-la de novo. Isso poderia me custar tanto... e mesmo assim eu o fiz.

Não gosto de pensar em mim como uma pessoa inconsequente, porque eu não sou. Penso tudo, absolutamente tudo, antes de fazer. E então penso de novo.

Mas eu não me sentia assim em relação a ela. Na verdade, quando eu tô com ela fico tão estasiado que não consigo me importar com mais nada.

E isso não é boa coisa pra alguém como eu. Distração. Era assim que eu pensava nela no começo.

Agora, eu dava tudo de mim pra ter um único momento com Kamila.

E quando eu a vi na noite da troca de tiros... enquanto esperava por ela naquela casa iluminada eu procurei manter todo o meu controle e a postura ereta, mas o meu coração errou uma batida quando ela surgiu naquele vestidinho azul e com aquela cara de confusão, sempre tão linda.

E então nós conversamos, mas do que  já havíamos feito antes, e eu não podia deixar de sorrir.

E então o inferno começou, e tudo que eu conseguia pensar era nela, na situação em que poderia estar. Ela já deveria estar em casa a essa hora, onde estaria segura. Mas graças a mim, não estava.

O Dono do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora